segunda-feira, 30 de março de 2015

Governo e oposição dizem que fala de Levy pode ter efeito no ajuste fiscal

MÁRCIO FALCÃO, FLÁVIA FOREQUE e SOFIA FERNANDES - Folha de São Paulo



Líderes do governo e da oposição avaliam que a declaração do ministro Joaquim Levy (Fazenda) sustentando que a presidente Dilma Rousseff nem sempre age de forma simples e eficaz pode ter efeito nas negociações econômicas com o Congresso.

A petista tem enfrentado resistências entre seus próprios aliados, e até no PT, para aprovar as medidas que tratam do ajuste fiscal - com mudanças nas legislações trabalhista e previdenciária, além da redução nas desonerações da folha de pagamento.

O governo ainda tem sido pressionado por sua base a garantir a renegociação das dívidas de Estados e municípios. Nas últimas semanas, Levy, inclusive, acabou assumindo as articulações com deputados e senadores, especialmente com a cúpula do Congresso.

O líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), disse neste sábado (28) que apenas Levy pode fazer um juízo de valor sobre sua fala, mas reconheceu que pode ter efeitos no cenário político.

O peemedebista lembrou que a relação da petista com seus aliados tem enfrentado uma sequência de desgastes, como a crítica do ex-ministro Cid Gomes (Educação) que deixou o cargo após ter atacado o Congresso e a movimentação do ministro Gilberto Kassab (Cidades) para refundar o PL, numa tentativa de diminuir o peso do PMDB.

"Se ele falou isso, não ajuda [as tratativas]. O ministro da Educação chamou deputados de achacadores, o Kassab quer afetar o novo aliado e o ministro da Fazenda critica a presidente, então, isso não ajuda", afirmou o líder.

O líder do PP na Câmara, Eduardo da Fonte (PE), disse que a simplicidade deveria ser a "palavra de ordem" do governo neste momento que discute o pacote fiscal para a retomada do crescimento da economia.

Alguns aliados ouvidos pela Folha sob condição de anonimato afirmaram que a posição de Levy encontra respaldo no Congresso e citaram como exemplo de falta de simplicidade de Dilma em sua gestão a demora para a troca de comando da Fazenda, substituindo Guido Mantega por Levy, e da Petrobras, além de complicadores políticos como indicações de ministros para atender a aliados, como o PMDB.

A oposição aproveitou a frase para reforçar o ataque de que Dilma está isolada, sem sustentação de seu próprio ministério.

"Ela é uma pessoa com dificuldade enorme em se relacionar, em ouvir o contraditório. É lógico que o Levy, se pudesse dizer, diria que é difícil as coisas avançarem com ela", afirmou o líder do DEM no Senado, Ronaldo Caiado (GO).

Segundo o congressista, Levy deve ter pressentido que, diante da "relação fraturada da base com o Planalto", o ajuste não vai passar da forma que encaminhou.

Na avaliação do líder do PSDB no Senado, Cássio Cunha Lima (PB), existe uma incompatibilidade entre o que o ministro pensa e o que a presidente faz.
"O governo, além de enfrentar uma crise política, econômica e ética enfrenta uma crise de credibilidade. A presidente é refém da estabilidade mínima que a presença do Joaquim Levy traz para o governo. Uma eventual saída dele é a última pá de terra."

Para o líder do DEM na Câmara, Mendonça Filho (PE), o governo tem criado seus próprios desgastes e Levy, em sua declaração, apenas reconheceu que a política econômica de Dilma é ineficaz. "Ele fala porque está vivendo a experiência".

Os líderes do PT no Senado, Humberto Costa (PE) e na Câmara, Sibá Machado (AC), não retornaram os contatos da Folha. O líder do governo na Câmara, José Guimarães (CE), não foi localizado pela reportagem.

Nesta terça-feira (31), o ministro irá à Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado para explicar o que os parlamentares chamam de "Plano Levy", que são as medidas de ajuste fiscal enviadas pelo governo ao Congresso.

Em acordo fechado com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), o ministro também deverá apresentar uma alternativa ao projeto já aprovado pela Câmara que estabelece um prazo de 30 dias para o governo regulamentar as novas regras do indexador da dívida dos Estados e municípios.