sexta-feira, 26 de maio de 2017

Rodrigo Maia: O dilema de ser aliado ou algoz

Epoca

O presidente da Câmara vive a incômoda posição de poder definir o impeachment de Michel Temer e, ao mesmo tempo, ser beneficiário dele



A reunião na residência oficial da Presidência da Câmara, em Brasília, começou na noite da agitada quarta-feira, dia 24, e se estendeu até as 4h30 de quinta-feira. O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, do DEM, conversava com representantes da turma que o elegeu ao cargo – PT, PDT, PCdoB, PP, PR e outros. “Só vou me mexer junto com vocês”, afirmou. De diferentes formas, em vários momentos, todos disseram que ele deveria exercer sua autoridade. “O poder não tem vácuo. Exerça o poder, ou você será atropelado”, disse o deputado José Mentor, um dos quatro petistas presentes. Pragmático, o PT não alimenta ilusões de uma eleição direta. Quer a queda de Michel Temer, fazer confusão e barulho no plenário para isso, ter espaço político na Câmara e brigar pela eleição de 2018. Não havia ninguém do DEM no encontro. Não havia ninguém do Palácio do Planalto, nem o sogro de Maia, o ministro Moreira Franco, um dos mais próximos assessores do presidente Michel Temer. Rodrigo Maia estava com sua turma.
Na quinta-feira, Maia recebeu colegas do DEM. Apesar de ser seu partido, do qual já foi presidente, não é sua turma e ele estava pouco à vontade. Ouviu mais do que falou, diante da indecisão do DEM sobre o que fazer em relação a Temer. A casa de Maia virou ponto de encontro daqueles que buscam uma saída para a crise. O cargo lhe dá a prerrogativa de poder acelerar, atrasar ou derrubar os 14 pedidos de impeachment do presidente da República já protocolados. Maia pode manter-se fiel a Temer, pode ser o presidente da Câmara que conduzirá a eleição indireta caso Temer deixe o cargo e, eventualmente, pode ser candidato e ser eleito por seus pares para ser presidente da República até o fim de 2018. A conjuntura excepcional colocou um poder ímpar nas mãos de Maia – mas acarreta um risco da mesma proporção e um dilema doloroso. Maia não pode romper com Michel Temer, mas também não pode apoiá-lo incondicionalmente.  
Rodrigo Maia,de jeans e camiseta,acompanha Michel Temer,de terno e gravata.O dilema de quem pode acelerar o impeachment de Temer e ser beneficiário dele (Foto:  Eduardo Anizelli/Folhapress)