Na carta de despedia que enviou aos colegas da Procuradoria da República no último mês de março, Marcelo Miller enalteceu a gestão do ex-chefe. “Rodrigo Janot mudou para sempre —e a meu juízo para muito melhor— a fisionomia do MPF.” Expressou no texto seu “profundo agradecimento pela honra” de ter auxiliado o então procurador-geral no exercício de suas atribuições. Por baixo do pano, Miller já assessora também, desde o mês anterior, os delatores da JBS.
O teor da despedida de Miller não orna com o depoimento prestado por ele, nesta quarta-feira, na CPI da JBS. Inquirido sobre sua proximidade com Janot, o ex-agente duplo tomou distância. ''Há um bocado de mistificação e desinformação em torno da minha relação funcional com o doutor Rodrigo Janot. Eu achei graça quando vi no jornal dizerem que eu era braço direito dele. Eu nunca fui.'' Mais um pouco e o depoente talvez perguntasse: ''Janot?!? Por acaso é aquele magrinho altão?''
Vão reproduzidos abaixo dois parágrafos da carta de despedida de Miller para os membros da corporação. da Procuradoria. se despede da corporação:
Ainda a propósito de agradecimentos, deixo um registro de reconhecimento: com todo o respeito aos que o antecederam, Rodrigo Janot mudou para sempre – e a meu juízo para muito melhor – a fisionomia do MPF. Os avanços foram indiscutíveis, variados e significativos num espaço de tempo muito curto. Pode, claro, ter havido erros; mas tenho para mim que o tempo deixará claro que eles foram menores que os acertos. Ao Janot, ainda, meu profundo agradecimento pela honra e a experiência de ter podido prestar a ele um modestíssimo auxílio no exercício de suas atribuições como PGR.
Não farei falta aqui. A força do MPF está em sua expressão coletiva, que não sofre dano com minha partida. De meu lugar, a partir de agora mais acanhado, lá nas arquibancadas da cidadania, estarei sempre na torcida pelos acertos e os justos êxitos desta instituição que me custa muito, mas muito mesmo, não mais chamar de minha.''