Lula apresentou o último plano de sua ronda no governo: transformar o Brasil num país de “classe média”. (Foto: reprodução/Canal Gov)
Em uma coisa, pelo menos, dá contar com Lula com 100% de certeza: todas as vezes, sem exceção, que sente a sombra de um problema passar por perto, sai dizendo mecanicamente que o responsável não é ele, de jeito nenhum. Mais: delata imediatamente alguém que esteja por perto e joga em cima dele a culpa por tudo que possa acontecer de desagradável em torno da questão. Seu dedo duro apontou direto para a presidente da Petrobras, desta vez. “Eu não tenho nada a ver com o aumento de preço do combustível”, afirmou há pouco. “Quem resolve isso é a Petrobras”.
Pronto: o problema não existe mais. É Lula, mais uma vez, oferecendo o seu X-tudo de mentiras. Na sua cabeça (ou na cabeça do seu novo serviço de propaganda) ninguém vai achar que ele tem alguma coisa a ver com o aumento dos preços. Vão achar que a culpa é dessa Magda que ele fez questão de colocar na presidência da Petrobras.
É assim, simplesmente, que funcionam os circuitos mentais do presidente. A realidade não entra ali dentro. Nem a coragem moral, é claro, de assumir a responsabilidade sobre qualquer coisa. A culpa é sempre do adversário – ou se for preciso, como nesse caso da Petrobras, do aliado mesmo.
O Brasil de “classe média”, pelo que se imagina, terá cotas reservadas a milionários para abrigar o próprio Lula, os irmãos Batista, os Odebrecht e todos os amigos dos amigos do pai de alguém
Lula, quando lhe interessa, diz o exato contrário do que acaba de dizer – é ele sim, e mais ninguém, que manda na Petrobras. Ele já falou que “não é possível” que a Petrobras, uma empresa mundial, opere com preços mundiais; proclamou à República que iria “abrasileirar” esses preços, para ficarem “mais baratos”. Já disse que a companhia não tem de dar lucro. Já disse que os acionistas privados são aproveitadores gananciosos; não é o que está nos estatutos da empresa, mas e daí? Não é possível isso. Não é possível aquilo. Quem manda sou eu. O mesmo aconteceu agora, com a fala de Lula sobre a classe media.
Resolvido o problema do aumento dos combustíveis (“a presidente da Petrobras não precisa vir me pedir licença para aumentar o preço”, disse ele), Lula apresentou o último plano de sua ronda no governo: transformar o Brasil num país de “classe média”. Mas como assim? A sua filósofa-chefe, a professora Chaui, disse (e nunca desdisse) o seguinte: “Eu odeio a classe média”. O próprio Lula, ainda há não muito tempo, excomungou a classe média por querer ter mais do que uma televisão, ou geladeira. De mais a mais, para onde vai todo o seu socialismo? O socialismo não admite a existência da classe média; só se aceita a classe proletária.
O Brasil de “classe média”, pelo que se imagina, terá cotas reservadas a milionários para abrigar o próprio Lula, os irmãos Batista, os Odebrecht e todos os amigos dos amigos do pai de alguém. Quanto à classe média, propriamente dita, é bom ninguém ficar muito animado com o futuro a ser trazido por Lula.
Depende muito, entre outras coisas, de quem vai mandar no IBGE. Pelas contas que estão fazendo por lá, com 665 reais por mês o sujeito não é mais pobre. Como também não se entra no clube de Lula e seus parceiros milionários com uma renda dessas, a única dedução possível é que quem bater nos 665 já estará na classe média. O duro, daqui a pouco, vai ser encontrar um pobre, um só que seja, no Brasil de Lula.
J.R. Guzzo - Gazeta do Povo