Só que, ao contrário, a espiral foi negativa: utilizou-se cada vez mais combustível para desenvolver velocidades cada vez menores. Até que a locomotiva começou a andar para trás. Dilma ainda tentou estancar a escalada do desequilíbrio fiscal, mas era tarde demais.
Os passageiros trocaram de maquinista.
Hoje qualquer pessoa de bom senso sabe que o déficit primário não pode continuar e que o próximo presidente terá que liderar o país numa dolorosa transição. Porém, os candidatos não têm conseguido enunciar claramente quais sacrifícios precisam ser feitos para tirar o país do atoleiro, e quem os deve fazer.
Tipicamente, os entrevistadores constrangem o candidato indagando quais medidas duras pretende adotar. Do tipo, “em seu governo, a gratuidade nas universidades públicas federais será preservada? ”.
Perguntas assim, que identificam os potenciais perdedores sem dar chance ao candidato de contextualizar o assunto de forma a deixar claro quem seriam os vencedores — no caso, as crianças atendidas pelo ensino básico — quase sempre são respondidas com evasivas.
Uma hipotética resposta direta, com a nomeação apenas das corporações que terão que abrir mão de vantagens extravagantes, resultaria na subtração dos votos dos potenciais perdedores, sem a adição de votos dos potenciais ganhadores.
Ainda está em tempo, para o bem do país, que os entrevistadores façam autocrítica e passem a permitir que os candidatos deem respostas complexas para questões complexas.
Jerson Kelman é engenheiro
O Globo