Ricardo Brandt, Julia Affonso, Bruno Ribeiro e Luiz Vassallo - O Globo
Interrogado pelo juiz Moro, ex-presidente admitiu ter visitado o imóvel em 2014 com a ex-primeira dama e o empreiteiro Léo Pinheiro, da OAS
O ex-presidente Lula admitiu em interrogatório do juiz Sérgio Moro nesta quarta-feira, 10, que esteve em 2014 no apartamento triplex do Guarujá acompanhado de sua mulher, a ex-primeira dama Marisa Letícia (morta em fevereiro deste ano), e do empreiteiro Léo Pinheiro.
Lula atribuiu à Marisa interesse pelo imóvel, ‘certamente para fazer investimento’, mas afirmou que não fez a compra. Segundo o ex-presidente, Marisa ‘não gostava de praia’ e ele próprio havia identificado ‘quinhentos’ defeitos no apartamento.
Moro questionou Lula se Marisa havia relatado a ele sobre a reforma do tríplex pela OAS.
“Ela disse que não tinha gostado do apartamento mais uma vez e como eu tinha insistido para ela que ela não gostava de praia e que eu gostava, sabe, mas que era inadequado para mim, eu acho que ela tomou a decisão de não comprar”, declarou.
Lula foi confrontado por Moro com o depoimento que deu à PF em março de 2016, quando foi conduzido coercitivamente. O juiz da Lava Jato disse que, na ocasião, o petista havia afirmado que ele próprio teria tomado a decisão de não ficar com o apartamento após uma segunda visita da Marisa ao imóvel.
“Eu repito a mesma coisa, eu apenas não tenho clareza se a Dona Marisa… a Dona Marisa não me disse no mesmo dia que ela foi lá que ela não ia ficar com a apartamento. Eu tinha mostrado para ela que era inadequado o apartamento, ela foi lá, acho que ela queria ver se podia ficar para vender, porque o apartamento, na verdade, é o seguinte, o apartamento nunca, nunca foi me oferecido antes da data que eu fui lá ver e quando eu fui ver, eu não gostei. É isso”, afirmou.
O magistrado quis saber ainda se o empreiteiro José Adelmário Pinheiro, o Léo Pinheiro, da OAS, informou que reformaria o apartamento.
“O Léo disse que depois ia voltar a conversar comigo, depois de todos os defeitos que eu disse, falou: ‘vou te fazer uma proposta’. E nunca mais conversei com o Léo”, contou. “Não, não relatou, querido. Lamentavelmente, ela não está viva para perguntar.”
Lula disse que não ia ficar com o apartamento ‘porque não tinha como ficar’.
“Esse motivo foi que eu não tinha solicitado e não quis o apartamento”, disse.
“Dr. eu vou repetir. O apartamento estava no nome da minha mulher. Eu tinha dito em fevereiro que não queria o apartamento. Ela certamente pensava qualquer coisa de fazer negócio se ela fosse ficar com o apartamento.”
Moro perguntou ao ex-presidente quantas vezes ele foi ao imóvel.
“Estive em 2014.”
“Quantas vezes?”, perguntou o juiz.
“Uma vez.”
“Pode descrever a circunstância, o motivo dessa visita?”
“O Leó esteve lá no escritório dizendo que o apartamento tinha sido vendido e que ele tinha mais um apartamento dos normais e o triplex. Eu fui lá ver o apartamento e coloquei 500 defeitos no apartamento. Voltei e nunca mais conversei com o Léo sobre o apartamento.”
“O sr. se recorda quem foi junto nessa visita?”
“Eu e minha mulher.”
“Quem mais estava presente da OAS?”
“Ah, não sei, sei que estava o Léo.”
“Qual foi o conteúdo dessa conversa?
“Conteúdo da conversa é que o Léo tava querendo vender o apartamento e o sr. sabe que todo e qualquer vendedor que quer vender de qualquer jeito, não sei se o doutor já procurou alguma casa pra comprar, pra saber como é que o vendedor quer fazer. Eu disse ‘Léo, o apartamento tinha 500 defeitos.”
“O sr recusou de plano esse apartamento?”
“Não recusei de plano porque o Léo falou ‘vou dar uma olhada’ e depois me procurava para conversar. Foi em fevereiro de 2014.”
“Solicitaram alguma espécie de reforma nesse apartamento?”
“Não.”
“O sr. tem conhecimento que a sra sua esposa ou familiares estiveram novamente nesse imóvel?”
“Me parece que a minha esposa esteve mais uma vez, me parece, porque ela foi com meu filho Fábio e chegou lá o apartamento me parece estava totalmente desmontado. A informação que eu tenho pelo meu filho e não por ela.”
“Com qual propósito ela teria feito essa visita?”
“Certamente ela ia dizer que eu não queria mais o apartamento, porque quando fui ao apartamento percebi que era inutilizável por mim, pelo fato de eu ser uma figura pública e eu só poderia ir naquela praia ou na segunda-feira ou na quarta-feira de Cinzas.”
“O sr. e familiares orientaram a reforma?”
Eu não orientei. Sei que no dia que eu fui houve muitos defeitos mostrados no prédio, muitos, defeito de escada, defeito de cozinha.”
Eu não orientei. Sei que no dia que eu fui houve muitos defeitos mostrados no prédio, muitos, defeito de escada, defeito de cozinha.”
“Quando o sr. exatamente decidiu que não ficaria com o imóvel?”
“No dia que fui ver me dei conta que não era possível eu tivesse um apartamento na praia das Astúrias não teria como, segundo porque o apartamento era muito pequeno para uma família de cinco filhos, oito netos e agora uma bisneta. Dona Marisa tinha uma coisa importante, ela não gostava de praia, ela nunca gostou de praia. Certamente queria o apartamento pra fazer investimento.”
“O sr. comunicou Léo Pinheiro que não queria o apartamento?”
“Não, não comuniquei. Eu não ia ficar com o apartamento, mas a dona Marisa ainda tinha dúvida seria ficar prá fazer negócio ou não. Não discutiu isso comigo mais.”
“Tem conhecimento se depois daquela segunda visita ela resolveu ficar com o apartamento?
“Soube depois que ela tinha ido ao apartamento e que ela também não tinha interesse em comprar.”
“Quando o sr. ficou sabendo?”
“Difícil precisar agora.”