quinta-feira, 13 de dezembro de 2018

"A grande batalha", por J.R. Guzzo

A maioria da população não quer só

outras pessoas no Planalto. Quer 

que o país seja governado de uma 

forma que não tem nada a ver com a

dos últimos 30 anos



De todas as ameaças que segundo os grandes cérebros nacionais, de Fernando Henrique a Fernanda Lima, o futuro governo de Jair Bolsonaro traz para o Brasil, a pior provavelmente é a única que não foi citada até hoje por nenhum deles. 
É pior que o regime fascista a ser inaugurado no dia 1º de janeiro de 2019, com o massacre de homossexuais, mulheres, negros, índios, povos da floresta, povos das águas, etc.. 
É pior que a falta de espaço para as “pessoas razoáveis” viverem neste país. 
É pior que mais alguns milhares de problemas que ainda nem sabemos quais são. 
Pior que tudo isso junto, na verdade, é a possibilidade de que Bolsonaro acabe não fazendo nada do que prometeu e que quase 60 milhões de brasileiros estão esperando que ele faça. 
Aí sim: se não entregar a mercadoria que vendeu, ou entregar produto de segunda, em quantidade abaixo da esperada e com atraso, o Brasil vai levar um choque.
 A maioria da população, conforme ficou decidido no dia 28 de novembro, não quer apenas outras pessoas no governo federal. 
Quer outro governo. 
Quer que o Brasil seja governado de uma maneira que não tem nada a ver com a dos últimos 30 anos. 
Quer que sejam eliminados os problemas concretos de uma lista bem conhecida. 
Não quer ouvir do governo que “está difícil”. 
Quer soluções. 
Não está com paciência para ouvir desculpas.
O principal adversário do futuro governo Bolsonaro, assim, será ele próprio. 
O problema real não estará na oposição dentro do Congresso, na mídia ou no meio político. Não estará nos intelectuais das universidades de “ciências humanas”. 
Não estará na comunidade internacional, na ONU e nos seus guerrilheiros de escritório com ar condicionado em Nova York ou Genebra. 
A grande batalha a ser ganha, a que vai resolver realmente as coisas, será em torno da capacidade concreta, por parte do governo, de executar os seus projetos. 
Ou ele tem essa capacidade ou não tem. 
Se tiver, haverá mudanças de verdade ─ e logo. Se não tiver, por motivos que podem ir de discórdias internas à simples incompetência, muito pouca coisa vai mudar.
Aí fica complicado. Não dará para engatar uma marcha-a-ré, pois o Brasil acaba de deixar claro que não quer voltar para onde esteve ─ pegou um “fartão” sério em relação ao esquerdismo inepto, burro e larápio dos governos Lula-Dilma. 
Também não vai dar para ficar atolado e dizer que a estrada está ruim. 
Em resumo: ou muda mesmo ou perde a parada.
A área econômica, como sempre, será decisiva. 
Depois da monstruosa recessão de três anos que o PT impôs ao Brasil, com 14 milhões de desempregados, a devastação nas contas públicas e uma opção mortal pelo subdesenvolvimento, as mudanças terão de ser muito claras e muito rápidas. 
Vive-se, hoje, um momento de fabricação intensiva de dúvidas ─ não se perde nenhuma oportunidade para anunciar desastres iminentes, ruinosos e definitivos. 
O foco, em grande parte, é colocado no anunciado ministro da Economia, Paulo Guedes. 
Ele não se entende com outros barões da equipe. Vai viver em choque com o Congresso. 
Anuncia coisas contraditórias, ou desautorizadas por Bolsonaro. 
Fala demais. 
O novo governo, sem dúvida, não precisa ter no comando da economia um homem que funciona como armazém de ideias; precisa como ar e água, isso sim, de um operador, de alguém que resolva problemas práticos, de um produtor talentoso de resultados. 
Precisa de alguém que transforme em realidade prática as decisões econômicas do comando. 
Guedes pode dar certo? Vamos ver logo. 
Essas coisas costumam ficar claras bem rápido.
É um ótimo sinal, de qualquer forma, que praticamente todos os nomes apontados até agora para o primeiro escalão, a partir de Sergio Moro, sejam de primeira classe ─ não se viu uma equipe comparável, nem de longe, nos governos dos últimos 30 anos. Não resolve, claro. Mas é muito melhor que o contrário.

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