Quando o ano 2020 começou, o mercado financeiro trabalhava com a expectativa de que o Ibovespa para o ano ficaria entre 130 mil e 140 mil pontos. O próprio índice havia desenhado uma trajetória de alta em dezembro e, apesar dos desafios que o Brasil tinha pela frente, muitos apostavam que o País teria algum crescimento – ancorado no aumento do consumo e favorecido pela agenda de reformas que, com sorte, seriam aprovadas.
Mas o cenário mudou tanto em tão pouco tempo que, ao olhar hoje para essa fotografia de janeiro, nem parece que estamos falando do mesmo ano. O avanço do coronavírus detonou uma crise sem precedentes. Com populações inteira em quarentena, fronteiras fechadas e produção estagnada, o mundo de repente se viu às portas de uma grande recessão. Não havia como manter as projeções de outrora.
Como o desafio do mercado é precificar hoje os eventos que acontecerão no futuro, bancos e corretoras de investimentos já começaram a rever suas projeções para o Ibovespa. Enquanto os mais otimistas esperam algo em torno de 100 mil pontos, há quem calcule que o índice não chegará sequer aos 80 mil (veja quadro abaixo). Enquanto a duração e a gravidade da pandemia ainda são incógnitas, porém, é muito difícil traçar uma estimativa confiável e duradoura.Mas o coronavírus não é o único responsável pela deterioração das expectativas da Bolsa. O cenário doméstico brasileiro também sofre o risco político provocado pelos atritos constantes entre o presidente Jair Bolsonaro, os ministros do governo e o Congresso Nacional.
“(O presidente) Bolsonaro quer seguir uma linha diferente do que propõem os ministros da Saúde e da Economia. Esses embates trazem à tona dúvidas sobre sua real capacidade de mobilização para fazer passarem as reformas que são fundamentais para o País”, observa Ilan Arbetman, da Ativa Investimentos.
Investidor deve persistir e acreditar que o pior já passou
Para o investidor, a primeira conclusão a ser tomada é que o cenário de volatilidade continuará ao longo do ano. Como o Ibovespa é formado pela média dos preços das ações que compõem sua cesta, ponderada pelos tamanhos das respectivas empresas, é de se esperar mais alguma perda de valorização dos ativos no horizonte.
“O corte na projeção do Ibovespa nada mais é que o corte na projeção dos lucros dessas empresas. Elas não vão mais conseguir entregar os resultados que eram esperados no início do ano”, diz Henrique Esteter, da Guide Investimentos. “Mas vale ressaltar que cada empresa responde à crise de uma maneira, portanto o impacto nos lucros também varia.”
Toro: Parece que encontramos uma espécie de fundo do poço
Alguns analistas entendem que, depois do tombo considerável de janeiro, não há mais tanto espaço para novas quedas de preço. Essa perda de valor já foi precificada na carteira do investidor e, daqui para a frente, a tendência é de recuperação, ainda que ela possa demorar.
“Parece que encontramos uma espécie de fundo do poço. O índice chegou a 68 ou 69 mil pontos e estacionou. O mercado defendeu esse patamar e não deixou cair mais”, diz Lucas Lima, da Toro. “A volatilidade continua, mas não devemos mais ter as quedas agressivas que vimos no último mês.”
Na prática, o investidor deverá ter paciência e perseverança, evitando o impulso de sair da Bolsa prematuramente e realizar perdas. Quem souber fazer boas compras terá boas oportunidades à frente.
“Apesar da expectativa para o Ibovespa futuro ter recuado, o momento atual é muito favorável para o investidor, porque muitas ações recuaram e estão com preços bastante atrativos”, ressalta Rodrigo Moliterno, da Veedha Investimentos. “Desde que escolha empresas boas, saudáveis, com caixa e estrutura financeira para atravessar esse momento de crise, o investidor só tem a ganhar”, diz.
Veja as projeções para o Ibovespa em 2020
Instituição | Projeção inicial | Revisão |
Ativa | 135 mil | 77 a 100 mil |
Bank of America | 130 mil | 87 mil |
Guide Investimentos | 140 mil | 107 mil |
Itaú BBA | 132 mil | 94 mil |
JP Morgan | 126 mil | 80,5 mil |
Toro | 130 a 140 mil | 85 a 100 mil |
Veedha | 125 mil | 95 a 100 mil |
XP | 132 mil | 94 mil |
Tiago Lasco, O Estado de São Paulo