Principais artilheiros do campeão Flamengo, Gabriel e Bruno Henrique somam 43 gols até o momento no Campeonato Brasileiro. A produção é superior aos números apresentados por 14 times inteiros: São Paulo, Corinthians, Internacional, Goiás, Bahia, Vasco, Botafogo, Atlético-MG, Fluminense, Ceará, Cruzeiro, CSA, Chapecoense e Avaí.
Dessas equipes, quem mais se aproximou da marca foi o Goiás, que acumula 41 gols.
Entre os seis times que superaram os 43 gols estão, além do próprio Flamengo, Santos, Palmeiras, Grêmio, Athletico-PR e Fortaleza, este último o único fora do grupo dos cinco primeiros colocados. Está em 12º.
O camisa 9 já marcou 22 vezes, fazendo jus ao apelido Gabigol e aos cartazes que começaram a brotar na torcida rubro-negra: “Hoje tem gol do Gabigol”. Seu parceiro não está muito atrás, com 21 gols na competição.
A disputa ainda não acabou, mas, com boa vantagem sobre os terceiros colocados na lista de goleadores (Wellington Paulista, do Fortaleza, Sasha, do Santos, e Everaldo, da Chapecoense, foram à rede 13 vezes cada um), eles estão perto de repetir um feito atingido apenas uma vez no Brasileiro desde a instituição do campeonato com esse nome, em 1971. Só em 1984 o artilheiro e o vice-artilheiro vestiam o mesmo uniforme.
Roberto Dinamite, com 16 gols, e Arturzinho, com 14, foram os líderes da lista naquele ano. Os talentos do centroavante e do meia tiveram uma sincronia altamente produtiva e levaram o Vasco à decisão.
“O raciocínio era rápido e muito bom. Ele era muito inteligente. Era um meia de ligação, mas sabia fazer gols, chegava com facilidade e metia muito bem as bolas”, recordou Dinamite.
“Havia essa troca [entre nós]. Ele era um jogador bastante ofensivo, e isso facilitava para o centroavante, porque ele encostava e a gente dividia a atenção da defesa. Ele conseguiu marcas assim e me proporcionou também. Foi uma dupla muito boa, que deu muito certo”, acrescentou o ex-atacante.
A dupla acabou não funcionando, no entanto, na final. O Fluminense venceu o primeiro jogo por 1 a 0, gol de Romerito, e, comandado pelo pragmático técnico Carlos Alberto Parreira, segurou o 0 a 0 na partida de volta. Roberto e Arturzinho até tiveram chances, mas a bola não entrou no Maracanã.
“Só na final que não deu”, lamentou Dinamite, que trocou a lástima pela celebração de um feito que é novidade para ele.
“Quantas vezes aconteceu isso, de artilheiro e vice-artilheiro? Ah, nunca? Pô, caramba! Fico feliz. Tantos e tantos campeonatos e não conseguiram. Eu e o Arturzinho, posso falar por ele, estamos muito honrados”, afirmou.
Depois de recordar a velha parceria, o ex-jogador e ex-presidente do Vasco parabenizou a dupla do Flamengo por repetir o feito de 1984. Mesmo que o título rubro-negro não seja confortável para os cruzmaltinos.
“Essas coisas estão aí para ser batidas. O momento dos dois é muito bom. Eles estão fazendo gols porque têm essa facilidade, essa qualidade. É um time bem agressivo, e eles fazem bem a parte deles. O Gabigol está fazendo os gols dele. O Bruno Henrique tem velocidade, finalização, cabeceio. Há os dois lados. O time é bom, e os caras fazem gols. Sem eles, o time não estaria vivendo esse momento. Uma coisa completa a outra”, observou Roberto.
O ex-jogador de 65 anos só se permitiu certa vaidade ao recordar que os flamenguistas continuam longe da liderança em outra lista de artilheiros. Na história do Brasileiro, ninguém chega perto dos 190 gols de Dinamite. Fred, 36, do Cruzeiro, soma 146, e está longe do ritmo necessário para alcançar o recorde.
“Estou louco para alguém me passar”, divertiu-se Dinamite, antes de recobrar o tom despretensioso e lembrar que, em toda a carreira, passou apenas três meses fora do Brasil, no Barcelona.
“Com toda a humildade, cheguei a essas marcas porque fiquei muito por aqui. A geração mais nova aparece e acaba saindo. É outro momento. Então, pesa a meu favor nessa conta a minha permanência aqui. Mas espero que as marcas motivem. Como falei, elas estão aí para ser batidas”, concluiu Roberto.
Marcos Guedes, Folha de São Paulo