Inventada por Lula em 2008, EBC aumenta gastos e se torna o local
de trabalho para “companheiros” do PT
Juca Kfouri, José Trajano e Andre Basbaum | Foto: Montagem Revista Oeste/Agência Brasil/Reprodução/Redes Sociais
O
governo Lula é um oásis para a companheirada. A gestão
petista transformou-se em cabide de empregos para
figurantes habituados a serem rejeitados pelos eleitores. A
sanha em acomodar aliados fez a inflada e ineficiente
máquina pública federal saltar de 23 ministérios da gestão do expresidente Jair Bolsonaro para os atuais 38. As benesses não ficam
restritas ao meio político. Jornalistas elogiosos à administração
lulopetista têm espaço exclusivo no sistema. Para abrigar esses
aliados, há a Empresa Brasil de Comunicação (EBC).
Bancada pelos pagadores de impostos, a EBC passou a ser o abrigo
profissional de Juca Kfouri e José Trajano. No início do mês, eles
foram apresentados como os mais novos integrantes da TV Brasil,
uma das divisões da empresa. Em 2026, os dois e Lúcio de Castro terão
um programa esportivo na emissora reconhecida pela ausência de
audiência e por ser jocosamente apelidada de “TV Lula”.
Símbolos dos profissionais almejados pela EBC, Kfouri e Trajano têm
um ponto em comum: ambos usam o termo “genocida” ao se referir a
Bolsonaro. Demitido em novembro do jornal Folha de S. Paulo, Kfouri
coleciona polêmicas — sempre em sintonia com o que prega a
esquerda brasileira. Para ficarmos em somente duas das mais
recentes: em setembro, pregou o banimento de Israel das competições
esportivas internacionais, referiu-se à nação judaica como “Estado
terrorista de Netanyahu” e comparou a operação israelense contra o
Hamas ao nazismo; há duas semanas, elogiou o decano do Supremo
Tribunal Federal, Gilmar Mendes, que decidiu monocraticamente
limitar a formulação de pedidos de impeachment contra ministros da
Corte à Procuradoria-Geral da República e acusou o Poder Legislativo
de tentar aplicar um “golpe contra a democracia”.
Da cadeirada à “TV Lula”
As contratações da EBC em dezembro foram além de Kfouri, Trajano e
Castro. A empresa também divulgou que, em 2026, o apresentador
José Luiz Datena terá um programa que será transmitido pela Rádio
Nacional e pela TV Brasil. Assim como no caso envolvendo o projeto
do trio de jornalistas esportivos, a empresa ainda não tornou público o
salário a ser pago a Datena.
Ex-apresentador do Cidade Alerta, na Record, e do Brasil Urgente, na
Band, Datena se destacou pela última vez de forma negativa.
Candidato à Prefeitura de São Paulo pelo PSDB em 2024, virou notícia
ao arremessar uma cadeira contra Pablo Marçal (PRTB) durante
debate realizado pela TV Cultura. Depois, ao voltar à imprensa,
fracassou em audiência tanto no SBT quanto na RedeTV.
Apesar de ter se aventurado na política pelo PSDB, o apresentador foi
filiado ao PT durante 21 anos. Mesmo em meio à temporada como
tucano, elogiou Lula e chegou a dizer que o petista fez um governo
“muito melhor” que o de Bolsonaro. Resultado: comunicador e
presidente da República trocaram afagos e sorriram para as câmeras
ao divulgarem o acerto com a EBC.
Lula e Datena trocaram afagos durante a apresentação | Foto: Ricardo Stuckert/PR
Ex-Globo no comando
José Luiz Datena, Juca Kfouri, José Trajano e Lúcio de Castro são
contratações sob a gestão do jornalista André Basbaum. Ele assumiu o
cargo de diretor-presidente da EBC em agosto. Antes de chegar ao
posto, para o qual o salário é superior a R$ 30 mil, foi editor de
economia do Jornal Nacional, da Rede Globo. Também passou por
emissoras como Band, Record e SBT, exercendo funções de edição e
direção.
Com Basbaum na presidência, a EBC também deu espaço para
Cristina Serra. Ex-repórter da Globo e ex-colunista da Folha, ela
comanda, desde novembro, o dominical Brasil no Mundo. O programa
conta com as participações de Jamil Chade e Yan Boechat. Assim como
Kfouri e Trajano, ela se orgulha da forma com que se refere ao
antecessor de Lula à frente do Palácio do Planalto. E foi além: chegou a
acusar Bolsonaro de ser “terrorista”. “Já chamei Bolsonaro de muita
coisa: genocida, ecocida, sabotador-geral da República, agente de
infecção, parceiro do vírus, arruaceiro”, escreveu Cristina em
setembro de 2021, no início de artigo publicado pela Folha, jornal onde
seguiu como colunista até março de 2023. “De fato, ele é tudo isso. Mas
o qualificativo que melhor o define é terrorista.”

Diretor-presidente da EBC desde agosto, o jornalista André Basbaum posa ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministrochefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Sidônio Palmeira - Foto: Ricardo Stuckert/PR
A presença na EBC de profissionais que fazem proselitismo político
gera desconfiança até de quem tem experiência na imprensa.
Deputada federal pelo Partido Liberal de São Paulo e jornalista por
formação, tendo trabalhado por 25 anos na afiliada da Globo na
Baixada Santista, Rosana Valle avalia que a Empresa Brasil de
Comunicação, que deveria zelar pela isenção e pela prestação de
serviços, acaba por desviar de seu foco. “Comunicação pública existe
para informar, educar e garantir pluralidade, não para fazer
militância”, observa.
“A EBC é financiada com o dinheiro de todos os
brasileiros, por isso, precisa manter equilíbrio editorial. Quando
contrata nomes conhecidos pelo engajamento político-partidário,
especialmente por ataques a figuras públicas, a empresa se afasta da
função institucional e reforça um viés que não condiz com o caráter
público que deveria ter.”
A EBC virou símbolo de fracasso de audiência, mas com estrondoso
orçamento, sobretudo para bancar salários de colegas e admiradores do
regime lulopetista.
Atual vice-prefeito de Curitiba e ex-deputado federal pelo Paraná,
Paulo Eduardo Martins (Novo) é outro político oriundo do jornalismo a
criticar a existência da EBC. Para ele, que foi comentarista da afiliada
paranaense do SBT no início dos anos 2010, a empresa tem como
única serventia abrigar defensores do governo de plantão. “É mais
uma estatal para amparar a companheirada”, disse Martins, em
entrevista ao programa Arena Oeste. “Ela já deveria ter sido fechada.”
Na conta dos pagadores de impostos
Outros jornalistas tidos como “progressistas” ganharam vez na EBC
antes de Basbaum assumir a presidência. Que o diga Leandro Demori.
Ex-Intercept Brasil, onde publicou o material da “Vaza Jato”, está na
empresa pública desde 2023. O contrato em vigor lhe garante mais de
R$ 35 mil por mês, sendo que ele apresenta um programa semanal de
entrevistas que mais parece propaganda da base aliada de Lula. A lista
de convidados conta com figuras como Gilmar Mendes, a deputada
federal Erika Hilton (Psol-SP), o eterno líder do MTST e agora ministro
Guilherme Boulos, o senador Randolfe Rodrigues (PT-AP), o exministro José Dirceu, o cantor Nasi e o presidente nacional do PT,
Edinho Silva.
Ex-repórter do Vídeo Show, Cissa Guimarães é mais uma exfuncionária da Globo acolhida pela EBC. Desde o início do ano
passado, ela apresenta o Sem Censura. E os números deixam a
meritocracia de lado. Apesar de o programa dar traço de audiência —
como todos os programas da TV Lula —, ela recebeu aumento. O
contrato inicial previa pagamento mensal de R$ 70 mil, mas o valor
subiu para R$ 100 mil no meio deste ano. A empresa ainda banca R$
16 mil para o maquiador da apresentadora. No último fim de semana,
Cissa foi às ruas em Copacabana gritar “sem anistia” e pedir “fora,
Hugo Motta”, em razão de o presidente da Câmara ter pautado o
Projeto de Lei da Dosimetria.
Demori e Cissa são partes de uma operação que beira a casa do bilhão
anualmente. Conforme o Portal da Transparência, o governo federal
vai gastar cerca de R$ 870 milhões com a EBC em 2025. Nos dois anos
anteriores, já na gestão Lula, os gastos foram similares: R$ 898
milhões em 2024 e R$ 840 milhões em 2023. Cifras que representam
um aumento de ao menos 25% no comparativo com o orçamento
destinado à empresa nos dois últimos anos da administração
Bolsonaro — R$ 683 milhões (2021) e R$ 676 milhões (2022).
Doutor em economia aplicada e economista-chefe do Banco de
Desenvolvimento de Minas Gerais, Izak Carlos Silva afirma que os
gastos com a EBC ajudam a demonstrar o desprezo do governo petista
pelo ajuste fiscal. Ele é mais um a acreditar que a Empresa Brasil de
Comunicação deveria ser extinta. “Não faz sentido econômico, fiscal
nem institucional. Em um país que convive com déficit estrutural,
dívida em trajetória crescente e compressão dos investimentos
essenciais, gastar mais de R$ 800 milhões por ano com uma empresa
estatal de comunicação é um exemplo claro de má alocação de
recursos públicos”, avalia Izak, que é especialista do Instituto
Millenium. “Ainda que o valor seja pequeno quando comparado ao
orçamento total da União, ele é desmedido diante das dificuldades
fiscais reais do governo. Em um cenário de restrição orçamentária, o
princípio deveria ser gastar melhor, não apenas gastar menos. E a EBC
simboliza exatamente o oposto: gasto de baixa qualidade, baixa
efetividade e retorno social praticamente nulo.”
De acordo com Izak, “há ainda um princípio político simples e
conhecido: governos que investem demais em comunicação
geralmente têm pouco a mostrar e muito a convencer. Não há
racionalidade em manter uma estrutura estatal cara apenas para
veicular comunicação governamental. O setor privado faz isso melhor,
com mais eficiência, com custos menores e submetido à concorrência
real. O gasto com a EBC não é apenas alto — ele é mal direcionado.”
Criada oficialmente em abril de 2008, quando Lula estava em seu
segundo mandato como presidente da República e tinha como
conselheiro e ministro de Comunicação Social o ex-guerrilheiro
Franklin Martins, que fez carreira como comentarista político na
Globo, a EBC virou símbolo de fracasso de audiência, mas com um
orçamento estrondoso, sobretudo para bancar salários de colegas e
admiradores do regime lulopetista. Na prática, as decisões e o
histórico recente de contratações revelam outro significado da sigla:
Empresa Brasileira da Companheirada.
Anderson Scardoelli - Revista Oeste