Além da jabuticaba, presidente que nada aprendeu por preguiça só dá no Brasil
Em 2011, convidado para a conferência de abertura da Flip, o professor Antonio Candido avisou na chegada a Paraty que trataria apenas de escritores e livros. “Não estou aqui para falar de política nem de PT”, preveniu o crítico tão exigente que interrompia a leitura de uma obra de estreia se fosse confrontado com um distraído cacófato. Melhor assim. Se entrasse nesses temas, acabaria falando do amigo Lula. E decerto reincidiria em declarações que promoviam a doutor de nascença um analfabeto funcional por opção.
“No caso de Lula, essa história de despreparo é bobagem”, decidiu Antonio Candido em 2007. “Ele tem uma poderosa inteligência e uma capacidade extraordinária de absorver qualquer fonte de ensinamento que existe em volta dele — viajando pelo país, conversando com o povo, convivendo com os intelectuais”, entusiasmou-se um dos mais celebrados catedráticos da Universidade de São Paulo. “E ele não repete o que ouve. Reelabora o que aprende. Isso é muito importante num líder.”
Numa noite de 1981, Flávio Rangel intrigou-se com algumas citações do líder sindical que no ano anterior fundara o PT. De onde viera aquilo? Resolveu desfazer o mistério com uma curta conversa gravada em vídeo.
— Você não está estudando nada? Você sente necessidade de estudar? — perguntou o gênio do teatro.
A resposta juntou oito frases. Nas sete primeiras, Lula derrapa num surto de sinceridade:
— Primeiro, eu acho que sou muito preguiçoso. Até pra ler eu sou preguiçoso. Eu não gosto de ler, eu tenho preguiça de ler. Pelo hábito, isso é questão de hábito. Tem companheiro que passa um dia lendo um livro. Eu não consigo.
O elogio da vadiagem é interrompido pela oitava frase, declamada pelo feroz inimigo da verdade:
— Eu tô com um livro pra ler, aquele 1964, a Conquista do Estado, e faz três meses que eu tô na página 300.
A cara de quem está contando outra mentira confirma que, se é que abriu o livro, não chegou a 300 linhas. Ou 30 palavras. É o primeiro presidente da história do Brasil que não lê (“É pior que exercício em esteira”) nem sabe escrever. Tenho guardada toda a obra manuscrita de Luiz Inácio Lula da Silva. São três bilhetes e um indecifrável conjunto de letras e números, que parecem desenhados por um aluno do jardim de infância.
“Eu cheguei à Presidência mesmo sem ter curso superior”, repete Lula a frase que nasceu como pedido de desculpas, tornou-se desafio, foi promovida a motivo de orgulho e acabou transformada em refrão do hino à estupidez. Longe do trabalho duro desde 1977, quando descobriu a doce vida de dirigente sindical, depois substituída pelo paraíso dos que vivem de palavrório, ele não estudou porque não quis. A celebração da ignorância é sobretudo um insulto aos pobres que lutam para assimilar conhecimentos. É também uma agressão aos homens que sabem. Neste Brasil pelo avesso, os que aprenderam português logo terão de pedir licença aos analfabetos para expressarse corretamente.
Um político não precisa transformar-se em enciclopédia humana para tornarse um bom governante. Mas jamais estará preparado para governar uma nação alguém que fez da própria cabeça um deserto de conhecimentos essenciais. Lula nunca assistiu a uma única e escassa aula de geografia ou história. Nem leu sequer asteriscos de biografias que ensinam a identificar um estadista. É um zero com louvor em qualquer campo do conhecimento humano. Mas se acha com Ph.D. em tudo
A formação intelectual indigente de Lula provoca efeitos que vão muito além das medonhas sessões de tortura a que é submetido rotineiramente o idioma nacional. Só um Ph.D. em ignorância seria capaz de propor a substituição do dólar como moeda de referência internacional por outra que ainda será parida pela companheirada do Brics. Só um analfabeto em Oriente Médio poderia candidatar-se a mediador do confronto entre Israel e o Hamas. Lula vive afirmando que, depois de 15 minutos numa mesa de botequim, representantes da única democracia da região e dos terroristas palestinos estariam convivendo tão bem quanto os árabes e os judeus de São Paulo.
Durante a campanha eleitoral, convencido de que lutava contra “o nazismo de cara nova”, apoiou Joe Biden (e depois Kamala Harris). Agora ameaçado pelo tarifaço, Lula acha que Donald Trump quer ser imperador. É muito mais que isso: é o homem mais poderoso do mundo, por comandar a única superpotência do planeta. Mas pode ser contido por uma porção matinal de jabuticaba, “que só dá no Brasil”. Nada de mais. Também só dá por aqui presidente que nada aprendeu por preguiça.
Augusto Nunes - Revista Oeste