Confluência de fatores positivos, muitos deles alheios à vontade de Lula, levaram a elevação da nota do Brasil pela agência Fitch.| Foto: Andre Borges/EFE
A agência internacional Fitch, uma das mais prestigiadas no setor de “rating” financeiro, subiu a nota do Brasil. Agora somos BB – o que não é lá essas coisas, mas é melhor do que ser menos, e muito melhor do que a classificação de Argentina, Venezuela e outras economias em processo de extinção. Na Alemanha ou no Canadá ninguém se importaria com a notícia, porque eles não precisam da Fitch para saber se vão bem ou mal, mas aqui é coisa de primeira página – país de Terceiro Mundo é isso mesmo, sempre ligado no que os ricos dizem a seu respeito de tempos em tempos. No caso da Fitch e do Brasil a avaliação foi indiscutivelmente positiva. Temos um país solvente, e isso é essencial para todo o resto.
A nota da Fitch não é um julgamento sobre o desempenho geral da economia brasileira. A Fitch é uma agência de avaliação de risco, e o que faz é exatamente isso: avalia quais são os riscos, para um investidor estrangeiro, de não receber de volta o dinheiro que aplicou no Brasil. Quanto mais alta a nota, menor o risco. Considera-se, no momento, que esse risco baixou – o que não significa que os investidores internacionais vão começar a despejar bilhões de dólares no Brasil daqui a cinco minutos.
O governo simplesmente não existe. Mas, do ponto de vista da estabilidade financeira, as coisas estão em ordem até agora.
Na verdade, nunca o nível de investimento externo esteve tão baixo como agora. Mas é muito melhor do que se o risco tivesse aumentado. A grande vantagem disso tudo é que não se trata de palpite de economista, desses que a mídia fica entrevistando dia sim dia não. É uma análise lógica que vem da observação dos fatos. Só isso: dos fatos como eles são.
A avaliação da capacidade do Brasil para pagar seus compromissos externos melhorou, de cara, pelo volume das reservas internacionais que vêm sendo acumuladas há anos, e que o atual governo está conseguindo manter – 350 bilhões de dólares pelas últimas contas, o que nos coloca entre os dez países do mundo com maiores caixas em moeda forte. A inflação, nesses primeiros sete meses de governo Lula, continua baixa. O dólar está valendo menos do que valia no ano passado; o real, aliás, é uma das moedas mais estáveis da América Latina, e mesmo além dela.
O dinheiro não perde o seu valor – e isso é um elemento vital para a saúde da economia. Não há missões do FMI negociando esmolas por aí. O Brasil fez grandes reformas que outros países não fizeram, como a reforma da Previdência Social, e está colhendo agora os frutos das decisões corretas que soube tomar. O Banco Central é independente da intromissão política do governo e das gangues que operam no Congresso, as duas maiores ameaças de assalto que existem para o Tesouro Nacional – e uma garantia fundamental para a estabilidade da moeda.
Há uma pressão maligna para o aumento explosivo do gasto público. O ritmo do crescimento é ruim. Não há investimento, nem melhora no emprego, nem aumento na renda. O governo simplesmente não existe – conseguiu, desde janeiro, não abrir uma única bica d’água em todo o território nacional. Mas, do ponto de vista da estabilidade financeira, as coisas estão em ordem até agora. Para continuarem assim, o governo nem precisa de grandes ideias ou grandes decisões. Basta não levar adiante as repetidas propostas de suicídio econômico feitas da discurseira colérica do presidente da República e da sua multidão de puxa-sacos.
J.R. Guzzo, Gazeta do Povo