Em editorial publicado nesta quinta-feira, 17, jornal diz que o ministro volta a se apoiar em provas ilegais para livrar mais um condenado na Lava Jato
A decisão do ministro Dias Toffoli, do Supremo Tribunal Federal (STF), de anular todos os atos da Lava Jato contra o doleiro Alberto Youssef gerou reação no meio jurídico e político. Nesta quinta-feira, 17, o jornal O Estado de S. Paulo publicou um editorial intitulado “Farisaísmo no Supremo”, no qual acusa o magistrado de desmoralizar o Judiciário e destruir o legado da “maior operação anticorrupção da história do país”.
No texto, o jornal afirma que Toffoli “fez o impensável”, ao se apoiar em provas obtidas ilegalmente para anular a condenação de um “criminoso confesso condenado a mais de 120 anos de prisão”. O editorial também acusa o ministro de agir de forma solitária e questiona a legitimidade de suas decisões.
“Sozinho, o que é outro problema, o sr. Toffoli emporcalhou a história republicana do Supremo”, escreveu o Estadão. “E, como se isso não bastasse, degradou ainda mais a confiança dos brasileiros no sistema de Justiça deste país.”
O jornal cita a Operação Spoofing — investigação que revelou mensagens obtidas por hackers entre procuradores da Lava Jato e o ex-juiz Sergio Moro — como base frágil e ilegal para a decisão do ministro. Para o jornal, ao usar esse material, Toffoli teria ignorado as provas fornecidas pelo próprio Youssef em seu acordo de delação premiada, homologado pelo STF.
“O ministro apegou-se a uma suspeita, fruto de um ato criminoso, para jogar no lixo um robusto conjunto probatório fornecido às autoridades, pasme o leitor, pelo próprio condenado”, critica o jornal. Estadão critica a atuação individual de Toffoli e o STF.
O editorial vai além da decisão específica e traça críticas ao
comportamento recorrente do ministro Toffoli em processos ligados
à Lava Jato. Segundo o jornal, há um movimento de revisão de
condenações que beneficia criminosos confessos e enfraquece a
credibilidade do Supremo Tribunal Federal.
“O sr. Toffoli está empenhado em escarnecer do próprio ideal de justiça e do dever do Estado em provê-la aos cidadãos”, afirma o Estadão. A publicação ainda descreve o Supremo como uma “vergonhosa ermida” para os beneficiados por esse tipo de decisão.
O texto também cita suposto conflito de interesse do ministro. Isso porque ele foi mencionado em delação da Odebrecht como “o amigo do amigo de meu pai”. A referência envolveria, segundo o delator Marcelo Odebrecht, ex-presidente da empreiteira, o próprio Toffoli, o ex-presidente Lula e Emílio Odebrecht.
“O sr. Toffoli incorre numa contradição inaceitável e corrosiva para o Poder Judiciário”, conclui o jornal. “O prejuízo para o país é imenso.”
Revista Oeste