O Ministério Público Federal e a Polícia Federal têm buscado a cooperação com países da Europa, a fim de identificar empresas que importam madeira ilegal do Brasil e para que sejam punidas. Responsável pela operação Arquimedes, que tem desarticulado uma rede de exportação ilegal de madeira a partir da Amazônia, o procurador Leonardo Galiano afirma que quem compra madeira ilegal não são os países, mas, sim, as companhias neles instaladas.
“Várias empresas de países europeus estão envolvidas. Não é um país comprando de outro país. É a empresa que vai fabricar móveis, pisos e acaba adquirindo esse insumo. São madeiras de altíssimo valor agregado”, disse Galiano.
O mercado brasileiro de madeira é, historicamente, marcado pela ilegalidade. Não há números precisos sobre a dimensão das atividades criminosas no setor, mas estima-se que até 90% das madeiras que vão para fora do País são fruto de extração irregular.
Além de buscar cooperação internacional com a Europa, no sentido de punir as empresas importadoras, as tratativas com os Estados Unidos também vêm ocorrendo e estão avançadas. Os investigadores têm buscado o compartilhamento de provas e montado equipes conjuntas.
Em 2017, na 1.ª fase da operação Arquimedes, 10 mil m³ de madeira, volume que, se enfileirado, cobriria o percurso entre Brasília e Belém (1,5 mil quilômetros), foram apreendidos. A carga iria para outros Estados e países da América do Norte, da Ásia e da Europa.
Em abril do ano passado, a Justiça Federal do Amazonas autorizou o compartilhamento de provas da operação, a maior já realizada no País, com o Departamento de Justiça dos Estados Unidos. O acordo, solicitado pelo Ministério Público Federal, visava a possibilitar a repatriação da madeira ilegalmente exportada.
A expectativa é de que o mesmo aconteça com a Europa. “O que a gente tem percebido é que os Estados Unidos, por meio do Departamento de Justiça, e da agência equivalente ao Ibama, têm tido uma interação muito grande. A grande mensagem é essa: os EUA têm feito essa interlocução conosco ”, destacou o procurador.
Chefe da operação Arquimedes desde 2017, quando as investigações começaram, Galiano observou que o manejo sustentável de madeira tem sido usado como pano de fundo para operações ilegais na Amazônia. “Não existe retorno social, econômico e muito menos ambiental. Temos percebido desmatamento significativo, sem critérios e sem retornos para o Brasil. Uma grande usurpação do território nacional”, constatou.
Toda a polêmica veio à tona nesta terça-feira, 17, quando o presidente Jair Bolsonaro disse que revelará "nos próximos dias" a lista dos países que compram madeira ilegal da Amazônia. Em discurso na cúpula do Brics – grupo que reúne Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul –, Bolsonaro afirmou ver "injustificáveis ataques" sofridos pelo Brasil em relação à região amazônica. Segundo o presidente, algumas nações críticas a seu governo também importam, ilegalmente, madeira da Amazônia.
"Revelaremos, nos próximos dias, os nomes dos países que importam essa madeira ilegal nossa, através da imensidão que é a região amazônica", prometeu Bolsonaro na cúpula do Brics. "Porque daí, sim, estaremos mostrando que estes países, alguns deles que muitos nos criticam, em parte têm responsabilidade nessa questão", emendou.
Patrik Camporez, O Estado de S.Paulo