sexta-feira, 18 de julho de 2025

Sílvio Navarro e 'O Tsunami a caminho'

Mais uma vez, os brasileiros que vão arcar com a conta do projeto de poder de Lula e do STF 


Foto: Montagem Revista Oeste/Gerada por IA/Freepik


N uma entrevista recente, o ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman causou espanto ao responder, ao vivo, com profunda clareza, a uma pergunta dos jornalistas da GloboNews sobre a crise provocada pelo presidente Lula da Silva e pelo Supremo Tribunal Federal (STF) com os Estados Unidos. O apresentador perguntou ao economista se o Brasil perde ou ganha num embate direto com Donald Trump. O entrevistado resumiu assim: “Seria como um mico brigando com um gorila de 500 quilos”. 

Talvez não fosse necessário ser especialista em economia, analista político ou de relações internacionais para responder ao questionamento, mas num país que está diante de um consórcio disposto a não sair do poder, desconectado da sociedade e governando à margem da lei, é importante entender o tamanho da encrenca que está pela frente. Numa outra analogia possível, é como um tsunami se erguendo no horizonte. 

GloboNews -n "MICO CONTRA GORILA" — Em entrevista ao #Edição18 desta quarta-feira (9), o ex-diretor do Banco Central Alexandre Schwartsman falou sobre a tarifa de 50% imposta por Donald Trump a produtos brasileiros. Segundo ele, as chances do Brasil numa retaliação aos Estados Unidos seria o mesmo que "comprar uma briga com um gorila de 500 quilos". "Seria um mico brigando com um gorila de 500 quilos, porque (os EUA) são uma economia muito maior do que a nossa. Já foram mais relevantes. Hoje, a China é o maior mercado brasileiro, depois a União Europeia, e em terceiro lugar vêm os Estados Unidos. (...) Pode tentar seguir por esse caminho, mas do ponto de vista político é mais interessante fortalecer a ideia de que está sendo perseguido, de que View more on Instagram 18/07/2025, 11:10 Tsunami a caminho - Revista Oeste https://revistaoeste.com/revista/edicao-278/tsunami-a-caminho/ 3/13 qualquer prejuízo que isso venha a causar não é responsabilidade sua, e o responsável é sim o grande irmão do norte. Você consegue encontrar alguém em quem colocar a culpa, e colocar a culpa nos outros é praticamente uma especialidade não só do presidente Lula, como também de boa parte do seu círculo de ministros", disse Schwartsman. "Obviamente, a melhor saída seria tentar negociar, mas desconfio que a gente vai responder na mesma moeda e ter um prejuízo econômico. Mas a preocupação maior não é com o prejuízo econômico, é com a possibilidade de conseguir pregar a culpa em alguém”. ➡️ Acompanhe as atualizações na #globonews #trump #taxa #estadosunidos #brasil View all 20,926 comments 




Se aplicada, a alíquota de 50% sobre produtos brasileiros vai causar impacto em vários setores produtivos, principalmente exportadores de carne, café, ferro e suco de laranja, além da Embraer, e pressionará a economia doméstica com a elevação dos preços nas prateleiras. Somam-se a isso a imagem manchada da diplomacia pelo alinhamento com o eixo anti-Ocidente, de China, Rússia e Irã, e a escalada autoritária do Supremo — ou “caça às bruxas”, que no caso significa caça à direita, como disse Donald Trump. 

O governo americano decidiu olhar com lupa para o Brasil nas últimas semanas. Além das tarifas, foi aberta uma investigação sob a chamada Seção 301 da legislação de comércio americana, de 1974. O que isso significa? A lei trata de “atos, políticas ou práticas de um país estrangeiro que são desarrazoadas ou discriminatórias e prejudicam ou restringem o comércio dos Estados Unidos”. É uma linha de apuração abrangente, com desfecho imprevisível. 

O documento do Representante Comercial dos Estados Unidos (USTR, na sigla em inglês) cita também a insegurança jurídica que o país vive por causa de decisões de Cortes superiores. A Operação Lava Jato não é mencionada nominalmente, mas o texto fala sobre o afrouxamento de leis regulatórias, decisões contra plataformas digitais e corrupção — o terreno fértil para quem quer roubar. 

Em suma, a chance de o Brasil sair ileso da confusão armada por Lula e Alexandre de Moraes é muito pequena. O pagador de impostos será novamente prejudicado, a fervura política seguirá causando estrago em Brasília, e o governo do PT forçará a judicialização de tudo que o Congresso Nacional não topar — o principal exemplo foi a decisão desta semana de Moraes a favor do governo (leia mais abaixo). 

Se o cenário de conflito com a Casa Branca é tão ruim para o país, por que o consórcio PT-STF não cede? Por exemplo: fazer um acordo para anistiar os presos pelo tumulto do 8 de janeiro, como ocorreu com a própria esquerda em 1979, encerrar inquéritos abertos há anos — o inquérito-matriz tem mais de seis anos — para perseguir a direita, e parar com discursos contra o uso do dólar como moeda corrente mundial para agradar Vladimir Putin e a ditadura chinesa. Aliás, não se trata apenas de provocações contínuas aos americanos. 

Outros países, especialmente na Europa, agora estão incomodados com as escolhas diplomáticas de Lula. O alerta mais recente aconteceu na terça-feira, 15. O secretário-geral da Organização do Tratado do Atlântico Norte (Otan), Mark Rutte, disse que o Brasil pode ser duramente punido com sanções se continuar fazendo negócios com a Rússia. A Otan reúne nada menos do que 31 países da Europa e da América do Norte. O bloco decidiu impor prazo de 50 dias para que Putin interrompa as ações militares contra a Ucrânia. 

“Se a Rússia não levar a sério as negociações de paz, em 50 dias serão aplicadas sanções secundárias a países como Índia, China e Brasil. Meu incentivo para esses três países em particular é que olhem para isso, porque podem ser duramente atingidos”, afirmou Rutte. “Então, por favor, telefonem para Putin e digam a ele que precisa levar a sério os acordos de paz, porque, caso contrário, isso vai acontecer no Brasil, na China e na Índia.”

Desde o retorno do PT ao poder, a Rússia se tornou a principal vendedora de óleo diesel para o Brasil: US$ 12,4 bilhões, mais que o dobro da parcela dos Estados Unidos. Há grande fluxo também no mercado de fertilizantes para lavouras, principalmente o potássio — maior consumidor global, o Brasil desembolsa cerca de US$ 4 bilhões (veja quadro abaixo).


O mundo já percebeu o que está em curso no Brasil. A revista britânica The Economist, que de longe não pode ser classificada como uma publicação conservadora, escreveu: “O papel do Brasil no centro de um Brics, expandido e dominado por um regime autoritário, faz parte da política externa cada vez mais incoerente de Lula”.

“O país se inclinou para a direita. Muitos brasileiros associam o Partido dos Trabalhadores à corrupção, por causa de um escândalo que levou Lula à prisão por mais de um ano”, diz a revista. E conclui: “Por isso Lula é impopular em casa”.


Na primeira fileira, Geraldo Alckmin, vice-presidente da República; Mohammed Abdulsalam, porta-voz dos Houthi; Ziyad Al-Nakhalah, líder da Jihad Islâmica; general Naim Assem, vice-líder do Hezbollah; e Ismail Haniyeh, líder do Hamas, morto horas depois em ataque em Teerã (30/7/2024) | Foto: Press TV 

Projeto de poder ameaçado 

Uma semana depois do anúncio do “tarifaço”, a cúpula do governo não consegue retirar o presidente de campo para minimizar o estrago com o microfone à mão — leia-se provocações em série, como fez em entrevista à CNN internacional. 

“Se o Trump morasse no Brasil e tentasse fazer aqui o que ele fez no Capitólio, certamente ele também estava julgado e poderia ser preso”, disse à emissora. “Tenho certeza de que o presidente americano jamais negociou 10% do que eu negociei na minha vida”, afirmou num palanque da União Nacional dos Estudantes (UNE). “Não é um gringo que vai dar ordem.” 

Como os próprios ministros afirmam em conversas com jornalistas, Lula atualmente “só fala para dentro do PT”. Não há possibilidade de capitanear qualquer negociação dessa envergadura. A saída escalar outros negociadores. No entanto, a situação pode piorar: alguém teve a ideia de convocar para a missão o vice, Geraldo Alckmin, e os presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e da Câmara, Hugo Motta. 

Qual é a chance de autoridades americanas levarem esse trio brasileiro a sério? 

A primeira reação nas redes sociais, por exemplo, foi o resgate de uma foto de Alckmin ao lado de terroristas no Irã, país cujas instalações nucleares foram bombardeadas pelos Estados Unidos no mês passado. Mais: não há pacificação com a equipe de marqueteiros do PT com dinheiro na mão. Eles inundaram as redes sociais com robôs para amplificar o discurso raivoso de Lula. 

\Segundo uma reportagem do jornal O Globo nesta semana, os perfis fakes chegam a disparar 20 postagens por minuto. Foi 1,6 milhão de publicações pró-governo, sendo que um terço das postagens partiu de um grupo de apenas mil contas. O jornal O Estado de S. Paulo revelou que por trás desses robôs estão integrantes do Instituto Lula, da fundação petista Perseu Abramo e de sindicatos Um dado relevante: ninguém foi acionado pela Procuradoria-Geral da República ou incluído até agora nos inquéritos contra fake news (ou desinformação) do gabinete de Alexandre de Moraes. Por quê?


Hugo Motta, Geraldo Alckmin e Davi Alcolumbre (16/7/2025) | Foto: Reprodução/X

No caso dos líderes do Congresso, tanto Motta quanto Alcolumbre têm um problema maior pela frente. Na quarta-feira, Alexandre de Moraes atropelou uma decisão legítima das duas Casas contra o aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Ao socorrer Lula com uma canetada monocrática, Moraes ofendeu gravemente os 383 deputados que votaram contra o projeto — quórum suficiente, por exemplo, para aprovar impeachment, e muito superior aos 308 votos de uma emenda constitucional. O Senado também havia chancelado a decisão da Câmara em plenário. 

Não é exagero afirmar que o ambiente de estresse político em Brasília é similar ao de 2016, nos piores dias de Dilma Rousseff. Traduzindo: a economia na lona e o Legislativo sem governabilidade. À época, contudo, não havia conluio entre o PT e o Supremo — pelo contrário, eram tempos de Lava Jato, e o povo estava nas ruas. Desmoralizados, Motta e Alcolumbre estão em silêncio. 

Mas como ficam Lula e seus aliados no Supremo diante desse tsunami que pode prejudicar milhões de trabalhadores e quebrar o Brasil? Eles são especialistas em procurar culpados — o escolhido, desta vez, é Donald Trump. Tanto o petista quanto os ministros de toga já deixaram claro que sua preocupação não é com a economia, como pensa a maioria da população. O futuro de todos eles passa por permanecer no poder. 


Alexandre de Moraes, durante sessão plenária do STF (14/5/2025) - Foto: Fellipe Sampaio/STF


Sílvio Navarro - Revista Oeste