Em setembro de 2015, na ONU, a então presidente Dilma Rousseff (PT) dedicou um pronunciamento confuso à impossibilidade de estocar vento. Foi na época ridicularizada pela defesa canhestra das hidrelétricas, com sua alegada vantagem sobre as usinas eólicas.
Dilma não se deu conta, na ocasião, de que sua visão convencional da geração de eletricidade a levava contra a corrente. Naquele momento, a energia dos ventos já se encontrava em franca ascensão.
O mesmo está para acontecer com a solar, como registrou caderno especial na sexta-feira (28) por esta Folha.
A cultura no setor elétrico se formou na abundância de recursos hídricos, fonte renovável que fez da matriz nacional uma das mais limpas do planeta. Só regrediu, em matéria ambiental, com a crise de 2001, quando nos agarramos às poluidoras termelétricas.
Desde então, as energias alternativas decolaram. Hoje, os parques eólicos somam uma capacidade instalada equivalente à potência de uma central hidrelétrica como a controversa Belo Monte.
Algo comparável deve acontecer com a eletricidade obtida da luz solar por painéis fotovoltaicos. Neste ano ela alcançará a marca de 1 GW implantado, o que fará o Brasil ingressar num clube com não mais que duas
dezenas de países.
dezenas de países.
São quase 10 mil conjuntos de placas disseminados pelo país, quase 80% em telhados residenciais. Se a novidade se espalhar pelos tetos de galpões industriais e comerciais, o potencial de investimento é de R$ 6,8 bilhões, estima a associação do setor, ABSolar.
Há projetos para instalar até 5 GW nos próximos anos, mas a crise econômica, que arrefeceu a demanda por energia, levou o governo a suspender o leilão de 2016 para novas usinas solares e eólicas.
O mesmo caderno especial traz um artigo do físico José Goldemberg chamando a atenção para a necessidade de otimizar o fornecimento de eletricidade não só com base no preço -quesito em que hidrelétricas ainda são campeãs-, mas também na sustentabilidade, em que brilham a solar e a eólica.
Não deixaria de ser, aliás, uma maneira de estocarmos vento e luz na forma de água, poupando-a nos reservatórios das hidrelétricas.