A equipe de transição do futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, anunciou a escolha de dois novos diretores para o Banco Central. O economista Bruno Serra Fernandes foi indicado para a Diretoria de Política Monetária e João Manoel Pinho de Mello, para a diretoria de Organização do Sistema Financeiro.
Mello acumula atualmente os cargos de Secretário de Promoção da Produtividade e Advocacia da Concorrência e de Política Monetária do Ministério da Fazenda. Mello possui graduação em Administração Pública pela Fundação Getúlio Vargas (EAESP-FGV), mestrado em Economia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro (PUC-Rio) e PhD em Economia pela Stanford University.
Já Serra Fernandes é responsável pela mesa de renda fixa do banco Itaú Unibanco. É mestre em economia pela Universidade de São Paulo (USP). No Itaú Unibanco, exerceu ainda o cargo de gerência de portfolio na diretoria de Banking e Tesouraria Externas. Teve passagem pelo BankBoston como estrategista de renda fixa nas diretorias de Asset Liability Management & Treasury e Gestor de Recursos para fundos multimercados.
Os dois vão integrar o time de Roberto Campos Neto, indicado à Presidência do BC. Todos terão que ser sabatinados e ter suas indicações aprovadas pelo Senado Federal.
Nova estrutura
Com as mudanças anunciadas, Roberto Campos Neto estabeleceu a estrutura da diretoria que começará a seu lado, na direção da autarquia durante o governo de Jair Bolsonaro. No núcleo duro do BC estarão dois dos principais ideólogos da atual política monetária da autarquia: o diretor de Política Econômica, Carlos Viana de Carvalho, e o diretor de Assuntos Internacionais, Tiago Couto Berriel. A presença dos dois sinaliza continuidade, pelo menos no início dos trabalhos, da política de controle da inflação usando a taxa básica de juros usada por Ilan Goldfajn.
O BC confirmou que, após um período de transição, Berriel seguirá ocupando a diretoria de Assuntos Internacionais. Viana já havia sido confirmado no cargo ainda em novembro, logo após Campos Neto ser formalmente indicado para a presidência do BC.
Viana e Berriel haviam chegado ao BC levados por Goldfajn, em meados de 2016. Os três – Goldfajn, Viana e Berriel – têm trajetória ligada ao meio acadêmico e foram os principais formuladores da política monetária do BC atual, que conseguiu reduzir a inflação de quase 11% em 2015 para menos de 3% no ano passado.
Juntamente com os três havia entrado no BC Reinaldo Le Grazie, para a diretoria de Política Monetária. Ao contrário de Goldfajn, Viana e Berriel, Le Grazie tem histórico forjado no mercado financeiro e, por isso, ocupou uma diretoria eminentemente operacional. É ela que define, por exemplo, a dinâmica dos leilões cambiais do BC.
Na noite desta quinta-feira, o BC informou que Le Grazie pediu exoneração, por motivos pessoais. Para seu lugar, Campos Neto escolheu outro profissional com perfil operacional: o economista Bruno Serra Fernandes, responsável pela mesa de renda fixa do Itaú Unibanco.
Na prática, Campos Neto vai manter os dois ideólogos que estavam com Goldfajn e substituir um operador por outro. A manutenção de Viana e Berriel é uma indicação de que, por enquanto, nada muda no BC – o que é algo bem visto pelo mercado financeiro.
Outra mudança foi anunciada. O atual secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, João Manoel Pinho de Mello, assumirá a diretoria de Organização do Sistema Financeiro. O atual diretor, Sidnei Corrêa Marques, pediu para deixar a função. Sidnei fez carreira no BC, mas está aposentado da autarquia. Ocupa a diretoria desde março de 2011. Nascido em 1953, é o diretor de maior idade.
Os demais diretores atuais do BC tendem a permanecer nos cargos, mesmo porque suas pastas já são ocupadas, tradicionalmente, por servidores de carreira da instituição. É o caso de Carolina de Assis Barros (diretora de Administração), Paulo Souza (Fiscalização), Otavio Ribeiro Damaso (Regulação) e Mauricio Moura (Relacionamento Institucional).
Adriana Fernandes e Fabrício de Castro, O Estado de S.Paulo