O menor número de deputados federais e senadores disputando eleições municipais em 30 anos teve reflexo nas urnas: somente quatro congressistas se elegeram no primeiro turno, queda de 60% em relação à mesma etapa de 2016.
Com isso, o número de parlamentares eleitos nos dois turnos pode, também, ser o menor em quase três décadas.
Levantamento do Diap (Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar) indica que apenas quatro parlamentares na atual legislatura —todos deputados federais— foram eleitos no primeiro turno. Em 2016, foram dez —também da Câmara.
Neste domingo, venceram Roberto Pessoa (PSDB), prefeito em Maracanaú (CE), e Alexandre Serfiotis (PSD), prefeito de Porto Real (RJ).
Outros dois congressistas foram eleitos vice-prefeitos: Paulinho (PL), em Caxias (MA), e Juninho do Pneu (DEM), em Nova Iguaçu (RJ).
A eleição municipal com o menor número de deputados e senadores eleitos para comandar prefeituras —considerando os dois turnos— foi a de 2008, quando apenas 18 congressitas foram eleitos, considerando prefeitos e vice-prefeitos.
Outros 15 parlamentares vão disputar o segundo turno neste ano —o pleito ocorre no dia 29. No entanto, será possível apenas igualar o índice de 2008, uma vez que a Prefeitura do Recife é disputada por dois deputados federais, os primos João Campos (PSB) e Marília Arraes (PT).
Dos 69 que disputaram, 50 não foram eleitos.
O analista político do Diap Neuriberg Dias lembra da baixa participação de congressistas nas eleições municipais. Uma das razões apontadas é a grande renovação pela qual passou o Congresso nas eleições de 2018.
Como muitos deputados e senadores estão em seu primeiro mandato, preferiram continuar nas Casas legislativas.
"Na permanência do mandato, os parlamentares hoje contam com instrumentos mais efetivos para a transferência de recursos para as bases eleitorais", disse. "Outra parte não disputou ou por questões de acordos políticos ou por causa desse cenário de incerteza para fazer a campanha durante a pandemia."
Dos atuais congressistas que ainda vão disputar o segundo turno das eleições municipais, 14 são deputados federais e apenas um senador. Oito deles são de partidos de esquerda.
Além de partidos como PT, PSOL, PSB e PDT, parlamentares de PROS, Podemos, Republicanos, PSD e Solidariedade —estes três últimos do centrão— estão no segundo turno, que só ocorre em cidades com mais de 200 mil eleitores.
Dias destaca que o resultado é fruto de uma estratégia em que os partidos de esquerda decidiram focar em municípios acima de 200 mil eleitores. Esses locais são considerados estratégicos pois causam impacto nos pleitos estaduais e federais.
"Esses municípios acima de 200 mil eleitores são, de fato, municípios-chave e que dão uma dimensão para a eleição para deputado federal e também uma dimensão e impacto para a eleição presidencial", afirma.
Dentre os 15, há 3 mulheres —além de Arraes, no Recife, estão na briga Margarida Salomão (PT), que disputa a Prefeitura de Juiz de Fora (MG), e Luiza Erundina (PSOL), vice de Guilherme Boulos (PSOL), em São Paulo.
O único nome abertamente apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido) é o do deputado federal Capitão Wagner (PROS), que terminou em segundo lugar na corrida pela Prefeitura de Fortaleza (CE).
Na avaliação dele, o tempo igual de propaganda eleitoral no rádio e na TV ajudará a conquistar mais eleitores.
"Apesar de tanta pancada, calúnia e difamação que sofri no primeiro turno pelo candidato dos Ferreira Gomes, permaneci com 33% das intenções de voto", disse, em nota. "Acredito muito na vitória no segundo turno com o tempo de TV equilibrado e as ações que serão desenvolvidas na ruas."
Dois senadores disputaram o primeiro turno das eleições municipais. Jean Paul Prates (PT) tentou a Prefeitura de Natal, eleição que acabou decidida ainda no primeiro turno, com a reeleição do prefeito Álvaro Dias (PSDB), com 56% dos votos.
O segundo senador a disputar as eleições municipais foi Vanderlan Cardoso (PSD), que está no segundo turno do pleito em Goiânia, com Maguito Vilela (MDB).
O senador, no entanto, vai precisar reverter a vantagem que seu adversário obteve no primeiro turno, que terminou com 36% dos votos para Vilela, contra 24% para Vanderlan.
Vanderlan disse acreditar que pode reverter o quadro no segundo turno, pois considera que a primeira etapa da votação foi confusa em Goiânia, por causa do grande número de candidatos. Ao todo, foram 15.
"Fizemos uma campanha alegre, uma campanha de propostas e o eleitor aceitou, então já foi uma vitória muito grande. Estamos no segundo turno. Vamos continuar da mesma forma", disse.
"Como o tempo de TV agora é maior, até mesmo vamos dar prioridade para explicar algumas propostas", afirmou