quarta-feira, 12 de setembro de 2018

"O candidato postiço", editorial do Estadão

A apenas quatro semanas do primeiro turno da eleição presidencial, o PT finalmente sacramentou Fernando Haddad como seu candidato. Na versão oficial do partido, o candidato deveria ser seu guia supremo, Lula da Silva, mas este, de acordo com a martiriologia lulopetista, foi impedido pelo “golpe” – uma descomunal articulação entre políticos, juízes, banqueiros, imprensa e até o governo norte-americano para sabotar o projeto de fazer o Brasil ser “feliz de novo”, conforme diz o slogan da atual campanha do PT.
Está claro desde sempre, e muito mais agora, que Haddad é apenas um preposto que concorrerá ao mais alto cargo do Executivo nacional não porque deseja administrar o País segundo suas ideias ou as de seu partido, mas para fazer as vontades de um presidiário, condenado a mais de 12 anos de prisão por corrupção e lavagem de dinheiro. A já conhecida desfaçatez lulopetista parece ter atingido seu estado da arte.
Mais uma vez, Lula demonstrou que o PT deixou de ser um partido político e passou a servir como mero instrumento para os jogos de poder do ex-presidente. Todas as decisões a respeito da campanha foram tomadas depois de exaustivas consultas ao líder encarcerado, que transformou sua cela em Curitiba em escritório político, mais uma de suas tantas afrontas ao sistema judiciário. Como se estivessem diante de uma divindade, os petistas dobraram-se aos desígnios de Lula – que, segundo suas próprias palavras, não é mais um ser humano, e sim “uma ideia”.
Assim, a apresentação de Haddad como candidato do PT à Presidência cumpre apenas uma formalidade burocrática, pois era necessário colocar algum nome na urna eletrônica, e o de Lula está vetado, de acordo com a Lei da Ficha Limpa, que impede criminosos condenados por órgãos judiciais colegiados de concorrerem a cargos eletivos. Ao apresentar um candidato explicitamente postiço, o PT está a dizer a seu eleitor que, se Haddad for eleito, o Brasil será governado de fato não pelo ex-prefeito de São Paulo, cujas qualidades, se houver, são irrelevantes, mas sim por seu líder encarcerado, a quem o eleito teria de pedir a bênção a cada decisão de Estado a tomar.
Nunca se chegou a tal ponto de degradação na história política nacional, mas é possível ter um vislumbre do terrível desastre que representaria para o País um desfecho como esse se recordarmos como foi o desempenho dos famigerados “postes” de Lula – o próprio Haddad, na Prefeitura de São Paulo, e Dilma Rousseff, na Presidência da República.
Dilma, nunca é demais recordar, protagonizou um dos piores governos da História nacional depois de ter sido vendida por Lula aos eleitores como uma competentíssima gerente. O Brasil ainda levará muitos anos para pagar toda a conta dessa irresponsabilidade, felizmente punida com o impeachment antes que a “obra” de Dilma fosse concluída.
Já a administração de Haddad, como sabem quase todos os paulistanos, foi marcada pela ineficiência, tão grande quanto sua arrogância. Governou para uma ínfima parte dos paulistanos, que se deixaram encantar pela alegada “modernidade” do prefeito, e desprezou as prementes necessidades dos moradores da periferia, que dependem de serviços da Prefeitura. O prometido “homem novo para um tempo novo”, como alardeou o PT ao apresentar Haddad como candidato à Prefeitura em 2012, revelou-se uma tapeação – e o resultado foi uma constrangedora derrota já no primeiro turno, na sua tentativa de reeleição, em 2016, quando conseguiu perder em todas as regiões da cidade.
Desta vez, contudo, nem é o caso de avaliar se Haddad é ou não competente para exercer a Presidência, pois sua campanha terá o único propósito de manter acesa a ofensiva lulopetista contra as instituições democráticas – e não surpreende que, na seita de Lula, haja quem discuta à luz do dia a hipótese de Haddad, se eleito, encontrar uma forma de tirar o demiurgo da cadeia. Sob qualquer aspecto que se avalie, uma campanha construída sobre tais bases é evidentemente uma afronta ao processo eleitoral e um prenúncio de desestabilização – ou seja, tudo o que o País não precisa.