A soma de abstenções, votos brancos e nulos supera a votação recebida pelo primeiro colocado nestas eleições para prefeito em 483 cidades brasileiras. Dessas, 18 são capitais.
É o caso de São Paulo, onde 3,6 milhões de eleitores optaram por não escolher um candidato à prefeitura. O primeiro colocado no primeiro turno, o prefeito Bruno Covas (PSDB), teve 1,7 milhão de votos (32,85% dos votos válidos).
Ainda que a votação de Covas seja somada à de Guilherme Boulos (PSOL), que também irá ao segundo turno, o valor é menor que o número dos que não quiseram votar em um candidato: os dois juntos tiveram a preferência de 2,8 milhões de paulistanos.
O fenômeno acontece em outras oito capitais. Em Porto Velho, Palmas, Natal, João Pessoa, Curitiba, Rio de Janeiro, Porto Alegre e Goiânia, brancos, nulos e abstenções superam a votação do primeiro e do segundo colocado juntos. No total, isso aconteceu em 456 cidades, 38% delas no estado de São Paulo.
O número pode crescer, visto que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) ainda não finalizou a apuração em todos os municípios.
Nestas eleições, realizadas em meio à pandemia do coronavírus, a abstenção foi a maior em 20 anos. Em todo o país, não foram votar 23,1% dos eleitores, o equivalente a 3,9 milhões de pessoas. Na eleição municipal anterior, em 2016, os que se abstiveram foram 17,6%.
Ainda assim, o presidente do TSE, ministro Luís Roberto Barroso, elogiou o eleitorado e afirmou que, tendo em vista a pandemia, houve comparecimento em massa.
“Os níveis de abstenções foram inferiores a 25%, portanto, em plena pandemia, nós tivemos um índice de abstenção pouca coisa superior a das eleições passadas", disse em entrevista coletiva o presidente do tribunal, Luís Roberto Barroso, neste domingo (15). "Eu gostaria de cumprimentar, de coração, o eleitorado brasileiro que compareceu em massa apesar das circunstâncias.”
Os brancos e nulos, por sua vez, foram um pouco menos representativos: eram 10,9% há quatro anos, contra 9,6% nesta eleição.
Entre as capitais, Porto Alegre foi a campeã de abstenções, com 33,1%. Já em Vitória, Florianópolis e Manaus a proporção de eleitores que não foram votar no último domingo (15) mais que dobrou em relação à eleição passada.
No levantamento realizado nos dias 13 e 14 de novembro pelo Datafolha, 13% dos entrevistados indicaram que poderiam deixar de votar em função do coronavírus. O índice diminui em relação à pesquisa feita pelo instituto nos dias 21 e 22 de setembro, que apontou 21%.
O levantamento de novembro ouviu 2.987 eleitores e está registrado no Tribunal Regional Eleitoral com o número SP-01587/2020. Encomendado pela Folha em parceria com a TV Globo, tem margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou menos.
As mortes por coronavírus chegam a 166 mil até esta terça (17). O país registra quase 6 milhões de casos da doença, em meio a um aumento de internações e o temor de que haja uma nova onda de contaminações.
Flávia Faria, Folha de São Paulo