Ironicamente, PT e mercado não confiam na presidente
A distância entre o PT e Dilma Rousseff atingiu seu pico nos últimos dias. E só tende a crescer daqui para frente. Dilma decidiu não ir à festa de aniversário do PT neste sábado para não ter que ouvir discursos e mais discursos condenando sua política econômica e as mudanças no pré-sal (embora até a noite de sexta-feira, ela ainda ouvisse apelos para que mudasse de ideia). Um sinal explícito da fissura.
Embora, não seja a primeira vez que Dilma deixe a cadeira vazia num evento do PT, essa ausência ocorre num momento único — que junta uma crise econômica aguda com o esfarelamento da credibilidade do partido com as revelações da Lava-Jato.
Mas a aposta numa ruptura é alta demais. Ainda que, de parte a parte, só se ouçam xingamentos e reclamações, Dilma depende do PT e vice-versa.
O que não se verá mais, contudo, é sua defesa pelo partido. O PT já largou o governo Dilma — não os cargos, mas isso é outra história.
A essa altura, o que o partido quer é salvar Lula por acreditar que ele é o único que pode tirar a legenda da ruína. Ou, como me disse na sexta-feira, um dirigente petista: “O governo acabou, precisamos defender o Lula”. Distanciar-se de Dilma é, portanto, uma questão de sobrevivência — eis um consenso entre os lulistas. Dilma, para essa turma, optou por uma agenda negativa.
Os petistas acham que eleger a (necessária) reforma da Previdência como uma das âncoras do governo é dizer amém ao mercado. Também não admitem qualquer alteração na fórmula de reajuste do salário mínimo.
A presidente vê a coisa de outro modo. Tem dito que o PT parece não querer entender que o dinheiro acabou. Para tentar contrabalançar os discursos que ecoarão neste sábado no encontro do PT, Dilma já decidiu falar sobre economia na semana que vem. Um discurso que vai mirar justamente o mercado, a quem ela sabe que precisa reconquistar.
Sem isso, nada de investimentos. Sem investimentos, o PIB não cresce. É irônico constatar que o PT e o mercado concordam quando o assunto é Dilma: ambos não confiam na presidente.