sábado, 6 de maio de 2017

‘Todos sabiam, todos do PT, desde o presidente, tesoureiro, deputados, senadores’, afirma Duque sobre propinas na Petrobras - VÍDEOS

Luiz Vassallo - O Estado de São Paulo

Ex-diretor de Serviços da Petrobras confessa ter recebido valores ilícitos sobre contratos e diz ao juiz Sérgio Moro que autoriza repatriação de valores depositados na Suíça e Monaco



O ex-diretor de Serviços da Petrobras Renato Duque afirmou que o esquema de corrupção instalado na Petrobrás era de conhecimento geral no PT, partido que o colocou no posto estratégico em 2003, início do primeiro mandato do governo Lula. “Todos do partido, desde o presidente do partido, tesoureiro, secretário, deputados, senadores, todos sabiam que isso ocorria”, declarou, em referência à distribuição de propinas que a Lava Jato interrompeu.
Duque, preso desde fevereiro de 2015, depôs ao juiz Sérgio Moro nesta sexta-feira, 5. Ele confessou ter recebido propinas sobre contratos da estatal e apontou para Lula, a quem chamou de ‘grande chefe Lula’ e ‘comandante’ do esquema de malfeitos na Petrobras.
“(o esquema) permaneceu até a minha saída (em 2012)”, confessou.
A Lava Jato desmontou o cartel das maiores empreiteiras do País que se instalaram na Petrobrás entre 2004 e 2014 para distribuir propinas a partidos, a políticos e a ex-dirigentes da estatal.
Moro questionou Duque se os pagamentos eram realizados sobre todos os contratos da Petrobras ou se em apenas alguns contratos.
“Todos os grandes contratos, os menores não havia essa questão. Estou falando dos contratos de 100 milhões, 200 milhões, um bilhão. Aí, realmente, essas empresas eram procuradas.”
O juiz quis saber quem arrecadava os recursos. “Os tesoureiros (do PT), o Delúbio (Soares), depois o Paulo Ferreira e depois o Vaccari. Tratei com os três tesoureiros desse assunto. Eu sabia que isso acontecia e permiti que isso acontecesse.”
“O sr. deu aval aos tesoureiros junto aos dirigentes das empresas?”, insistiu o magistrado.
“Não havia necessidade do aval porque era algo institucionalizado, não precisava chegar na empresa e falar ‘vocês têm que contribuir’. Ganhou licitação vai levar a licitação, vai executar a obra. Então, por que pagar? Essa é a questão.”
“O sr. recebeu valores?”
“Também recebi e me arrependo.”
“O sr. solicitava os valores?”
“Nunca solicitei. Peço que consulte todas as empresas colaboradoras (da Lava Jato). Elas podem afiançar o que estou dizendo. Eu nunca pedi em proveito próprio. Existia um esquema, o Barusco (Pedro Barusco, seu gerente na Diretoria de Serviços) dizia, ele providenciava a conversa com as empresas. Ele providenciava os depósitos do dinheiro. Meu erro foi ter aceitado.”
Nesse instante de seu depoimento, Duque disse ao juiz. “Gostaria de dizer que o dinheiro…eu gostaria de assinar qualquer documento para (autorizar) a repatriação o mais rápido possível. Não tenho interesse com relação a isso.”
O juiz insistiu. “Como funcionava? O sr. recebeu qual porcentual dos contratos?”
“Existia uma referência de um por cento. Esse um por cento a ‘Casa’, como o Barusco chamava, ficava com metade, zero e meio, e o restante ia pro partido. Mas isso era uma referência. Nem todos os contratos esse percentual. E se alguém recuasse não existia nenhuma penalidade. Na prática, de tempos em tempos Barusco me informava, vou remeter um valor X, ele nunca especificou o valor X de determinada obra, determinada empresa. Posso dizer para o senhor que meu sigilo bancário está disponível.”
“Mas o sr. não tinha um controle?”
“Não, o Barusco disse que eu era preguiçoso no trato com o dinheiro. Não é uma questão de preguiça. Realmente, quando atingi aquele determinado valor, aquilo para mim era mais que suficiente. O que você vai querer juntar dinheiro, eu não usei esse dinheiro.”
“Que determinado valor?”, interrompeu o juiz.
“Quando atingiu dez milhões de dólares eu falei ‘poxa, é muito mais que eu preciso prá viver e minha terceira geração. Então, a partir daí eu nem controlava.”
Moro quis saber como o ex-diretor da Petrobras recebia os valores.
“A minha parte eu recebia em contas no exterior.”
“Recebeu em espécie no Brasil?”
“Não sr. fui acusado por alguns delatores de ter recebido dinheiro em espécie. Eu nego, porque não aconteceu. Eu não aceitava pegar dinheiro aqui, aqui no Brasil não peguei dinheiro em espécie.”
Ele disse que o ex-diretor de Abastecimento da Petrobrás Paulo Roberto Costa também recebia propinas.
Paulo Roberto foi diretor por indicação do PP. Preso em março de 2014, quando a Lava Jato estourou, ele fez delação premiada. Foi o primeiro delator da Lava Jato.
Segundo Duque, seu ex-colega de Petrobrás dizia que ‘o PP exigia (propinas)’.