O título da coluna foi o nome da sessão do Você Muda o Brasil (bit.ly/2LzfwPmNum), realizado na última segunda-feira, 27) em São Paulo. Reflete uma angústia coletiva de um país que não muda, e, ao mesmo tempo, a certeza de que é preciso mudar, a esperança de que vai mudar e a convicção de que só mudará se nós – todos nós, brasileiros – mudarmos.
A coluna trata de inovação e não há inovação sem um desafio, um destino, algo pelo qual nós decidimos em conjunto. Na sociedade, inovação é a mudança de comportamento de cidadãos e instituições, como proponentes e realizadores de um esforço coletivo. Para que essa energia seja reunida no mesmo espaço-tempo, o desafio não pode ser difuso tem que ser entendido por todos, ao mesmo tempo. É preciso descobrir e combinar um propósito.
Imagine que nosso propósito fosse tornar uma das 10 maiores economias do mundo (somos a 8ª) numa das 30 melhores para viver (nosso índice de desenvolvimento humano é o 79º), em 40 anos. Esse seria o propósito “10+30=40”. É óbvio que tal futuro é possível. Mas o que fazer para tornar tal possível futuro em presente, em realidade?
É preciso entender que o futuro vem do futuro. Replicar o que vem sendo feito até aqui, mesmo melhorado, não nos levará ao propósito “10+30=40”. Tentar refinar o passado por meio do presente, ou forçar, do passado para o futuro, por meio do presente, dogmas, mecanismos e sistemas que não mostram resultados, não resulta num “10+30=40”. É preciso mudar, e são mudanças de muito grande porte, inovações radicais. Não é com a mesma educação – só para citar o mais crítico dos problemas – que chegaremos lá. E mudar educação leva tempo.
Por isso, o futuro precisa de tempo. Mudanças radicais não rolam de uma hora para outra. O futuro é como um startup. Ele precisa ser imaginado, prototipado, experimentado, testado, revisto, até estar em condições de tentar crescer de verdade, pelejar para atingir todo seu potencial. Considerando o tamanho e a complexidade do Brasil, associado à imensidão do propósito “10+30=40”, imagine o esforço demandado de todos. Nem por isso devemos desistir: a cada dia que não começamos, o futuro se atrasa semanas, meses, talvez anos.
Por fim, é preciso considerar que o futuro é emergente. Quando se faz grandes intervenções em redes de muitos agentes (milhões de organizações, mais de 200 milhões de pessoas), não é possível saber, a priori, que sistemas irão se comportar de forma mais eficaz durante e depois da onda da mudança. Normatizar o futuro elimina o espaço e tempo para resultados imprevistos que, se estiverem alinhados com o propósito, não só devem ser aproveitados mas até regulados. No Brasil, mais que sempre, o futuro é urgente. Mas ele só chegará se vier do próprio futuro e se criarmos tempo e espaço para que ele venha. Só depende de nós.
É professor emérito da UFPE e pesquisador do Instituto Senai de Inovação. É fundador e presidente do conselho do Porto Digital.
O Estado de S.Paulo