Ademais, o café brasileiro e o própolis são bem acolhidos, à medida que suas vendas disparam no gigante do comércio digital Alibaba. A bela melodia de“Garota de Ipanema” sai dos bares de Pequim, Xangai e Chengdu e chega aos ouvidos das pessoas apressadas dos grandes centros, fazendo com que sintam um pouco a atmosfera relaxante do Hemisfério Sul.
O samba e a capoeira são frequentemente apresentados em festivais e eventos das cidades chinesas. Jogadores de futebol brasileiros lideram seus respectivos clubes chineses com a ambição de brilhar mais.
No Brasil, existem diversas mercearias chinesas e lanchonetes espalhadas no centro das grandes cidades. A qualidade dos produtos vendidos nesses mercados melhora a cada ano. Com tal força, que lojas de alta qualidade foram modernizadas de forma gradual e tiveram o seu espaço de destaque em grandes shoppings e centros comerciais. Como por exemplo a Miniso — rede de franquia famosa pelos produtos de bons custo-benefício e designer. E a líder da indústria de drones DJI inaugurou a sua primeira loja física no BarraShopping, no Rio.Além disso, o sucesso da data promocional “Dia dos Solteiros” (Black Friday chinesa), na qual consumidores do mundo todo se lançam de forma massiva às compras no site Alibaba, atraiu imensa atenção dos brasileiros, resultando num alto número de compradores nesse grande comércio digital.
Carros de marcas como JAC e Chery têm conquistado os consumidores brasileiros devido aos seus preços acessíveis e serviços de manutenção gratuitos. Trens do metrô do Rio de Janeiro foram fabricados na China, com ar-condicionado projetado especialmente para o mercado brasileiro e eficiência de refrigeração de primeira classe. Ademais, a compra da 99 por uma empresa chinesa do mesmo ramo (Didi) tem inovado progressivamente os serviços, conseguindo dinamizar o mercado de táxis, economizando o dinheiro e o tempo de viagem dos passageiros.
Já no âmbito da educação, foi inaugurada no fim de 2018 a primeira Escola Internacional Chinesa do Brasil contando com um ensino trilíngue: chinês, português e inglês. A instituição tem políticas voltadas às famílias mais carentes, possibilitando que estas tenham o acesso a uma educação de qualidade, com o compromisso de formarem jovens talentosos capazes de desenvolver melhorias para o futuro do país.
Em vista disso, percebe-se que o Brasil e a China têm mantido um relacionamento mútuo e benéfico ao longo do tempo. Nos últimos 45 anos, desde o estabelecimento das relações diplomáticas entre ambos, a cooperação tem se aprofundado, e os interesses estão continuamente interligados, permitindo assim que os dois povos se beneficiem desse crescimento.
Os dois países assinaram acordos de cooperação em inúmeras áreas, como aeroespacial, tecnologia da informação, biotecnologia, agricultura, pecuária, aquicultura, medicina, saúde e metalurgia, entre outras. O projeto China-Brasil de satélite de recursos da Terra é reconhecido como modelo de cooperação Sul-Sul, tendo sido lançados com sucesso quatro satélites, cujos dados são amplamente utilizados em países da África, América do Sul e região Ásia-Pacífico, além de as imagens serem fornecidas gratuitamente para muitas regiões da África e Ásia.Ambos os países estabeleceram conjuntamente o Laboratório Agrícola, o Centro de Tecnologia de Inovação em Mudança Climática e de Energia, o Centro de Pesquisa em Nanotecnologia e o Laboratório Meteorológico Espacial Sul-Americano. E atualmente está em processo a construção do Centro de Satélite Meteorológico e o Centro de Biotecnologia.
A China é o maior parceiro comercial do Brasil há nove anos. Em 2017, o volume de negócios entre os dois alcançou US$ 87,54 bilhões, dos quais o Brasil importou US$ 28,96 bilhões e exportou US$ 58,58 bilhões — ambas tiveram um aumento de 30%. Os produtos agrícolas e pecuários que o Brasil exportou para a China, como carne bovina e soja, excederam 560 mil toneladas e 50 milhões toneladas, respectivamente, representando 40% e 80% do total das exportações.
Na época do atrito comercial sino-americano, a exportação de soja brasileira ocupou silenciosamente uma grande fatia do produto consumida pela China. Após anos de dedicação, a China e o Brasil estabeleceram uma estratégia de longo prazo para a cooperação econômica e comercial, a qual tem se elevado continuamente. O mercado brasileiro tem se esforçado para melhorar a estrutura de exportação para a China, visando a exportar mais produtos de alto valor agregado, em vez de commodities como produtos agrícolas e minerais.
As empresas chinesas investiram US$ 24,7 bilhões no Brasil em 2017, considerado um recorde nos últimos sete anos. Mais de 200 delas têm a sua sede no Brasil, e muitas estão entre as 500 melhores do mundo. Além disso, as empresas privadas chinesas estão cada vez mais interessadas em investir no Brasil.
A China possui alta tecnologia e experiência avançada de gestão no setor de construção de infraestrutura, entre as quais a transmissão de ultra-alta voltagem, a ferrovia de alta velocidade e a tecnologia utilizada em estradas e pontes, todas estas líderes mundiais. Há alguns anos, a State Grid (empresa chinesa) introduziu uma nova tecnologia voltada para a distribuição de energia elétrica e a utilização de energia limpa, inserindo também uma metodologia de gestão mais avançada no Brasil, principalmente num dos momentos mais difíceis e delicados do país, ajudando-o na redução dos custos de transmissão e melhorando a eficiência dos processos.
O projeto de Belo Monte de transmissão de ultra-alta tensão em corrente contínua foi concluído com antecedência de dois meses sob os esforços conjuntos da China e do Brasil. As empresas chinesas concretizaram projetos de infraestrutura de grande porte, como termelétricas, gasodutos e dragagem de portos, criando um grande número de oportunidades de emprego para a sociedade brasileira. A China está disposta a ajudar na construção de ferrovias intermunicipais de alta velocidade, reduzindo os custos de viagens, construção de ferrovias de carga, abrindo canais verdes para a exportação de soja e outras commodities.
O enorme poder de compra dos 1,4 bilhão de habitantes da China é um mercado que o Brasil não está em condições de perder, em vista da atual conjuntura econômica do país. O Brasil tem a oportunidade de desfrutar da gigantesca feira “China International Import Expo (CIIE)” para apresentar os seus produtos e serviços de qualidade a novos mercados, induzindo a um aumento da produtividade e competitividade, a sua diversificação da estrutura produtiva voltada para a exportação e, por fim, alcançar a modernização da indústria doméstica.
O mercado financeiro brasileiro é altamente desenvolvido, com regulamentos práticos e transparentes, possuindo grandes vantagens em termos de legislação, tecnologia de informação e desenvolvimento de novos produtos. Além disso, o Fundo de Cooperação Brasil-China para Expansão da Capacidade Produtiva, cujo montante total é em torno de US$ 20 bilhões, já iniciou as suas atividades, e as principais instituições financeiras e de seguros chinesas estão investindo fortemente no mercado brasileiro nos últimos tempos. Com a fusão, as instituições financeiras dos dois países fornecerão serviços muito mais eficientes e abrangentes para o atendimento das empresas.
No âmbito da educação, há atualmente mais de 50 universidades que lecionam português na China. E a proporção do ensino da língua portuguesa falada no Brasil tem aumentado cada vez mais. Refletindo, assim, a visão prospectiva e estratégica do governo chinês no desenvolvimento da relação sino-brasileira, além do crescimento da demanda por tradutores chinês–português dentro do mercado da China.
Devido às mudanças dos governos federal e estadual em janeiro de 2019, as empresas chinesas aguardam ansiosamente por uma cooperação bilateral estável e de longo prazo, sempre confiantes de que o bom relacionamento sino-brasileiro não irá se desviar.
No Jardim Botânico, há uma árvore do chá de dois metros de altura, que foi plantada pelos primeiros cultivadores chineses do chá que chegaram ao Brasil. Essa árvore tem mais de 200 anos de história e já experimentou inúmeras vicissitudes. No entanto, permanece alta e próspera. Assim como a planta, a cooperação amistosa entre a China e o Brasil — enraizada no conceito de abertura e inclusão, benefícios mútuos e desenvolvimento igualitário — não se retrai diante das dificuldades e nem das mudanças. Através das conquistas alcançadas ao longo dos anos, criará uma raiz forte, profunda e com folhas mais prósperas.
Li Yang é cônsul-geral da República Popular da China no Rio de Janeiro
O Globo