O último general-presidente, João Batista Figueiredo, intensificou a abertura política pressionado por uma enorme crise econômica e pelas manifestações populares em prol da democracia.
Logo que assumiu o poder, aboliu o sistema bipartidário e promoveu uma ampla, geral e irrestrita anistia, além de devolver aos cassados os seus direitos políticos.
O MDB, que fazia uma tênue oposição ao regime, virou PMDB, enquanto a ARENA se transformou no Partido Democrático Social (PDS), abrigando os civis e militares defensores do regime.
Findo o mandato, Figueiredo deixou o poder completamente pobre.
Não tinha, sequer, dinheiro para manter o sítio do Dragão, em Petrópolis, para onde se retirou após deixar o poder. Teve de vender alguns bens para manter a propriedade. Primeiramente vendeu os cavalos; depois, o próprio sítio.
Morreu em 1999 em seu apartamento no bairro de São Conrado, Zona Sul do Rio de Janeiro. Sua viúva, que faleceu anos depois, foi obrigada a organizar um leilão dos objetos pessoais do marido para pagar as despesas da casa. Essa atitude foi bastante criticada pela imprensa, que pouco se incomodava com as agruras financeiras da ex-primeira dama, que vivia da pensão militar deixada pelo general, equivalente a R$ 8.865,00.
Outro militar, o coronel do exército Mário Andreazza, foi Ministro dos Transportes nos governos Costa e Silva e Médici. Responsável pela construção da ponte Rio-Niterói - obra que teve empréstimo de dois bilhões de dólares -, também morreu pobre. Seus 37 colegas de turma fizeram uma vaquinha para que o seu corpo fosse trasladado do Rio de Janeiro para o Rio Grande do Sul, sua terra natal.
Não se conhece, em matéria de dinheiro público, qualquer ato desabonador dos filhos dos ex-presidentes militares.
A filha de Geisel, Amália Lucy, professora do Colégio Pedro II, ia de ônibus para o trabalho. Paulo Roberto e João Batista, filhos de Figueiredo, jamais foram objetos de investigação. O primeiro, publicou um artigo na internet explicando as razões pelas quais seu pai se recusou a patrocinar a Copa do Mundo no Brasil na década de 80.
Segundo ele, Figueiredo não aceitava tirar bilhões de dólares da saúde e da educação para gastá-los com futebol e propina. Hoje está demonstrado que a vida dos generais-presidentes e a de seus filhos era simples e modesta. Pelo menos até o momento, não se conhece nada que desabone a conduta de qualquer deles.
Já os ex-presidentes civis e seus herdeiros, praticamente nenhum deles se salva.
Muitos respondem a processos por corrupção. Sarney saiu desmoralizado. Collor foi obrigado a renunciar sob acusação de corrupção. Seu sucessor, Fernando Henrique Cardoso e o seu primeiro filho, Paulo Henrique, podem ser chamados a qualquer tempo para dar explicações sobre certos negócios cobrados pela imprensa, a exemplo das contas e propriedades no exterior do patriarca investigadas pela Polícia Federal, negócios com a Odebrecht, com a Petrobrás e algumas offshores no Panamá e no Reino Unido, além de uma sociedade com o ex-braço direito do presidente argentino Maurício Macri, que se suicidou em meio a um escândalo de corrupção. Lula foi preso, Dilma impichada e Temer saiu do governo acusado de corrupção no porto de Santos.
Considerando, como dizia Cícero, que a história é a testemunha dos tempos e a luz da verdade, a ela caberá julgar os generais-presidentes pelos crimes de que são acusados contra os direitos humanos – por ação ou por omissão. Seja qual for o veredito, ela registrará que, do ponto de vista exclusivamente pessoal, todos eles, sem exceção, eram honestos. E os seus filhos também.
Luiz Holanda
Advogado e professor universitário
Jornal da Cidade