
Netanyahu, que, segundo fontes ouvidas pelo GLOBO, havia desistido de comparecer à posse de Bolsonaro, voltou atrás e confirmou na quarta-feira que ficará no país para a cerimônia.
Agora, também no Twitter, ele descreveu os planos de sua viagem ao Brasil e de seu encontro com o presidente eleito. "Vamos discutir os laços de Israel com o maior país da América Latina, o quinto país mais populoso do mundo. O Brasil é um país enorme, com enorme potencial para o Estado de Israel, economicamente, diplomaticamente e com relação a segurança", escreveu nesta quinta-feira.
Mais cedo, numa primeira postagem no Twitter sobre sua visita ao Brasil, Netanyahu comemorou a aproximação entre os países. "É uma grande mudança que o [presidente eleito] Bolsonaro declarou e estou satisfeito por podermos começar uma nova era entre Israel e a grande potência chamada Brasil", escreveu.
O presidente eleito Jair Bolsonaro celebrou a confirmação da vinda de Netanyahu ao Brasil. Na noite desta quinta-feira, tuitou: "Israel é referência mundial em tecnologia para diversos serviços e isso nos interessa. Não há razão para criticar o diálogo, muito menos quando a crítica vem de quem nada fez, só destruiu e roubou o país. Queremos o melhor para o Brasil e para a população brasileira!
O embaixador de Israel no Brasil, Yossi Shelley, já havia afirmado que o país se dispunha a contribuir em várias áreas em que o Brasil enfrenta problemas, como a seca no Nordeste e a segurança pública. Contra a seca, o país teria a oferecer tecnologia de dessalinização da água — algo que, no entanto, existe em programas públicos no Brasil desde 2004 , sem a participação israelense.
Ainda assim, nesta quinta-feira, o deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP), filho do presidente eleito que tem atuado como porta-voz do pai, voltou a falar que Isarel poderia contribuir com a dessalinização da água no Brasil.
No Twitter, pouco depois das postagens de Netanyahu, ele escreveu: "Além da água Israel pode nos ajudar também com tecnologia de defesa nacional. Tantos falam que nossas fronteiras poderiam ser melhor guarnecidas e que isso reduziria tráfico de armas e drogas, contrabando, descaminho e etc nas cidades não fronteiriças".
"Anão diplomático"
As relações entre Brasil e Israel já foram pouco amistosas no passado. Em 2014, a chancelaria israelense chamou o país de "anão diplomático" . Foi uma resposta do governo de Israel à decisão do então ministro das Relações Exteriores do Brasil, Luiz Alberto Figueiredo, de chamar de volta ao país o embaixador em Tel Aviv, Henrique Sardinha Filho.
Na ocasião, o governo brasileiro alegou que tomara a decisão em decorrência da escalada de violência entre Israel e Palestina.
“A decisão não reflete o nível de relacionamento entre os países e ignora o direito de Israel de se defender. Passos como esse não contribuem para promover a calma e a estabilidade na região. Ao contrário, dá respaldo ao terrorismo e, naturalmente, afeta a capacidade do Brasil de exercer influência. Israel espera apoio de seus amigos em sua luta contra o Hamas, que é reconhecido como uma organização terrorista por muitos países pelo mundo”.
— Essa é uma infeliz demonstração de por que o Brasil, um gigante econômico e cultural, se mantém um anão diplomático. O relativismo moral por trás dessa medida transforma o Brasil num parceiro diplomático irrelevante, que cria problemas em vez de contribuir para soluções — disse então o porta-voz da chancelaria Yigal Palmor à imprensa israelense.
Encontro com Mike Pompeo
O premier israelense aproveitará a visita ao Brasil para conversar com o secretário de Estado dos EUA, Mike Pompeo, que também virá à posse de Jair Bolsonaro. O encontro de Netanyahu e Pompeo ocorre enquanto Washington se prepara para retirar as tropas da Síria
O relacionamento de Netanyahu e do presidente americano Donald Trump estremeceu desde que os EUA anunciaram, na semana passada, que vão retirar os 2 mil soldados americanos da Síria. Israel vê a presença de Washington no país como uma defesa contra o Irã e um contrapeso à influência da Rússia.
Mesmo assim, o governo israelense tem sido comedido em sua resposta pública aos EUA, dizendo que respeita a decisão de Trump, que, por sua vez, levou à renúncia do secretário da Defesa, Jim Mattis.
Israel realizou centenas de ataques na Síria alegando serem dirigidos contra as forças iranianas e seus aliados do Hezbollah. Trump disse que as tropas dos EUA se concentram exclusivamente em combater o Estado Islâmico, que agora ele disse ter sido "amplamente derrotado".
Pompeo também se encontrará no Brasil com o presidente peruano, Martín Vizcarra, e depois voará para Cartagena para conversar com o presidente colombiano, Iván Duque.