Sérgio Rangel e Paulo Passos - Folha de São Paulo
Na última sexta-feira (29), o presidente da CBF, Marco Polo Del Nero, disse não poder responder por acordos e contratos assinados durante a gestão de José Maria Marin, seu antecessor na presidência da CBF e atual vice, que foi preso pelas autoridades americanas na Suíça. Antes de assumir o cargo, porém, há pouco mais de um mês, Del Nero referendou as contas do seu antecessor.
O atual presidente também participou da negociação e do fechamento de pelo menos 10 dos 13 contratos que a confederação tem com patrocinadores, segundo a Folha apurou. Eles foram firmados entre os anos de 2012 e 2015.
Del Nero assinou o balanço de demonstrações financeiras da entidade de 2014, em abril, antes de assumir o cargo. O documento detalha todas as contas da confederação no último ano de gestão de José Maria Marin, incluindo os acordos de patrocínio da entidade, que totalizam uma receita de R$ 359 milhões no ano passado. Ele foi o único dos cinco então vices da entidade a fazê-lo.
Segundo o diretor financeiro da CBF, Rogério Caboclo, o estatuto da confederação não obrigava Del Nero a assinar o documento.
"Quem assina é o presidente do exercício, o José Maria Marin. O Marco Polo por ser muito diligente quis assinar, mostrando que estava de acordo com as contas no geral", afirma Caboclo.
Na última sexta-feira (29), o presidente da CBF minimizou sua participação na gestão de Marin.
"Não assinei nenhum contrato na administração do presidente Marin. Eu era vice-presidente, e vice não manda, apenas cumpre determinação", afirmou Del Nero, que tomou posse no dia 16 de abril deste ano.
ONIPRESENTE
Dirigentes do futebol e empresários do ramo de marketing esportivo confirmaram à Folha que o atual presidente era figura onipresente em negociações de contratos da CBF na gestão José Maria Marin. Ele esteve em reuniões com parceiros da entidade e tinha ciência dos contratos e acordos de acerto de comissões a intermediários.
Além de participar das negociações, Del Nero era o único vice-presidente à época que estava sempre ao lado de Marin nos anúncios dos acordos comerciais da CBF.
Durante seu período como vice, ele já despachava na sede da entidade, mesmo quando Marin não estava. Funcionários da entidade na época relataram à Folha que Del Nero já era visto como o principal executivo da CBF, tomando à frente das principais decisões da confederação.
Ele também viaja sempre com Marin representando a CBF, de 2012 a 2015. O vice-presidente estava em Zurique, na Suíça, quando foi preso para votar na eleição da Fifa. Ele iria representar Del Nero, que por ser do comitê executivo da federação internacional precisa indicar um mandatário para votar no seu lugar.
COMISSÕES
O pagamento de comissões a empresas que atuam no acerto de negócios é praxe no mercado de marketing esportivo. Os valores podem chegar até 20%. Não há ilegalidade na prática, que é comum no Brasil e no exterior.
Foram desvios de valores em comissões que levaram Marin a ser acusado de recebimento de propina pelas autoridades americanas.
Marin dividiu propina para a manutenção de um acordo de exploração comercial da Copa do Brasil (torneio disputado desde 1989 pelos principais clubes do país) com J. Hawilla, dono da Traffic, e outros dois dirigentes, que seriam o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero, que não tiveram seus nomes apontados na investigação.
Segundo a Justiça americana, neste processo, eles são nominados como "coconspirador 11" e "coconspirador 12". Eles são descritos como altos executivos da CBF, da Conmebol e da Fifa. Só Teixeira e Del Nero se encaixam no perfil.
O termo "coconspirador" é usado nos textos do Departamento de Estado para pessoas não acusadas formalmente ou para preservar a origem de informações.
Del Nero nega ser um dos investigados. Já Ricardo Teixeira, que deixou a CBF em 2012, não se pronunciou sobre o caso.
"QUEM ASSINA UM BALANÇO NEM SEMPRE SABE TUDO"
Procurado pela Folha, Del Nero não quis se pronunciar sobre o fato de participar de negociações durante a gestão de Marin e de ter referendado as demonstrações financeiras do antecessor.
Rogério Caboclo, diretor financeiro da confederação, respondeu em nome do presidente da CBF.
"Eu compreendo a teoria de que o Del Nero tinha ciência de todos os contratos assinados ao referendar as demonstrações financeiras da gestão de Marin, mas é uma forma simplista de tratar o tema. Quem assina um balanço nem sempre sabe de tudo", argumenta.
O atual presidente também participou da negociação e do fechamento de pelo menos 10 dos 13 contratos que a confederação tem com patrocinadores, segundo a Folha apurou. Eles foram firmados entre os anos de 2012 e 2015.
Editoria de Arte/Folhapress |
Segundo o diretor financeiro da CBF, Rogério Caboclo, o estatuto da confederação não obrigava Del Nero a assinar o documento.
"Quem assina é o presidente do exercício, o José Maria Marin. O Marco Polo por ser muito diligente quis assinar, mostrando que estava de acordo com as contas no geral", afirma Caboclo.
Na última sexta-feira (29), o presidente da CBF minimizou sua participação na gestão de Marin.
"Não assinei nenhum contrato na administração do presidente Marin. Eu era vice-presidente, e vice não manda, apenas cumpre determinação", afirmou Del Nero, que tomou posse no dia 16 de abril deste ano.
ONIPRESENTE
Editoria de Arte/Folhapress |
Além de participar das negociações, Del Nero era o único vice-presidente à época que estava sempre ao lado de Marin nos anúncios dos acordos comerciais da CBF.
Durante seu período como vice, ele já despachava na sede da entidade, mesmo quando Marin não estava. Funcionários da entidade na época relataram à Folha que Del Nero já era visto como o principal executivo da CBF, tomando à frente das principais decisões da confederação.
Ele também viaja sempre com Marin representando a CBF, de 2012 a 2015. O vice-presidente estava em Zurique, na Suíça, quando foi preso para votar na eleição da Fifa. Ele iria representar Del Nero, que por ser do comitê executivo da federação internacional precisa indicar um mandatário para votar no seu lugar.
COMISSÕES
O pagamento de comissões a empresas que atuam no acerto de negócios é praxe no mercado de marketing esportivo. Os valores podem chegar até 20%. Não há ilegalidade na prática, que é comum no Brasil e no exterior.
Foram desvios de valores em comissões que levaram Marin a ser acusado de recebimento de propina pelas autoridades americanas.
Marin dividiu propina para a manutenção de um acordo de exploração comercial da Copa do Brasil (torneio disputado desde 1989 pelos principais clubes do país) com J. Hawilla, dono da Traffic, e outros dois dirigentes, que seriam o ex-presidente da CBF Ricardo Teixeira e Marco Polo Del Nero, que não tiveram seus nomes apontados na investigação.
Segundo a Justiça americana, neste processo, eles são nominados como "coconspirador 11" e "coconspirador 12". Eles são descritos como altos executivos da CBF, da Conmebol e da Fifa. Só Teixeira e Del Nero se encaixam no perfil.
O termo "coconspirador" é usado nos textos do Departamento de Estado para pessoas não acusadas formalmente ou para preservar a origem de informações.
Del Nero nega ser um dos investigados. Já Ricardo Teixeira, que deixou a CBF em 2012, não se pronunciou sobre o caso.
"QUEM ASSINA UM BALANÇO NEM SEMPRE SABE TUDO"
Procurado pela Folha, Del Nero não quis se pronunciar sobre o fato de participar de negociações durante a gestão de Marin e de ter referendado as demonstrações financeiras do antecessor.
Rogério Caboclo, diretor financeiro da confederação, respondeu em nome do presidente da CBF.
"Eu compreendo a teoria de que o Del Nero tinha ciência de todos os contratos assinados ao referendar as demonstrações financeiras da gestão de Marin, mas é uma forma simplista de tratar o tema. Quem assina um balanço nem sempre sabe de tudo", argumenta.