segunda-feira, 3 de novembro de 2025

CPMI do INSS: Alexandre de Moraes concede habeas corpus a presidente de confederação investigada - STF amplia proteção à quadrilha que rouba a grana do povo

Abraão Lincoln Ferreira da Cruz presta esclarecimentos ao colegiado como testemunha; o depoente não assinou compromisso de falar a verdade


Abraão Lincoln Ferreira da Cruz, presidente da Confederação Brasileira dos Trabalhadores da Pesca e Aquicultura (CBPA) | Foto: Sarah Peres/Revista Oeste


O presidente da Confederação Brasileira dos Trabalhadores da Pesca e Aquicultura (CBPA), Abraão Lincoln Ferreira da Cruz, foi beneficiado por habeas corpus para depor na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) nesta segunda-feira, 3. 

Abraão Lincoln presta esclarecimentos como testemunha, mas poderá permanecer em silêncio diante de interpelações que possam incriminá-lo. O habeas corpus foi concedido pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). 

Momentos antes de iniciar a sessão, o presidente do colegiado, senador Carlos Viana (Podemos-MG), disse que apesar dos recorrentes habeas corpus concedidos pelo STF aos depoentes da CPMI, “pelo menos estamos chegando a um bom nível de entendimento”. 

“Depois de 243 horas de sessões, o Supremo Tribunal Federal tem concedido habeas corpus em que a pessoa tem os direitos constitucionais mantidos, o que a gente já vinha oferecendo”, disse. “Mas pelo menos o STF está mandando a pessoa vir e responder obrigatoriamente aquilo que não a incrimina. Hoje nós temos uma pessoa que vai poder ficar em silêncio nestas questões, mas terá que nos responder em outras.” 


O presidente da CPMI do INSS, senador Carlos Viana (Podemos-MG) | Foto: Waldemir Barreto/Agência Senado 

Ao falar sobre os esclarecimentos que Abraão deve fazer à comissão, Vieira declarou: “Como uma confederação, sem um funcionário, conseguiu 500 associados em um prazo de aproximadamente dois anos, chegou a faturar quase R$ 300 milhões e não prestou nenhum tipo de serviço”. 

O presidente argumentou que o presidente da confederação não terá como ficar “em silêncio” ao ser interpelado sobre a falta de funcionários, o alto número de associados e o faturamento da entidade.

“Pelo menos é isso que a gente espera”, acrescentou o senador. Abraão Lincoln foi convocado a partir de oito requerimentos aprovados pelo colegiado. 

O depoimento do sindicalista na CPMI do INSS é visto como estratégico para esclarecer a participação de entidades de classe no chamado “núcleo associativo” do esquema, identificado pela Operação Sem Desconto, da Polícia Federal. 

CPMI do INSS interpela presidente de confederação


Abraão Lincoln tem ficado em silêncio diante da maioria das perguntas feitas pelo relator da CPMI, deputado Alfred Gaspar (União-AL) - Foto: Divulgação/Agência Brasil 

A CBPA está entre as instituições investigadas pela PF por supostos descontos irregulares aplicados em benefícios previdenciários entre 2019 e 2024. As investigações revelam que a confederação teria recebido repasses de associações e sindicatos vinculados ao sistema previdenciário, desviando valores destinados a aposentados e pensionistas.

Por decisão judicial, Abraão Lincoln e a própria CBPA tiveram seus bens bloqueados, após pedido da Advocacia-Geral da União (AGU), que atua na recuperação do montante desviado. 

A CPMI também aprovou a quebra dos sigilos bancário e fiscal do presidente da entidade e requisitou ao Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) o envio de um Relatório de Inteligência Financeira (RIF) para rastrear movimentações suspeitas.

Sarah Peres - Revista Oeste