sexta-feira, 24 de novembro de 2017

Alemanha: social-democratas recuam e aceitam negociar coalizão

Com O Globo e agências



Chanceler Alemã Angela Merkel - AURORE BELOT / AFP


BERLIM — O Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD), liderado pelo ex-presidente do Parlamento Europeu Martin Schulz, voltou atrás e aceitou se sentar à mesa de negociação com os conservadores da União Democrata Cristã (CDU) e da União Social Cristã (CSU) — partidos da aliança governista de Angela Merkel — na tentativa de formar um governo de coalizão. O recuo dos ex-aliados da chanceler federal deverá aliviar a crise instalada nos últimos dias, quando os partidos de maior representação no Parlamento oficializaram o fracaso das conversas para integrar uma maioria legislativa. Após semanas de resistência, o SPD, sob forte pressão, anunciou que participaria dos esforços para evitar novas eleições, que poderiam retirar de Merkel a sua quarta vitória para governar a Alemanha, pelo seu secretário-geral:

— O SPD não dirá não para discussões — disse Hubertus Heil à imprensa alemã nesta sexta-feira.

O secretário-geral não divulgou, porém, com quais partidos os sociais-democratas estão dispostos a fazer negociações, nem se eles têm como real objetivo integrar parte de um governo de coalizão ou simplesmente fornecer apoio parlamentar a um governo de minoria liderado por Merkel. A chanceler já indicou, no entanto, que não deseja governar em minoria.

A decisão do SPD, que se estabeleceu como oposição após ter seu pior resultado eleitoral do período pós-guerra na votação de 24 de setembro, torna menos provável que uma nova eleição seja necessária, evitando mais transtornos para a potência econômica e política da Europa que, ao longo de anos, construiu sua reputação de nação estável politicamente.


Presidente alemão Frank-Walter Steinmeier durante reunião com Martin Schulz, líder do partido social-democrata em Berlim - Jesco Denzel / AP


Schulz recentemente havia descartado a possibilidade de fazer parte do governo de coalizão, mas suavizou sua posição antes de uma reunião com o presidente alemão Frank-Walter Steinmeier, que solicitou um acordo entre ospolíticos de diferentes partidos para assumirem sua responsabilidade de governar.

— O SPD tem plena consciência das suas reponsabilidades na difícil situação atual. Estou seguro de que encontraremos uma boa solução para nosso país nos próximos dias e semanas — afirmou Schulz.

Após o fracasso de quatro semanas de negociação com os ambientalistas dos Verdes e os Democratas Livres da centro-direita, a responsabilidade de resolver a situação recai para os partidos conservadores. Caso ninguém esteja disposto a ceder, as opções são manter um governo de minoria, algo inédito na política alemã, ou a convocação de um novo pleito.

Outra figura-chave na crise política alemã, Horst Seehofer, líder da CSU, partido que compõem o bloco conservador liderado por Merkel, afirmou que deve se reunir com os principais dirigentes da legenda ainda hoje. A expectativa é de que o grupo mude sua conduta diante das negociações.

O partido de Seehofer perdeu uma boa porcentagem de votos para a extrema-direita representada pela legenda Alternativa para a Alemanha (Afd) nas eleições nacionais. A CSU quer evitar um retrocesso semelhante nas eleições bávaras no próximo ano e, portanto, pressiona a liderança para a possibilidade de abrir caminho a um rival mais jovem.

O Partido Democratas Livres (FDP), legenda liberal e pró-empresariado, retirou-se das conversas no ínicio dessa semana, justificando que não há meio termo possível para se aliar aos conservadores da CDU e da CSU e aos ambientalistas dos Verdes.

Enquanto isso, a chanceler federal, respaldada pelo seu partido, já mostrou-se resistente sobre um governo minoritário. Sem maioria legislativa, seus aliados teriam que buscar apoio para cada votação de peso durante os próximos quatro anos. A repórteres, no fim de semana, ela descartou que renunciará ao cargo, mas fez um apelo para que o SPD reconsiderasse sua resistência em participar da coalizão governista.

— Sou muito cética sobre um governo de minoria. Espero que eles considerem intensamente se deveriam assumir sua responsabilidade de governar — disse Merkel, de 63 anos, que governa desde 2005, à rede ZDF. — Se novas eleições acontecerem, teremos que aceitar isso. Não tenho medo de nada. Estou pronta para servir mais quatro anos como chanceler. É importante mandar um sinal de estabilidade para o país, para a Europa e para o mundo.