Denise Luna e Vinicius Neder, O Estado de S.Paulo
O presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES), Paulo Rabello de Castro, voltou a dizer nesta quinta-feira, 30, que não será possível para a instituição de fomento devolver antecipadamente os R$ 130 bilhões da dívida com o Tesouro Nacional. O pedido para a devolução de R$ 50 bilhões este ano, já devolvidos, e de R$ 130 bilhões, em 2018, foi formalizado pelo Ministério da Fazenda, abrindo uma disputa de Rabello com o restante da equipe econômica.
"Os R$ 130 bilhões não cabem, a não ser trancando o banco para novos desembolsos. Tão simples quanto isso, mas isso ninguém quer", afirmou Rabello, ao deixar almoço promovido pelo Instituto Aço Brasil (IABr) no Rio.
Segundo o executivo, não há data para o início da devolução de 2018. O ritmo de devoluções antecipadas dependerá da demanda por crédito. "Respeitado nosso caixa prudencial e a nossa vontade de desembolsar mais no ano que vem, o caixa do banco se organiza para devolver na hora que for mais útil", disse Rabello.
O presidente do BNDES afirmou que as consultas para novos empréstimos e as aprovações de novos financiamentos já começaram a se recuperar, sinalizando para a necessidade de desembolsos ao longo do próximo ano.
Por enquanto, os valores liberados atualmente seguem reagindo à demanda por empréstimos no fim de 2016 e início de 2017, por isso, seguem no fundo do poço. Assim como fez há duas semanas, Rabello voltou a estimar os desembolsos de 2017 em R$ 72 bilhões, voltando ao patamar de dez anos atrás.
Questionado sobre os efeitos das eleições nos investimentos, Rabello afirmou que não vê efeito de incerteza política sobre os investimentos. Lançado pré-candidato à Presidência da República pelo PSC, o presidente do BNDES evitou responder se será de fato candidato.
Inesperado. Paulo Rabello de Castro afirmou que o pedido de devolução antecipada da dívida da instituição de fomento com o Tesouro Nacional foi "antecipado e inesperado". "O que temos é uma obrigação de fazer uma devolução antecipada e imprevista", afirmou Rabello.
Ele disse que não há má vontade do BNDES em devolver os recursos, mas lembrou que os aportes foram feitos com previsão de pagamento até 2050, em algumas parcelas. O presidente do banco aproveitou para defender o uso dos aportes para dar corpo ao Programa de Sustentação de Investimentos (PSI), lançado na virada de 2008 para 2009.
"O PSI nos livrou de afundar junto com o resto da economia mundial", disse Rabello, completando que o programa foi bem concebido e teve participação do atual ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, à época presidente do Banco Central (BC), que "conduziu muito bem esse processo".
Rabello aproveitou para ironizar o pedido de devolução, dizendo que nunca assinou "um cheque tão grande", numa referência aos R$ 50 bilhões já devolvidos neste ano. Ainda ironizando, Rabello disse no discurso que acabou de ter a ideia de vender o prédio do BNDES, no Centro do Rio, para o China Development Bank (CDB).
"Do jeito que a coisa vai, a gente aumenta a capacidade de cumprir a regra de ouro", afirmou Rabello, para em seguida dizer que não admitiria isso na sua administração.
China. O presidente do BNDES afirmou ainda que, em cinco anos, o estoque de crédito da China na economia brasileira, a maioria destinado a projetos tocados por empresas chinesas, poderá superar o estoque de crédito da instituição de fomento brasileira. Segundo Rabello, o estoque de crédito chinês no Brasil estaria na casa de US$ 50 bilhões.
"Daqui a mais cinco anos, eles estão maiores do que BNDES apequenado", afirmou Rabello, em discurso durante almoço promovido pelo Instituto Aço Brasil (IABr) no Rio. Dirigindo-se a executivos do IABr, Rabello disse que se o setor siderúrgico já está preocupado com a concorrência do aço chinês, as coisas poderão piorar.