terça-feira, 30 de janeiro de 2018

Filho de Woody Allen, Ronan Farrow vira voz contra o assédio em Hollywood

O jornalista Ronan Farrow - Gilbert Carrasquillo / Getty Images


Luiza Barros, O Globo



Por trás do maior escândalo dos últimos tempos em Hollywood — as denúncias de assédio contra o produtor Harvey Weinstein —, existe outra história tão impactante quanto: a de Ronan Farrow, autor de uma das reportagens que ajudou a derrubar o magnata da indústria cinematográfica.

Filho de Mia Farrow e Woody Allen, Ronan, de 30 anos, fez questão de traçar uma carreira o mais longe possível do showbiz, algo compreensível para quem cresceu em uma família que viveu seus próprios dramas publicamente. Allen, como se sabe, trocou Mia por uma das filhas dela, Soon-Yi Previn, adotada durante o casamento da atriz com o compositor André Previn. Mais tarde, em 2014, foi a vez de outra irmã de Ronan, Dylan Farrow, acusar o pai de ter abusado sexualmente dela aos 7 anos (neste mês, ela reafirmou a denúncia em uma entrevista na televisão).

Mas a transformação freudiana do irmão de Dylan em um “caçador de abusadores” não veio tão rapidamente. Em uma sincera manifestação sobre o assunto, Ronan admitiu que demorou para encarar de frente a tragédia familiar.

“Eu trabalhei duro para me distanciar da dolorosamente pública história da minha família e queria um trabalho que falasse por si só (...) Inicialmente, implorei (a Dylan) que não se pronunciasse de novo e evitasse falar com repórteres. Tenho vergonha disso”, assumiu o jornalista em um artigo na “Hollywood Reporter”. Recentemente, aliás, ele foi capa da mesma publicação, com a seguinte manchete: “o príncipe que incendiou o castelo”.

Ronan, de fato, fez de tudo para construir uma imagem distante do clichê de filho problemático de celebridade. Ainda adolescente, foi porta-voz do Unicef. Aos 15, já estava com um diploma universitário na mão. De lá, seguiu para a Yale Law School. Por tudo isso, ninguém estranhou quando, aos 23 anos, foi apontado como conselheiro de Hillary Clinton, então secretária de Estado de Barack Obama.

Tinha tudo para seguir uma trajetória estelar na política ou na diplomacia, mas foi seduzido pelo jornalismo: em 2014, foi contratado pelo conglomerado de mídia que controla a NBC. 

Quando a emissora hesitou em publicar sua detalhada investigação sobre como Harvey Weinstein perseguiu atrizes e jornalistas que o acusaram de assédio, Ronan encontrou abrigo na revista “The New Yorker”. Ao lado de uma reportagem anterior do “The New York Times”, o artigo foi fundamental para afastar Weinstein de vez do comando de sua produtora.

Nas entrevistas em que comentou a repercussão de seu trabalho, Ronan sempre fez questão de ressaltar que a história ali não era ele. Verdade absoluta, mas, uma vez que alguém repara nos seus olhos azuis, é difícil desviar o olhar. Que o digam seus 50 mil seguidores no Instagram.

Um tempo atrás, o jornalista deu o que falar na rede: publicou uma foto de Mia Farrow ao lado de Frank Sinatra com a legenda “quando os seus pais têm fotos antigas mais legais do que as suas”. Não é de hoje que corre por aí que Ronan não seria filho biológico de Woody Allen, e sim do lendário cantor. Mia, que foi casada com Sinatra nos anos 60 e manteve contato com ele ao longo das décadas, saiu-se com um “é possível” ao ser questionada pela “Vanity Fair” se seria ele o verdadeiro pai de Ronan. Na mesma oportunidade, Nancy Sinatra ainda falou do provável irmão como alguém que faz parte da família. Mas, como a paternidade nunca foi de fato provada, Ronan correu para editar o post no Instagram.

Drama à parte, o fato é que, ao tocar na ferida que tanto fez sofrer sua família, Ronan virou uma estrela por si só: ele acaba de assinar um contrato de três anos com o canal de TV HBO, para o qual prepara uma série documental que vai explorar casos de abusos de poder, por pessoas ou empresas. Aguardemos, portanto, para saber quais outros castelos o príncipe vai incendiar.