Salvatore Riina, o Totò, foi o "chefe dos chefes" da Cosa Nostra siciliana, a secreta e mais potente organização criminosa do planeta.
Para se ter ideia, na Segunda Guerra, as tropas aliadas precisaram dela para garantir o desembarque na Sicília em julho de 1943 e, depois disso, partiu-se para a libertação da Itália do nazifascismo, conforme revelam documentos históricos induvidosos e detalhou, anos depois, o coronel Charles Polleti, da inteligência naval americana.
Pós-guerra, a musculatura mafiosa aumentou e, no campo político, o já falecido Giulio Andreotti, sete vezes primeiro-ministro e mandachuva do partido da Democracia Cristã apanhado pela Operação Mãos Limpas, foi condenado definitivamente por associação à Cosa Nostra siciliana e se safou do encarceramento pela prescrição.
Pelo emprego da violência, a secular Cosa Nostra sempre difundiu o medo para garantir o silêncio das pessoas comuns, a hierarquia entre os seus membros e a submissão obsequiosa dos políticos associados.
No jargão mafioso, esse tipo de comportamento silente ficou conhecido por "omertà". Numa definição do jornalista e escritor siciliano Leonardo Sciascia, a "omertà" nada mais é do que "solidariedade pelo medo". Numa síntese, ela sempre garantiu a impunidade aos mafiosos.
Na máfia calabresa, conhecida por 'Ndrangheta, a blindagem garante-se pela omertà e por casamentos entre os parentes, na crença de os vínculos de sangue inibirem delações.
O duro golpe contra a Cosa Nostra foi desferido pelos magistrados Giovanni Falcone e Paolo Borsellino, da organização antimáfia guiada pelo fuzilado Rocco Chinnici e pelo saudoso Antonino Caponetto.
O sucesso da antimáfia deveu-se à quebra da omertà. Para isso, utilizou-se a legislação premial, contempladora de delações comprovadas, compondo um mosaico denominado Teorema Buscetta, numa referência a Tommaso Buscetta, colaborador das Justiças italiana e norte-americana.
Para desqualificar os relatos de Buscetta, de quem a Cosa Nostra havia tirado quatro netos, o irmão, o genro e o cunhado, os defensores dos mafiosos cunharam, para emprego pejorativo, o termo "pentito" (arrependido) e batiam na tecla de ele ser estipendiado pelo Estado, além de obter redução de pena.
Em 1º de setembro, na CPI da Petrobras e no curto arco de 35 minutos, os parlamentares trataram com "vela de libra" o empresário Marcelo Odebrecht, da empreiteira que leva o nome da sua família. Ele está preso preventivamente na Operação Lava Jato.
Ao invés de falar sobre as increpações criminais, Marcelo Odebrecht preferiu discorrer sobre seus valores ético-morais para, na sequência, desancar o instituto da delação premiada, para ele uma deduragem indigna. Ele só deixou de esclarecer se a indignidade permanece no caso de as delações serem verdadeiras e de ter a Justiça cumprido a tarefa de não deixar impunes os crimes.
Em dependência de segurança máxima do cárcere milanês denominado Opera, o chefão Totò Riina, se soubesse, aplaudiria Marcelo Odebrecht, pois, para ele, a delação premiada aniquila qualquer tipo de máfia.
WÁLTER FANGANIELLO MAIEROVITCH, 68, desembargador aposentado, preside o Instituto Brasileiro Giovanni Falcone.