sábado, 6 de fevereiro de 2016

"Dilma, o mosquito e as primárias de Iowa", por Vitor Hugo Soares

Com Blog do Noblat - O Globo


Aedes aegypti transmite zika, dengue e chikungunya (Foto: Josué Damacena / IOC  Fiocruz)Aedes aegypti transmite zika, dengue e chikungunya (Foto: Josué Damacena / IOC Fiocruz)
Para começo de conversa, confesso meu descuido nos últimos dias em relação aos fatos da política internacional, principalmente a atenção maior que faltou no caso das primárias de Iowa, que marcaram a largada surpreendente e eletrizanteda maratona presidencial nos Estados Unidos, para a escolha do sucessor de Barack Obama, perto de completar oito anos de mando na Casa Branca.
Não quero, não devo e nem posso jogar a culpa, da falha profissional, na Lava Jato que, parece, virou a nova mania caolha e suspeita para justificar quase tudo, nos círculos de interesses do conluio público-privado, em volta do escândalo do Petrolão. Sinaliza, também, para estranha e espúria aliança que, nos últimos dias, tem dado  diversificados e preocupantes sinais de se formar no País, contra o juiz Sérgio Moro .
"No passaran", diriam os espanhóis em outras épocas. Mas vivemos os primeiros e agitados dias de fevereiro de 2016, já em pleno carnaval, que começa mais cedo na Bahia e termina mais tarde. Tempo de folia geral. Período historicamente apresentado como propício à prática de malfeitos e patifarias, além de negociatas de todo tipo, gênero e tamanho, sob as máscaras mais diversas.
Antes do ministro Joaquim Barbosa, no caso do Mensalão, e agora do juiz de Curitiba e do Japonês da Federal, era possível ver mais facilmente os blocos de bandalhos em desfile e ação. Bastava uma simples e mais atenta passagem pelos melhores e mais badalados camarotes privados e públicos da folia em Salvador ou no Rio de Janeiro, principalmente."Segredos dos camarotes", eis a sugestão de tema e título para um livro que poderia ser revelador da teia de falcatruas e cumplicidades de governantes, políticos, empresários, gente da imprensa e da publicidade, celebridades da música e da cultura, no meio de operadores mascarados ou de cara limpa.
Desculpem o mau jeito, mas é preciso lembrar. Afinal, este é tido, também, como um período de desculpas esfarrapadas e esquecimentos benevolentes ou cúmplices. "E estamos no Brasil"  - ouvi esta semana de uma cara amiga e colega de jornalismo, atenta e estudiosa: um lugar das grandes manobras, e chicanas jurídicas, onde há sempre um bom e caro advogado de plantão, para não deixar ir parar na cadeia político ou governante comprovadamente corruptos, empresários de coturno ou grandes proprietários de terras. Ou livrá-los das grades o mais rapidamente possível, quando alguma coisa sai fora do script, a exemplo do que parece ter acontecido na Lava Jatos com Marcelo Odebrecht,  ex-presidente da maior empreiteira do Brasil.   
Reafirmo a confissão: esqueci do resto do mundo ao ficar de olhos fixos na movimentação mais próxima de mim. Talvez pelo hábito adquirido nos 17 anos de trabalho no Jornal do Brasil,  sucursal de Salvador,  principalmente no fértil período profissional sob o comando do editor nacional, Juarez Bahia, premiado jornalista e notável mestre de comunicação que formou gerações. Embora ele ensinasse: "preste muita atenção na sua terra, nos fatos à sua volta, mas não pense jamais que eles são os mais importantes para o jornal".
O fato é que mantive a aposta no Petrolão. Mais que isso, nas situações renovadas por acontecimentos quentes e ardentes de outras operações geradoras de fatos e expectativas. Uma delas, as graves suspeitas e indícios de compra de aprovação de Medidas Provisórias para beneficiar grandes montadoras de automóveis em seus projetos no Nordeste (foi intimado pela PF a depor como investigado, neste caso, nos próximos dias, o ex-presidente Lula, já encrencado na Lava Jato, pelas histórias mal contadas das posses do sítio de Atibaia e do apartamento triplex do condomínio Solaris, no Guarujá), ambos com pegadas nítidas e já reconhecidas da OAS e da Odebrecht).
Assim perdi o bonde ou o avião para Iowa. Olhando o furdunço do carnaval baiano e brasileiro, não acompanhei como devia o melhor das primárias realizadas pelos partidos Republicano e Democrata, no minúsculo mas emblemático estado de Iowa. Nos dois casos com resultados surpreendentes: Primeiro a derrota do polêmico parlapatão Donald Trump (pule de quase 10 nas bolsas de apostas da mídia americana, cabocla e nas pesquisas), batido pelo modesto mas centrado político conservador republicano das antigas,  Ted Cruz.
No segundo caso, a vitória apertada de Hillary Clinton "por una cabeza" (diriam os portenhos) sobre Bernie Sanders: o "socialista democrático" de cabelos assanhados, voz de timbre forte e gutural e sobrancelhas espessas de gente valente e desafiadora. Até aqui  "o velhinho" ironizado pelos adversários, pinta como a grande "zebra" da sucessão de Obama. Sanders é o preferido por sete entre 10 jovens eleitores dos Estados Unidos.
Perdi Iowa, mas não faz mal. Tem muita água para rolar na corrida americana para a Casa Branca, já se percebe pela largada. Em compensação, vi em Salvador, e no resto do País, mais um panelaço contra a presidente Dilma e seu governo, agora desarvorados e perdendo o tino em rede nacional na TV, diante do mosquito transmissor do zika vírus. O aedes aegipti que sobrevoa à vontade o Brasil há 30 anos (voltou a atacar em 1980, depois de dizimado por Oswaldo Cruz) mas agora parece tirar o sono até do tranquilo Obama e a baratinar, ainda mais, a cabeça da presidente Dilma, seu ministro da Saúde (PMDB) e da corte petista que manda no Brasil há mais de 13 anos. Mais uma "guerra" política, marqueteira, inútil e destinada ao fracasso, por sua origem demagó ;gica e oportunista. Sem credibilidade também, a deduzir pelos panelaços que marcaram a convocação da presidente na TV. A conferir.