Jaime Casal/El Pais | |
O advogado Rodrigo Tacla Durán, que trabalhou para a Odebrecht |
CAMILA MATTOSO
ANGELA BOLDRINI
Folha de São Paulo
ANGELA BOLDRINI
Folha de São Paulo
O advogado Rodrigo Tacla Durán afirmou que são falsos alguns dos documentos utilizados pela PGR (Procuradoria-Geral da República) na denúncia contra o presidente Michel Temer.
Durán disse à CPI da JBS ter em mãos uma perícia que mostra que os sistemas internos da Odebrecht foram adulterados antes de serem entregues para o Ministério Público.
O advogado trabalhou para a empresa de Marcelo Odebrecht e também para a UTC. Foi citado por executivos em delações premiadas.
Apontado como doleiro, ele afirma ter atuado somente como advogado e nega que tenha cometido crimes.
"A perícia comprova que os extratos do Meinl Bank são falsos. Comprovam também que o sistema Drousys da Odebrecht foi manipulado e adulterado, antes, durante e depois de ter sido bloqueado pelas autoridades da Suíça. Isso quer dizer que essas informações não se prestam como provas pra incriminar quem quer que seja, muito menos deputados, senadores e o presidente. A prova é nula", disse nesta quinta-feira (30).
O advogado é apontado pela Odebrecht como responsável especialmente por movimentar parte do dinheiro sujo da companhia no exterior.
DOCUMENTOS FRAUDADOS
Em entrevista à Folha em agosto, Durán já havia dito que a empreiteira tinha apresentado documentos fraudados para ocultar pagamentos ilegais feitos pela empresa nos últimos anos –fatos não relatados em delação.
Ele trabalhou para a Odebrecht de 2011 até 2016, quando deixou o Brasil.
O banco a que Durán se refere, o Meinl Bank –localizado em Antígua– , teve o controle comprado pela construtora para distribuição de propinas, conforme revelado posteriormente por executivos a procuradores.
Na denúncia contra o presidente Michel Temer, do crime de organização criminosa, o ex-procurador-geral da República Rodrigo Janot se baseou em pelo menos 15 fatos ainda em investigação.
Sobre a arrecadação de propina do grupo de Temer com a utilização da Petrobras, Janot cita um episódio ocorrido em 2010 e narrado por executivos do grupo Odebrecht. Segundo a delação, o valor pago ao PMDB foi de R$ 40 milhões em troca da aprovação de um projeto de segurança ambiental da empresa.
Os extratos desses pagamentos, que ocorreram em sua maioria fora do país, foram apresentados, mas ainda estão em apuração.
Antes mesmo de a Odebrecht citá-lo em delação, a Lava Jato já havia apontado Durán como um doleiro.
DELAÇÃO
Apesar de negar que tenha cometido crimes, Durán disse que chegou a discutir com o Ministério Público Federal sua participação no acordo de delação da Odebrecht, mas as tratativas fracassaram.
O advogado disse ter recusado as condições impostas, mas procuradores da Lava Jato o chamam de mentiroso.
Como mostrou a Folha, em agosto, Durán acusa o advogado trabalhista Carlos Zucolotto Junior, amigo e padrinho de casamento do juiz Sergio Moro, de intermediar negociações paralelas dele com a força-tarefa da Lava Jato.
As conversas de Zucolotto envolveriam abrandamento de pena e diminuição da multa que o ex-advogado da Odebrecht deveria pagar em um acordo de delação premiada.
O pagamento, segundo Durán, seria por meio de caixa dois.
À época, o juiz Sergio Moro saiu em defesa de Zucolotto e disse, por meio de nota, ser "lamentável que a palavra de um acusado foragido da Justiça brasileira seja utilizada para levantar suspeitas infundadas sobre a atuação da Justiça".
Durán apresentou à CPI da JBS uma perícia também feita na Espanha em fotos de correspondência que diz ter mantido com o advogado Carlos Zucolotto, do Paraná, pelo Wickr. O documento está sob sigilo.
À LA CARTE
Entre críticas que fez à postura do Ministério Público, Durán apelidou o formato de delação premiada que lhe foi proposta de "à la carte".
"Vou dar um exemplo do que aconteceu comigo. Quando [o ex-procurador Marcello] Miller esteve comigo, ele me deu uma lista de parlamentares, e me perguntou: "Quem o senhor conhece? que o senhor pode entregar?", contou à CPI, explicando o conceito de "à la carte'".
O advogado ainda falou que já foi orientado por Miller a gravar uma reunião que faria com executivos da Odebrecht.
O ex-procurador é um dos personagens principais da polêmica da delação da JBS, que provocou a suspensão de acordos de dois executivos, Joesley Batista e Ricardo Saud.
"Eu fui convocado por uma reunião na Odebrecht e quando comuniquei isso [aos procuradores], Marcello Miller sugeriu: 'Então vai lá e grava'. Neste momento o [procurador] Sérgio Bruno disse para eu escutar a reunião e contar pra eles".
Em depoimento à CPI nesta quarta (29), Miller disse que não deu nenhuma orientação para Joesley gravar o presidente Michel Temer.
Desde que saiu do Brasil, Durán, que tem dupla cidadania, está na Espanha em liberdade. O Brasil pediu sua extradição, mas a Espanha negou. Ele chegou a afirmar no depoimento que se o caso que existe contra si chegasse às cortes espanholas, "não prosperariam".