quinta-feira, 11 de maio de 2017

Cozinha do triplex era para um ‘cliente especial’, revela ex-funcionária da OAS

Julia Affonso, Luiz Vassallo, Ricardo Brandt e Fausto Macedo - O Estado de São Paulo

Uma das três testemunhas que o Ministério Público Federal pediu para Moro ouvir, na ação penal contra Lula, afirmou que havia um 'procedimento agilizado' para instalar equipamentos de luxo em área gourmet - que também foi colocada em sítio de Atibaia (SP)

Em depoimento à força-tarefa da Operação Lava, a ex-funcionária da OAS Jessica Monteiro Malzone afirmou que a cozinha gourmet instalada no triplex 164-A do Edifício Solaris, no Guarujá, era para um “cliente especial”.
“Nessa reunia a Paula (superior) falou para ele que era um cliente especial, o mesmo cliente, que eu não sei do que se trata, e que era para fazer um preço bacana e ser mais ágil na entrega”, afirmou a testemunha. “No meu entendimento era como se fosse um diretor da OAS.”
A Lava Jato afirma que o imóvel é do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ouvido nesta quarta-feira, 10, pelo juiz federal Sérgio Moro pela primeira vez como réu em Curitiba – origem do escândalo Petrobras.
Jessica é uma das três testemunhas que a força-tarefa quer que o juiz federal Sérgio Moro ouça, antes de abrir prazo para as alegações finais do processo em que Lula é acusado de corrupção e lavagem de R$ 3,7 milhões da OAS no triplex do Guarujá (SP) e no custeio do acervo presidencial, de 2011 a 2016.
A cozinha da marca Kitchens foi uma das “benesses” que a OAS teria dado a Lula, segundo o Ministério Público Federal, no triplex do Guarujá. A cozinha era um pacote que incluía também uma nova cozinha para o sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP), que a Lava Jato também diz ser do ex-presidente e ele nega.
Jéssica foi ouvida no dia 7 de abril pelos procuradores Julio Motta Noronha e Roberson Pozzobon, em São Paulo. Nesta quinta-feira, 11, o vídeo do depoimento foi anexado aos autos do processo.
A ex-OAS também entregou documentos e cópias de e-mails sobre o projeto da cozinha do triplex.

Documento

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A denúncia do Ministério Público Federal sustenta que Lula recebeu R$ 3,7 milhões em benefício próprio – de um valor de R$ 87 milhões de corrupção – da empreiteira OAS, entre 2006 e 2012. As acusações contra Lula são relativas ao recebimento de vantagens ilícitas da empreiteira por meio do triplex 164-A no Edifício Solaris, no Guarujá (SP), e ao armazenamento de bens do acervo presidencial, mantido pela Granero de 2011 a 2016. O petista é acusado de lavagem de dinheiro e corrupção.
O ex-presidente Lula negou ser dono do tríplex, no depoimento de ontem, que durou quase 5 horas. Atribuiu ainda o fato a um interesse da ex-primeira-dama Marisa Letícia, morta em fevereiro, de adquirir o imóvel, que teria sido oferecido pessoalmente pelo ex-presidente da OAS José Aldemário Pinheiro, e aproveitou o interrogatório da Lava Jato para fazer palanque e anunciar que vai se candidatar à Presidência em 2018.