sexta-feira, 12 de maio de 2017

Mônica Moura diz que foram pagos R$ 170 mil com gastos pessoais de Dilma ‘por cortesia’

Carolina Brígido - O Globo



Em delação premiada, a publicitária Mônica Moura disse que pagou despesas pessoais de Dilma Rousseff por ela ser “uma cliente importante”. A “cortesia” teria começado na campanha de 2010 e se estendido durante o primeiro mandato da petista. A estratégia funcionou, já que Dilma contratou Mônica e o marido, João Santana, para fazer também o marketing da campanha de 2014. Entre os “favores”, estão o pagamento de salário a Rose, que era uma espécie de assessora pessoal de Dilma; serviços prestados pelo cabeleireiro Celso Kamura; além de serviços de teleprompter. Pelas contas da delatora, as despesas foram de pelo menos R$ 170 mil.

— Eram favores que a gente fazia à presidente Dilma por cortesia, por ela ser uma cliente importante para a gente — disse Mônica em depoimento prestado ao Ministério Público Federal.

Segundo a publicitária, Rose trabalhava com Dilma durante a campanha fazendo o cabelo, a maquiagem e assessorando a candidata no âmbito pessoal. Mônica contou que, a pedido da petista, passou a pagar o salário de Rose, de cerca de R$ 4 mil mensais. Os pagamentos teriam sido feitos em dinheiro, sem emissão de nota fiscal, durante quase um ano. No fim da campanha, por conta de “uma confusão”, Rose teria sido demitida e os pagamentos teriam cessado.

— Isso (os favores) começou na primeira campanha em 2010. A Dilma tinha uma cabeleireira, uma camareira, uma governanta, não sei. Uma pessoa que cuidava dela, fazia cabelo, fazia unha, fazia maquiagem, que acompanhava ela nas viagens, era uma pessoa que trabalhava com ela, inclusive morava na casa dela, casa de ministra até então, ela era ministra. Enfim, essa mulher trabalhava com ela. Uma dia, isso antes da campanha, o Anderson Dornelles (assessor de Dilma) veio me pedir, dizendo que a Dilma perguntou se eu não poderia pagar o salário dessa moça, porque ela estava com dificuldade de pagar — disse a delatora.

Celso Kamura prestava serviço à campanha de 2010 e conquistou a confiança de Dilma. Depois de eleita, ela teria pedindo a Mônica para continuar arcando com os custos de ter o profissional prestando serviços eventualmente. A publicitária, mais uma vez, teria concordado. Ele teria recebido R$ 40 mil ao longo dos quatro anos do primeiro mandato da petista. Cada visita de kamura custava R$ 2 mil, que teriam sido pagos em dinheiro por André Santana, operador do casal de marqueteiros. O gasto não foi declarado oficialmente.

— Um dia ela chegou pra mim, já presidente, já não tinha mais campanha, eu já não pagava mais ele (Kamura), já tinha acertado a campanha bonitinho. A Dilma pediu que eu pagasse os cachês do Kamura quando ele ia atender ela no (Palácio da) Alvorada, que acontecia várias vezes. Não só o cachê, queria que eu pagasse os cachês e as passagens, porque dizia: “A gente não tem rubrica para esse tipo de coisa aqui no Alvorada”. Ela tinha sido uma cliente importante, virou presidente da República e provavelmente seria cliente de novo dali a quatro anos. Então eu topei fazer esse favorzinho — contou Mônica.

De acordo com a delatora, os serviços de Kamura eram realizados eventualmente, apenas quando Dilma tinha um compromisso importante. Ela contou que, no dia a dia, a então presidente não gostava de maquiagem. Em tom irônico, a publicitária revelou que, se o evento era simples, a própria Dilma fazia a maquiagem “do modo dela”.

— Depois, ela aprendeu a fazer maquiagem e ela mesma fazia. Aprendeu do modo dela (risos). Quando era uma coisa muito simples, ela mesma fazia. E, no dia a dia, sem evento, Dilma não usava maquiagem nenhuma. Ela odeia essas coisas — disse.

‘DILMA BOLADA’

Entre os pagamentos de ordem pessoal, Mônica também lembrou de ter dado R$ 200 mil em dinheiro ao ator Jeferson Monteiro, que interpreta da “Dilma Bolada” em redes sociais. 

Segundo a delatora, o PT tinha uma dívida com ele e o coordenador da campanha de 2014, Edinho Silva, teria pedido à publicitária para transferir R$ 400 mil ao ator. Ela disse que concordou em repassar a ele a metade do valor. A outra metade teria sido paga por Daniele Fonteles, da agência Pepper

— Surgiu na época especulações que ele era pago. Ele dizia que não era, mas ele era pago, ele recebia dinheiro. Ele era muito simpático, então a imagem dela (Dilma) ficava muito simpática. As pessoas curtiam muito, ele tinha não sei quantos milhões de seguidores, era um cara importante nas redes sociais.

Mônica contou que ela mesma negociou o pagamento com o ator:

— Eu paguei esse cara, eu liguei pra ele, eu mesma liguei e falei com ele. Aí marcamos de nos encontrar. Eu não pude ir e mandei o André (Santana), meu funcionário. Esteve com ele e aceitaram um pagamento em dinheiro e ele entregou. Acho que foi em São Paulo esse pagamento — disse. — Ele (Jeferson) parou, saiu das redes e logo depois ele voltou a mil, ativo com tudo.

O outro “favor” que Mônica contou era o pagamento de uma empresa de teleprompter de São Paulo para prestar serviços à presidente em eventos enquanto ela exercia o cargo. A delatora afirmou que Dilma odiava os técnicos do Palácio do Planalto – e, por isso, pediu a ela para continuar pagando os técnicos que trabalharam na campanha. Mônica disse que concordou com o pedido e pagava também passagens e diárias para os técnicos. Dilma teria levado um deles inclusive para evento na Organização das Nações Unidas (ONU), em Nova York. Os gastos com o serviço em quatro anos teriam somado R$ 95 mil – tudo pago em dinheiro, sem nota fiscal.

— A gente fazia porque era uma cliente importante. Só que, de pouquinho em pouquinho, acabava juntando um valor considerável — afirmou Mônica.