quinta-feira, 4 de junho de 2020

BC estima alta de 7,6% do crédito bancário em 2020 puxada por concessões a grandes empresas

Banco Central alterou nesta quinta-feira, 4, por meio do Relatório de Economia Bancária (REB), projeções para o mercado de crédito brasileiro em 2020, na esteira dos efeitos da pandemia provocada pelo vírus chinês sobre a economia. A estimativa de alta para o saldo de crédito este ano passou de 4,8% para 7,6%. 
Banco Central
Banco Central Foto: André Dusek/Estadão

A projeção de crescimento do crédito livre em 2020 passou de 8,2% para 10,6%. No caso dos recursos direcionados (poupança e BNDES), a projeção foi de zero para alta de 3,5%.
Os porcentuais anteriores constaram no Relatório Trimestral de Inflação (RTI), divulgado em março deste ano. De acordo com o BC, excepcionalmente o REB divulgado hoje trouxe atualização para a projeção de crédito, “tendo em vista a mudança expressiva na conjuntura”.
No relatório desta quinta-feira, 4, o BC também pontuou que o aumento na estimativa do saldo de crédito reflete os impactos da pandemia do novo coronavírus.
“Em especial, a aceleração de concessões repercute, principalmente, a busca por recursos por parte de empresas em face à redução dos fluxos de caixa”, registrou o BC. “Ressalte-se, adicionalmente, que o movimento também está influenciado pelos efeitos das medidas que abrangeram o mercado de crédito, buscando mitigar danos econômicos causados pelo surto de covid-19.”  

Empréstimos para grandes empresas devem puxar as concessões

As instituições financeiras esperam que o saldo de crédito para as grandes empresas suba 2,8% em 2020, após retração de 8,5% registrada em 2019. No caso das Micro, Pequenas e Médias Empresas (MPME), a projeção das instituições é de alta de 5% do saldo de crédito este ano, ante elevação de 5,6% em 2019.
O relatório mostra ainda que as instituições projetam alta de 6,2% do saldo de crédito voltado ao consumo em 2020, abaixo dos 16,6% de 2019. Já o crédito habitacional, conforme as projeções, cairá 0,3% este ano, após alta de 6,6% no ano passado.  
“Ao longo de 2020, o comportamento da economia brasileira e do mercado de crédito bancário será severamente influenciado pelos efeitos econômicos resultantes da pandemia de covid-19, bem como pelas medidas adotadas para minimizá-los”, avaliou o BC no REB.
“Apesar de os efeitos dessa crise ainda não serem visíveis em sua totalidade sobre o mercado de crédito nos primeiros meses de 2020, espera-se impacto significativo ao longo dos próximos meses em virtude da elevação de incertezas nos ambientes externo e doméstico, que se traduzem em menor perspectiva de crescimento econômico e elevação de prêmios de risco”, acrescentou a instituição.

Inadimplência também deve subir

Na esteira dos efeitos da pandemia do novo coronavírus sobre a economia, as instituições financeiras esperam que a inadimplência no crédito em 2020 atinja 2,8% entre as grandes empresas e 4,9% entre as Micro, Pequenas e Médias Empresas (MPME).
De acordo com a pesquisa, as instituições financeiras esperam inadimplência de 5,9% no crédito para consumo em 2020 e de 2,3% no crédito habitacional para pessoas físicas (PF).  
“Excetuando-se o crédito habitacional para PF, em todos os segmentos analisados, a mediana das expectativas de variação do saldo para 2020 é positiva, contudo, decorrente principalmente da necessidade de crédito por parte das empresas e famílias para complementar a renda que apresentou uma redução nesse período”, registrou o BC, ao analisar as estimativas das instituições para 2020.

A coleta para a PTC – a segunda do ano – foi realizada entre 27 de abril e 5 de maio. “Nesse período, a Organização Mundial da Saúde (OMS) já havia declarado a situação de pandemia, e o Brasil apresentava um quadro de isolamento social”, lembrou o BC.

Fabrício de Castro, O Estado de S.Paulo