sexta-feira, 12 de maio de 2017

Palocci não resistiu à ‘Guantánamo meridional’, diz advogado

Com Veja e Estadão Conteúdo

Ao deixar defesa, José Roberto Batochio fala em "sofrimento psicológico" do ex-ministro

Antonio Palocci, preso há 214 dias
Antonio Palocci, preso em Curitiba na Operação Lava Jato (Vagner Rosário/VEJA)

Depois de deixar a defesa do ex-ministro Antonio Palocci, que decidiu negociar uma delação premiada com o Ministério Público Federal, o criminalista José Roberto Batochio disparou contra a Operação Lava Jato. Crítico dos acordos de colaboração e das prisões preventivas determinadas pelo juiz Sergio Moro, Batochio comparou Curitiba, onde Palocci está preso, a Guantánamo, em Cuba, onde fica a prisão americana para acusados de terrorismo, aberta pelo ex-presidente George W. Bush em 2002, no auge da Guerra ao Terror.
“Palocci não resistiu ao sofrimento psicológico que lhe foi imposto em Guantánamo meridional”, declarou o advogado, referindo-se à capital paranaense, base da Lava Jato.
Nesta sexta-feira, diante da promessa de que “muito em breve” poderá ganhar a liberdade, Palocci comunicou Batochio, seu advogado de confiança, que não precisa mais de sua assistência. O ex-ministro está preso desde setembro de 2016.
Ele teria comunicado ao criminalista que a saída dele da causa foi uma “primeira exigência” da força-tarefa da Lava Jato. Batochio, “por princípio”, não defende clientes que fazem delação premiada. Nos últimos meses, o criminalista tem travado um embate tenso com os procuradores do Ministério Público Federal e não desiste de tentar habeas corpus para o ex-ministro no Supremo Tribunal Federal (STF).
Em abril, quando foi interrogado pelo juiz Sergio Moro na ação penal em que é réu pelo suposto recebimento de 128 milhões de reais em propinas da empreiteira Odebrecht – parte do valor teria sido destinado ao PT -, Antonio Palocci acenou claramente com a possibilidade de fazer delação. Na ocasião, ele disse ao juiz que tinha informações importantes a revelar que podem esticar por mais um ano, pelo menos, os trabalhos da Lava Jato.
José Roberto Batochio defende Palocci há dez anos. Nesse período, conseguiu 12 absolvições do ex-ministro, como no episódio do caseiro Francenildo e na investigação sobre tomate com ervilhas da merenda escolar de Ribeirão Preto, município do qual o petista foi prefeito.
Em nota, o escritório José Roberto Batochio Advogados Associados confirmou que Palocci deu início à delação premiada com a força-tarefa da Operação Lava Jato. A nota destaca que o defensor deixou a defesa do ex-ministro em duas ações penais no âmbito da 13ª Vara Federal Criminal de Curitiba, sob tutela de Moro.
Leia a nota:
“O escritório José Roberto Batochio Advogados Associados deixa hoje o patrocínio da defesa de Antonio Palocci em dois processos que contra este são promovidos perante o juízo da 13.ª Vara Federal de Curitiba, em razão de o ex-ministro haver iniciado tratativas para celebração do pacto de delação premiada com a Força Tarefa Lava Jato, espécie de estratégia de defesa que os advogados da referida banca não aceitam em nenhuma das causas sob seus cuidados profissionais.”