Decidido a guerrear com Geraldo Alckmin pelo posto de presidenciável do PSDB na sucessão de 2018, o prefeito tucano de Manaus, Arthur Virgílio Neto, veiculou o vídeo acima no Twitter. Na peça, ele “convoca” os militantes tucanos para lutar pelo direito de votar nas prévias que o partido cogita realizar. Fez isso porque receia que a ascensão de Alckmin ao comando da legenda transforme a disputa interna num “simulacro de prévia.”
Em entrevista ao blog, Virgílio disse ter sido comunidado sobre a intenção do PSDB de impor regras restritivas à participação dos seus filiados na prévia. Segundo ele, “75% do poder decisório estariam concentrados nas mãos de mil e poucas pessoas. São deputados, senadores, governadores, prefeitos, vereadores, os dignitários do partido.” Nesse modelo, disse Virgílio, “o voto de um dignitário tucano equivaleria a 17 mil votos dos filiados.”
Virgílio ironizou a proposta: “Equivaleria a reintroduzir no Brasil o voto censitário”, disse, referindo-se ao primeiro modelo de voto instituído no país. Só estavam autorizados a votar os donos de sobrenomes de famílias abastadas, com títulos nobiliárquicos ou donos de muitas propriedades. Assalariados, mulheres, índios, soldados e escravos eram proibidos de comparecer às urnas. “Aceitar uma coisa dessas seria o mesmo que aceitar a tese de que nós somos mesmo antipovo”, disse o rival de Alckmin. Vai abaixo a entrevista:
— Vai manter sua pré-candidatura presidencial e a disposição de participar de prévias no PSDB? Sim. Vou até o final. Quero disputar com Geraldo Alckmin numa prévia justa, na qual todos os filiados do partido —mais de 1,2 milhão— possam se manifestar. Defendo a realização de dez debates, em algumas das principais cidades do país. Cidades como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte, Porto Alegre, Salvador, Manaus, Belém… Pedi também que fosse uma prévia limitada a quem tem pelo menos um ano de militância. É para evitar o fenômeno da importação de tucanos, uma esperteza que dizem ter ocorrido na prévia que escolheu o João Doria como candidato a prefeito em São Paulo. Não se pode transformar o partido num motel, em que o sujeito vem, dá uma votadinha rápida e sai.
— O que achou da escolha de Alckmin para presidir o PSDB? Fiquei triste. Estou me sentindo mal. Vamos ter um presidente do partido que é candidato à Presidência da República. Eu disputarei prévias com ele. Pedi há meses para o partido me enviar as fichas dos filiados, com telefones, endereços e e-mails. Não mandaram. Pedi a definição de regras para o uso de recursos do Fundo Partidário. Não obtive. Agora, eu me pergunto: terei que pedir para o Geraldo Alckmin, presidente do partido, o material e os recursos que utilizarei na campanha para derrotá-lo nas prévias? É um contrassenso. O meu receio é que tenhamos um simulacro de prévia, da qual eu não participaria. Quero condições justas para competir.
— Alegou-se que Tasso Jereissati e Marconi Perillo abriram mão de disputar a presidência do partido em nome da unidade. O que achou desse discurso? Fiquei muito surpreso com essa ideia de que a pacificação do PSDB se dará por meio da ascensão à presidência do partido de um candidato à Presidência da República que precisa passar por uma prévia. Como pessoa física, o Geraldo Alckmin disputa. Como pessoa jurídica, ele assina pelo partido. Como pode unir?
— Já foram definidas as regras das prévias? O partido apresentou para mim uma proposta de conciliação. Disseram: ‘Aceitamos o que você quer. Prévias com todos os filiados do PSDB. Mas 75% do poder decisório estariam concentrados nas mãos de mil e poucas pessoas.’ São deputados, senadores, governadores, prefeitos, vereadores, os dignitários do partido. O voto de um dignitário desses —e aqui falo sem nenhuma ironia— equivaleria a 17 mil votos dos filiados.
— O que achou da proposta? Eu respondi que isso equivaleria a reintroduzir no Brasil o voto censitário. Não sou dono de propriedades rurais nem de escravos. Não tenho as prerrogativas que me fariam eleitor nessa República censitária. Minha mulher está louca para votar nas prévias. E no sistema censitário, a mulher não votava. Para chegar a essa fórmula, o partido fez lá uma métrica qualquer. E nessa métrica, o voto do militante, o voto do povo, não significa nada para o partido. Aceitar uma coisa dessas seria o mesmo que aceitar a tese de que nós somos mesmo antipovo. Já perdemos quatro eleições presidenciais. Será que queremos perder mais uma? Não me preocupam os votos dos presidentes de diretórios. Estou preocupado com os militantes, que nunca foram chamados a se manifestar. Eles servem para gritar na rua, carregar bandeiras e votar no dia da eleição. Mas não servem para decidir quem é o melhor para representar o partido numa disputa à Presidência da República. É absurdo.
— Li no seu Twitter que o senhor ficou enojado com a reunião realizada no Palácio dos Bandeirantes, na noite de segunda-feira, entre Alckmin, Fernando Henrique, Tasso e Marconi. Por quê? Se tivesse sabido da notícia de outro jeito, talvez tivesse usado palavra mais branda: decepcionado, desapontado… Mas na hora saiu enojado. Dizem no partido que sou uma pessoa imprevisível. Ao contrário, sou muito previsível. Se pensam que podem fazer brincadeira comigo, podem tirar o cavalinho da chuva. Não farão brincadeira comigo.
— Acha que deveria ter sido chamado para a reunião do Palácio dos Bandeirantes?Há pessoas no partido que dizem que sou ótimo, que tenho todas as qualidades para presidir o país. Mas afirmam que sou de um Estado insignificante. Creio que o partido poderia pelo menos ter tido a preocupação de saber o que pensa esse coitado, que já foi ministro de Estado, líder duas vezes no Senado e comanda uma cidade da complexidade de Manaus. É preciso no mínimo saber se esse ser insignificante se sente bem presidido numa disputa prévia por aquele que será seu concorrente.
— Se fosse escolhido candidato do PSDB ao Planalto, que alianças faria? Temos que acabar com essa lógica perversa de unir o PSDB com qualquer um. Isso só tem nos levado à derrota. Se queremos mudar, precisamos discutir os limites dessa política de alianças às claras, na frente do povo. Temos que definir que não fazemos aliança com qualquer um.
— Que partidos excluiria de sua coligação? Sou contra fazer coligação com partidos como PP, PR e PMDB, por exemplo. Podemos nos unir a legendas como PSB, PPS e DEM. É preciso acabar com a lógica de que, para ter mais tempo de televisão, temos que vender a alma ao diabo. Loteia o governo antes da eleição sob o pretexto de que é preciso ter tempo de propaganda na televisão. Não pode ser assim.
— Tem posição definida sobre o apoio ao governo Temer? Sou a favor de que partido saia do governo Temer. Como primeiro ato de oposição, o PSDB precisa exigir que Temer mande todas as reformas necessárias para mudar a estrutura arcaica do país. Ele deve fazer isso para ganhar ou para perder, mas com todos os votos do PSDB. Na oposição, o partido exigiria no seu primeiro ato que o presidente Temer encaminhasse uma reforma da Previdência de verdade, não um simulacro de reforma. E o PSDB fecharia questão a favor.
— O que acha do tratamento que o PSDB deu ao caso de Aécio Neves? O partido deveria ter sido mais firme com ele. Num primeiro momento, em que foi mencionado numa delação porque pediu dinheiro para campanhas do partido, avaliei que não houve crime, porque pedir dinheiro para campanha não era crime. Mas é uma falta de compostura pedir dinheiro para o Joesley Batista, para o Ricardo Saud, do modo como foi feito. Se estava precisando de dinheiro, poderia ter pedido para um colega rico, como o Tasso. Poderia ter ido a um banco. Aquilo que aconteceu, para mim, invalidou politicamente o Aécio. Para complicar, ele não soube mergulhar, para se concentrar na sua defesa jurídica. Continuou protagonizando. Articula pra cá, articula pra lá. Isso foi muito ruim.
— Acha que Aécio deveria ter sido levado ao conselho de ética do partido? Sim. Um conselho de ética de verdade, porque naquele do Senado, qualquer um que não for inimigo do José Sarney está salvo.