sábado, 6 de maio de 2017

Lula disse que Dilma sabia de propinas a diretor da Petrobras, afirma ex-diretor - VÍDEOS

Luiz Vassallo, Ricardo Brandt e Valmar Hupsel Filho - O Estado de São Paulo

Renato Duque, interrogado na Justiça Federal, atribuiu ao petista informação de que a ex-presidente estava 'preocupada' e 'queria tranquilizá-la'



Lula e Dilma em março do ano passado, na cerimônia de posse de novos ministros da petista. FOTO: ANDRE DUSEK/ESTADÃO

O ex-diretor de Serviços da Petrobrás Renato Duque afirmou que o a ex-presidente Dilma Rousseff recebeu de Luiz Inácio Lula da Silva a informação de que ‘um diretor da Petrobrás tinha dinheiro em uma conta na Suíça’. Esse ‘diretor’ era o próprio Duque que em depoimento ao juiz federal Sérgio Moro confessou ter abastecido a conta no país europeu com dinheiro de propinas.
Ele prestou depoimento nesta sexta-feira, 5, no âmbito de ação penal em que é réu ao lado do ex-ministro Antonio Palocci (Fazenda/Casa Civil nos Governos Lula e Dilma).
A Lava Jato descobriu a ação de um poderoso cartel de empreiteiras na Petrobrás entre 2004 e 2014 – período que pegou os dois governos de Lula e o primeiro de Dilma.
O cartel distribuiu propinas a partidos, políticos e ex-dirigentes da estatal, inclusive para o próprio Duque, condenado a 20 anos de prisão em uma das ações penais da Lava Jato.
Duque relatou ter se encontrado três vezes com o ex-presidente Lula. O último teria sido em 2014, no hangar da TAM no Aeroporto de Congonhas, em São Paulo, quando Lula o teria questionado se tinha ‘contas na Suíça com recebimentos da empresa SBM’.
Segundo o executivo – preso na Lava Jato e condenado a 20 anos por corrupção e lavagem de dinheiro em uma ação penal -, nessa reunião no hangar Lula teria dito que a então presidente Dilma ‘tinha recebido informação que um ex-diretor da Petrobrás teria recebido dinheiro numa conta na Suíça, da SBM’.
“Eu falei não, não tenho dinheiro da SBM nenhum, nunca recebi dinheiro da SBM. Aí ele vira prá mim fala assim ‘olha, e das sondas tem alguma coisa?’ E tinha né, eu falei não, também não tem.”
Renato Duque atribuiu ao ex-presidente a frase. ‘Olha, presta atenção no que vou te dizer. Se tiver alguma coisa não pode ter, entendeu? Não pode ter nada no teu nome entendeu?’
“Eu entendi, mas o que eu ia fazer? Não tinha mais o que fazer. Aí ele falou que ia conversar com a Dilma, que ela estava preocupada com esse assunto e queria tranquilizá-la.”
COM A PALAVRA, O INSTITUTO LULA
“O depoimento do ex-diretor da Petrobras Renato Duque é mais uma tentativa de fabricar acusações ao ex-presidente Lula nas negociações entre os procuradores da Lava Jato e réus condenados, em troca de redução de pena. Como não conseguiram produzir nenhuma prova das denúncias levianas contra o ex-presidente, depois de dois anos de investigações, quebra de sigilos e violação de telefonemas, restou aos acusadores de Lula apelar para a fabricação de depoimentos mentirosos.
“O desespero dos procuradores aumentou com a aproximação da audiência em que Lula vai, finalmente, apresentar ao juízo a verdade dos fatos. A audiência de Lula foi adiada em uma semana sob o falso pretexto de garantir a segurança pública. Na verdade, como vinha alertando a defesa de Lula, o adiamento serviu unicamente para encaixar nos autos depoimentos fabricados de ex-diretores da OAS (Leo Pinheiro e Agenor Medeiros) e, agora, o de Renato Duque”.
“Os três depoentes, que nunca haviam mencionado o ex-presidente Lula ao longo do processo, são pessoas condenadas a penas de mais de 20 anos de prisão, encontrando-se objetivamente coagidas a negociar benefícios penais. Estranhamente, veículos da imprensa e da blogosfera vinham antecipando o suposto teor dos depoimentos, sempre com o sentido de comprometer Lula”.
O que assistimos nos últimos dias foi mais uma etapa dessa desesperada gincana, nos tribunais e na mídia, em busca de uma prova contra Lula, prova que não existe na realidade e muito menos nos autos.”
Duque afirmou que tem provas do terceiro encontro, no hangar da TAM. “Eu tenho passagem.” Também tem, ele disse, comprovante da Infraero para chegar ao hangar.
As três reuniões com Lula, afirmou, foram todas ‘por intermédio do Vaccari, as três ocasiões’.
COM A PALAVRA, O ADVOGADO CRISTIANO ZANIN MARTINS, DEFENSOR DE LULA
“O depoimento de hoje (5/5) do ex-diretor da área de serviços da Petrobras Renato Duque segue o padrão já identificado nas declarações dos novos candidatos a delatores que o antecederam, caso de Léo Pinheiro, ex-presidente da OAS, e de seu subordinado Agenor Medeiros. Eles citam Lula, falam de encontros e de conversas com o ex-Presidente, mas não têm qualquer prova do que afirmam. Ao dizer que Lula tinha “pleno conhecimento de tudo, tinha o comando”, Duque busca por em pé perante o Juízo da 13ª Vara Criminal Federal de Curitiba a falaciosa tese do procurador Deltan Dallagnol explorada no seu famoso power-point e que foi negada por 73 testemunhas já ouvidas sob o compromisso de dizer a verdade. Depoimentos cruzados – e certamente combinados – não substituem provas.
Nos três casos, chama a atenção que os advogados dos réus tenham feito questionamentos não para defesa dos clientes, mas com o objetivo de envolver o nome de Lula, inclusive em processos em que ele sequer é parte – caso do depoimento de hoje. O ex-Presidente foi submetido a uma devassa com a quebra de seus sigilos bancário, fiscal e telefônico, além de buscas e apreensões em sua casa e na de seus familiares e nenhum ato ilegal foi identificado. Até mesmo pessoas referidas por Duque, como Pedro Barusco, quando ouvidas com o compromisso de dizer a verdade, negaram a participação de Lula.
Foram 24 audiências realizadas só na ação que trata do triplex do Guarujá e nenhuma prova foi produzida contra o ex-Presidente. Não pode ser coincidência que, nos últimos 15 dias, depois de anunciado o adiamento do depoimento de Lula, três pessoas que há muito tentam destravar uma delação para reduzir suas penas e até mesmo sair da cadeia – caso de Pinheiro e Duque – tenham resolvido falar, especialmente considerando que o processo de Duque já estava em fase de alegações finais. Merece repúdio que se aceite negociar futuras vantagens em troca de acusações frívolas, confirmando o caráter ilegítimo das denúncias contra Lula.”
Cristiano Zanin Martins