domingo, 1 de março de 2020

Filme iraniano 'There Is no Evil' ganha o Urso de Ouro no Festival de Berlim 2020


A atriz iraniana Baran Rasoulof recebe o Urso de Ouro em nome de Mohammad Rasoulof, diretor de


A atriz iraniana Baran Rasoulof recebe o Urso de Ouro em nome de Mohammad Rasoulof, diretor de 'There is no evil' ' Foto: Ronald Wittek/ EFE


BERLIM - Nunca houve uma premiação, pelo menos em anos recentes, como a da Berlinale de 2020. Quando o presidente do júri, o ator Jeremy Irons, falou em filme extraordinário e citou “quatro histórias que nos confrontam com a moralidade e o valor da vida humana”, o público do Palast – e o da sala de cinema em que a imprensa assistia à cerimônia na noite de ontem, 29, no telão –, já começou a aplaudir. À tarde, There Is No Evil, do iraniano Mohammad Rasoulof, já recebera o prêmio do júri ecumênico e o do Guild Film Award. E então veio a coroação: o Urso de Ouro.


Os dois produtores lamentaram que o diretor, confinado – como Jafar Panahi – no Irã, não pudesse estar presente no Festival de Cinema de Berlim. Um agradeceu aos atores, que se arriscaram para dar vida às histórias de homens cujos atos colocam em discussão a moralidade da pena de morte e a propriedade de alguns indivíduos, mesmo com cobertura legal, ao se arvorarem como carrascos de todos. Os atores todos, homens e mulheres, choravam copiosamente. 

As lágrimas escorriam pelas faces gloriosas. O outro produtor, com o Urso na mão, disse que o troféu ia iniciar uma longa viagem até o Irã. Que Rasoulof ia lhe apresentar o país e o Urso ia poder ver que os iranianos são boa gente. (Exceto os terroristas, óbvio)
Quanto ao governo, nada nem ninguém é mais crítico do que o filme. A justiça da República Islâmica é rigorosa e sem apelação, e cabe ao exército executar as sentenças. Mas existem os que se arriscam – os objetores de consciência.
Se o júri da Fipresci, a Federação Internacional da Imprensa Cinematográfica, tivesse atribuído seu prêmio, o da crítica, a Tsai Ming-liang, por Rizi (Days), o mais denso e ousado, como linguagem, dos filmes da competição, crítica e júri oficial teriam feito a coisa certa.
O júri quase sempre acertou. Prêmio de melhor ator para o genial Elio Germano, por Volevo Nascondermi. Grande prêmio para a norte-americana Eliza Hittman, por seu impactante Never Rarely Sometimes Always – sobre a garota que viaja a Nova York com a amiga para abortar. A melhor atriz foi Paula Beer, a moderna pequena sereia do alemão Christian Petzold em Undine (que venceu, um tanto exageradamente, o prêmio da crítica).

Berlinale: Elio Germano ganhou o Urso de Prata de melhor ator
Berlinale: Elio Germano ganhou o Urso de Prata de melhor ator 
Foto: Fabrizio Bensch/ Reuters


Berlinale: Hong Sang-soo ganhou o Urso de Prata de melhor diretor, poir
Berlinale: Hong Sang-soo ganhou o Urso de Prata de melhor diretor,
por 'The Woman Who Ran' Foto: Fabrizio Bensch/ Reuters
À tarde, quando foram atribuídos os prêmios paralelos – Anistia Internacional, júri ecumênico, etc. –, a nova diretora executiva da Berlinale, Mariette Rissenbeek, e o diretor artístico Carlo Chatrian já haviam levantado questões como “Para que serve um festival?” e “O que é o cinema?” E ambos chegaram à conclusão de que o cinema, e o festival, devem abrir uma janela para o mundo, refletir a realidade. 
Pode ser que o cinema não mude o mundo, mas os filmes podem afetar as pessoas, fazê-las melhores. É o que propõem o Rasoulof, o Tsai, o Hong Sang-soo e outros grandes filmes exibidos aqui. Por mais irregular que tenha sido a primeira seleção berlinense de Carlo Chatrian – ele era curador do Festival de Locarno –, ela teve seus pontos altos, e o júri internacional soube reconhecê-los.

Berlinale: Paula Beer ganhou o Urso de Prata de melhor atriz
Berlinale: Paula Beer ganhou o Urso de Prata de melhor atriz  Foto: Tobias Schwarz / AFP

Principais vencedores do Festival de Cinema de Berlim

Urso de Ouro

There Is no Evil, de Mohammad Rasoulof (Irã)

Direção 

Hong Sang-soo, por The Woman Who Ran (Coreia do Sul)

Ator

Elio Germano, por Volevo Nascondermi (Itália)

Atriz

Paula Beer, por Undine (Alemanha)

Roteiro

Irmãos D'Innocenzo, por Favolacce (Itália)

Grande Prêmio do Júri

Eliza Hittman, por Never Rarely Sometimes Always (EUA)

Colaboração Artística 

Jürgen Jürges, por Dau. Natasha (Rússia)

Filme de Estreia

Los Conductos, de Camilo Restrepo (Colômbia, Brasil, França)

Generation 14Plus

Meu Nome é Bagdá, de Caru Alves de Souza (Brasil)

Luiz Carlos Merten, O Estado de S. Paulo