sexta-feira, 11 de julho de 2025

'A conta chegou' - Sílvio Navarro

 Com uma dura mensagem de que não vai tolerar perseguições políticas e um 'tarifaço' a caminho, Donald Trump mostra que a paciência com Lula e o Supremo Tribunal Federal está perto do fim


Foto: Revista Oeste/IA 


P ela primeira vez na história deste país, o presidente dos Estados Unidos da América chamou a atenção do mundo para um problema que avança no Brasil: a ditadura disfarçada do Supremo Tribunal Federal (STF), que tem como representante à frente do governo o petista Lula da Silva, disposto a atrapalhar o Ocidente. Nesta semana, Donald Trump apontou o dedo para o Brasil seguidas vezes — e mandou a conta. 

Aos fatos: o terremoto diplomático — e econômico — começou com duas publicações de Trump na sua rede social, a Truth Social. O americano disse, sem nenhum rodeio: “Deixem Jair Bolsonaro em paz”. Chamou a perseguição implacável contra o ex-presidente, conduzida pelo ministro do STF Alexandre de Moraes, de “caça às bruxas”. Bolsonaro permanece inelegível por decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e responde, na Primeira Turma do STF, a uma ação penal por um golpe de Estado que não existiu. 

“Eu tenho assistido, assim como o mundo, como eles não fizeram nada além de ir atrás dele, dia após dia, noite após noite, mês após mês, ano após ano. Ele não é culpado de nada, exceto por ter lutado pelo povo”, afirmou Trump. A frase mais importante, contudo, foi esta: “Estarei assistindo à caça às bruxas de Jair Bolsonaro, de sua família e de milhares de seus apoiadores muito de perto”. 

De fato, Trump está assistindo a tudo de perto (leia artigo de Ana Paula Henkel nesta edição). E ele viveu o seu 8 de janeiro de 2023, nos Estados Unidos, numa data anterior: 6 de janeiro de 2021, com a invasão do Capitólio, prédio que abriga o Congresso americano. O roteiro é muito parecido com o tumulto de Brasília. Trump conhece bem a “caça às bruxas” — e sobreviveu a ela. E fez questão de alertar o mundo nesta semana. O americano, sobretudo, conseguiu furar a bolha do continente e jogar luz sobre o que o PT e os ministros do STF estão fazendo com a democracia brasileira — jornais do mundo inteiro repercutiram suas postagens.

As declarações chacoalharam Brasília, mas eram só o prenúncio de algo muito maior, anunciado na tarde da quarta-feira, 9. Aliás, essa tem sido uma das características de Trump desde a sua volta ao poder: quando ele se manifesta enfaticamente por meio de redes sociais, é sinal de que a segunda onda será mais forte. E foi: a pancada no governo Lula foi confirmada numa carta (leia a íntegra abaixo). Os Estados Unidos decidiram impor uma sobretaxa de 50% sobre os produtos brasileiros a partir de 1º de agosto. 

Se aplicada, a supertarifa será maior do que as 21 anunciadas por Trump a outras nações — a faixa imposta ao Japão e à Coreia do Sul foi de 25%. A sobretaxa terá forte impacto em produtos exportados, como café, suco de laranja, carnes e ferro, o que, obviamente, vai prejudicar produtores e empresários brasileiros. Alguns setores já se manifestaram. Por exemplo: produtores de carne calculam que a alíquota elevaria o preço médio da carne exportada de US$ 5.732 por tonelada para US$ 8,6 mil, o que inviabilizaria as vendas para os Estados Unidos. 


Rafael Furlanetti



Com frases assertivas, Trump manifestou sua irritação com o alinhamento de Lula ao eixo Rússia-China e a retórica anti-Ocidente. Vale lembrar que o Brasil deu guarida ao Irã, cujas instalações nucleares foram bombardeadas pelos Estados Unidos recentemente em apoio a Israel. 

Na seara diplomática, o governo do PT produziu um festival de insanidades: permitiu que os iranianos atracassem navios usados para terrorismo na costa do Rio de Janeiro, não condenou grupos como Hamas e Hezbollah, optou por se juntar ao russo Vladimir Putin na guerra contra a Ucrânia, recebeu o ditador venezuelano Nicolás Maduro com tapete vermelho em Brasília, disse que o fórum do G7 (sete maiores economias do planeta) é risível, além da bajulação interminável ao regime chinês. É como um rastilho de pólvora que termina no principal ponto: a economia. 

No campo econômico, o Brasil não só preside o Banco do Brics, com sede em Xangai — Dilma Rousseff permanece na cadeira —, como promoveu um encontro de representantes no último fim de semana, no Rio de Janeiro. A principal finalidade do convescote foi malhar os Estados Unidos. Desde o primeiro dia do mandato, Lula ataca abertamente o uso do dólar como moeda corrente internacional. Mais: às vésperas da eleição americana, em novembro, Lula disse que a vitória de Trump representaria “a volta do fascismo e o nazismo com outra cara”. 

“Eu acho que o mundo precisa achar um jeito para que as relações comerciais não precisem passar pelo dólar”, disse Lula nesta semana. O “tarifaço” foi anunciado dois dias depois. “O que eles estão tentando fazer é destruir o dólar. Perder o dólar como padrão mundial é como perder uma guerra mundial”, respondeu Trump (veja o vídeo abaixo).

O nome de tudo isso é provocação — e, em política externa, isso motiva consequências. Mas, como se não bastasse, Trump tem mais motivos para retaliar o consórcio de poder STF-PT. O primeiro é que Lula e os ministros togados buscam incansavelmente meios para emparedar as big techs americanas, como a Meta (controladora do Facebook e do Instagram), o Google e o X, de Elon Musk — o empresário, aliás, já foi xingado em público pela primeira-dama, Janja da Silva. Os Estados Unidos entenderam a punição aplicada a essas gigantes de tecnologia, sob o argumento de “regulação das redes sociais”, como censura. Logo, censura contra empresas e cidadãos americanos, punidos sucessivamente há anos pelo ministro Alexandre de Moraes. 

A Primeira Emenda da Constituição americana é clara: “O Congresso não fará lei relativa ao estabelecimento de religião ou proibindo o livre exercício desta, ou restringindo a liberdade de palavra ou de Sam Pancher @SamPancher · Seguir Só pra constar: A fala de Lula é de 7 de Julho 

A fala de Trump é do dia seguinte imprensa, ou o direito do povo de reunir-se pacificamente e dirigir petições ao governo para a reparação de seus agravos”. Empresas e cidadãos americanos respondem à Constituição local, e não ao que o STF brasileiro quer.

No campo jurídico, a definição de “ataques digitais contínuos do Brasil às atividades de empresas americanas” e a defesa enfática de Bolsonaro — a mais eloquente da história — são sinais de que Trump avalia seriamente aplicar sanções internacionais contra autoridades. A mais citada é a Lei Magnitsky (Magnitsky Act, de 2012), que permite ao governo americano bloquear recursos financeiros e barrar a entrada no país. Alexandre de Moraes seria o destinatário preferencial por violação de direitos humanos e cerceamento de liberdade. Mas há sinais de que a munição não se esgote no STF. O senador norteamericano Shane David Jett enviou uma carta ao procurador-geral da República, Paulo Gonet, cobrando esclarecimentos sobre “medidas adotadas para combater ilegalidades noticiadas na imprensa brasileira e internacional diante da possibilidade de sanções americanas”. Gonet é o responsável formal pela acusação nos inquéritos da Corte.


Jair M. Bolsonaro - Recebi com senso de responsabilidade a notícia da carta enviada pelo presidente Donald J. Trump ao governo brasileiro, comunicando e justificando o aumento tarifário de produtos brasileiros. Deixo claro meu respeito e admiração pelo Mostrar mais 


A primeira reação de Lula ao receber a notícia na quarta-feira foi reunir um gabinete de crise formado pelos principais auxiliares, cuja inabilidade política explica o abismo em que o país mergulhou: Geraldo Alckmin (vice), Rui Costa (Casa Civil), Fernando Haddad (Fazenda), Mauro Vieira (Relações Exteriores) e o assessor especial Celso Amorim, principal representante das teorias jurássicas do “imperialismo estadunidense”. 

Da reunião, saiu o seguinte comunicado, divulgado pelo petista: “Qualquer medida de elevação de tarifas de forma unilateral será respondida à luz da Lei brasileira de Reciprocidade Econômica”. O texto trata da defesa de Trump a Jair Bolsonaro e das queixas do americano aos ataques às empresas de tecnologia. “O processo judicial contra aqueles que planejaram o golpe de Estado é de competência apenas da Justiça Brasileira e, portanto, não está sujeito a nenhum tipo de ingerência ou ameaça que fira a independência das instituições nacionais.” 

Lula - Tendo em vista a manifestação pública do presidente norte-americano Donald Trump apresentada em uma rede social, na tarde destaquarta (9), é importante ressaltar: O Brasil é um país soberano com instituições independentes que não aceitará ser tutelado por ninguém. O processo Mostrar mais 

Paralelamente, as bancadas do PT e do Psol no Congresso recorreram ao manjado discurso contra Jair Bolsonaro. Cada vez mais isolados e sem comando em Brasília, os petistas têm um único discurso para todas as horas: a culpa é sempre do ex-presidente, independentemente do motivo. 

Um dado, no entanto, não pode ser desconsiderado. O cenário político no país mudou drasticamente nos últimos meses. A gritaria da esquerda agora enfrenta uma muralha que transbordou o chamado “bolsonarismo”, num típico clima de pré-eleição. Políticos do centrão juntaram-se na trincheira anti-Lula pensando nas urnas em 2026. Com a popularidade em queda livre, sem projetos para salvar o mandato nem palanques regionais — e agora diante da encrenca com Trump —, o petista ouve críticas de todos os lados. 

Conforme os próprios aliados de Lula afirmam em entrevistas na TV, o governo não engoliu a derrota pelo aumento de impostos — o placar humilhante de 383 a 98 na votação do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF). Porém, em vez de buscar um caminho para aplacar os ânimos, Lula mandou o PT radicalizar e sacou o empoeirado discurso do “nós contra eles”, das décadas de 1980 e 1990. O partido, agora comandado por Edinho Silva, com a tutela de José Dirceu, obviamente gostou da radicalização. Em entrevista à GloboNews na quinta-feira, Edinho disse que Trump “é o maior fascista do século 21”.

Até as pontes com governadores, que evitavam embates diretos por causa de recursos da União, foram implodidas nas últimas semanas. “Lula não está fazendo nada fora do script. Pelo contrário, segue à risca o que Hugo Chávez fez na Venezuela, ao afrontar gratuitamente o governo americano”, afirmou o governador de Goiás, Ronaldo Caiado, do União Brasil. “De caso pensado, ele declara uma guerra contra o Congresso e tenta deflagrar uma luta de classes entre ricos e pobres depois de ter assaltado os aposentados.” 

O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos), seguiu a mesma linha. “Lula colocou sua ideologia acima da economia, e esse é o resultado”, disse. “Tiveram tempo para prestigiar ditaduras, defender a censura e agredir o maior investidor direto no Brasil. Outros países buscaram a negociação. Não adianta se esconder atrás do Bolsonaro.”

Romeu Zema (Novo), de Minas Gerais, disse: “As empresas e os trabalhadores brasileiros vão pagar, mais uma vez, a conta do Lula, da Janja e do STF. Ignorar a boa diplomacia, promover perseguições, censura e ainda fazer provocações baratas vai custar caro”. 

O fato é que, ao misturar o “tarifaço” com a perseguição a Bolsonaro, o presidente americano entendeu que o governo do PT e o STF são a mesma coisa. Mirou, atirou e mostrou que a democracia brasileira não é mais exercida em plenitude. Pelo contrário, há uma escalada de autoritarismo do Judiciário, que caminha de mãos dadas com um governo disposto a abraçar China, Rússia e demais aliados por questões ideológicas. O Brics é só o escudo. 

É evidente que sobretaxar setores da economia brasileira não agrada a ninguém que produz e já paga impostos em excesso. Politicamente, pode até ser um remédio que termine em veneno. Ou seja, ao defender Bolsonaro, Trump poderia favorecer Lula. Mas o que, afinal, ainda pode favorecer Lula politicamente? A esta altura, o brasileiro já sabe quem é o responsável pela conta que chegou: o consórcio STF-PT.

Leia abaixo a íntegra da carta de Trump a Lula.






Sílvio Navarro - Revista Oeste