segunda-feira, 16 de março de 2015

"Rumo à alternância no poder", por Merval Pereira

O Globo


O PT está indelevelmente ligado à corrupção, depois do mensalão e do petrolão. As manifestações de ontem foram, sobretudo, contra a continuidade do PT no governo, e a ampliação do alcance dos gritos de “Fora Dilma” indica muito mais a inconformidade de um eleitorado que foi enganado na campanha eleitoral do que uma tentativa golpista.

Se fossemos um país parlamentarista, o governo já teria sido derrubado. 
A maioria no Congresso existe apenas no papel, pois em todas as votações recentes o governo tem sido minoritário, mesmo quando consegue evitar que os vetos da presidente Dilma sejam derrubados.

Se a eleição presidencial fosse realizada hoje, Dilma não seria reeleita, apontam as pesquisas de opinião, que lhe dão também um apoio de apenas 7% da população. Se a percepção generalizada valesse, o Congresso teria condições de aprovar o impeachment, por que a maioria da população está convencida de que a presidente Dilma sabia o que estava acontecendo na Petrobras, mesmo que não tenha se beneficiado como pessoa física do dinheiro desviado.

Mas se beneficiou politicamente, desde a eleição de 2010. Como somos presidencialistas, até que se prove que a presidente Dilma sabia o que estava acontecendo, não há condições técnicas nem políticas para o processo de impeachment.

Mas a presidente já perdeu a legitimidade para governar, está desacreditada pela maioria da população, pois é generalizada a sensação de que desde que os partidos políticos passaram a nomear os diretores da Petrobras, quando ela era ministra das Minas e Energia, instalou-se oficiosamente na estatal sob a sua subordinação um esquema corrupto que agora está sendo revelado na Operação Lava-Jato.

Isso no governo Lula que marca, segundo o gerente Pedro Barusco, o momento em que a corrupção passou a ser institucionalizada na Petrobras, como parte de um projeto político de manutenção do poder.
Para recuperar a legitimidade política, teria que se reinventar, ser uma outra Dilma, o que parece impossível. Anunciar novos pacotes só vai aumentar a irritação do povo, enquanto a inflação alta e o crescimento negativo vão corroendo o poder de compra do cidadão. 

Sendo assim, continuará governando, pois foi eleita legalmente, em meio a crises políticas e econômicas cada vez mais graves até que a eleição presidencial de 2018 permita a alternância de poder que por pouco não se deu em 2014 e é uma das bases da democracia. Isso se as investigações da Operação Lava-Jato não chegarem às provas contra ela antes da próxima eleição presidencial, ou se não perder as condições políticas de ficar à frente do governo.