Pedro França - 6.jul.2016/Agência Senado | |
O senador Fernando Bezerra Coelho (PMDB-PE)
Uma coisa sobre Jarbas Vasconcelos é unanimidade em Pernambuco: trata-se de uma alma movida pelo ódio. Um homem que ao longo de tantas décadas notabilizou-se por difamar e atacar quem dele discorda.
Não foi com surpresa que lemos o artigo escrito por ele e veiculado por esta Folha na última quinta-feira (28) ("O que de fato esperar do novo MDB"). Quem conhece Jarbas sabe que esse tipo de atitude é sua marca na política.
Mas, para o bem da verdade, alguns pontos devem ser esclarecidos. Jarbas fala em contradições dos outros, quando sua biografia é marcada justamente por incoerências e traições. Chama a mim de adesista, mas aceitou meu apoio em 1990, quando meu pai foi seu candidato a vice-governador; em 2002, na disputa pela reeleição; e em 2014, quando foi eleito para a Câmara dos Deputados.
Como a história não se apaga, é importante lembrar que já na aurora da redemocratização, em 1982, ele traiu Miguel Arraes (1916-2005), impedindo o ex-governador de retomar nas urnas o mandato cassado em 1964.
Em 1985, nas primeiras eleições para prefeito de capitais, ele perdeu as prévias do PMDB para o ex-deputado Sérgio Murilo (1931-2010). O que fez, então? Deixou a legenda, indo abrigar-se no PSB para disputar a prefeitura do Recife. Pôs nas ruas a campanha de mais baixo nível já vista em Pernambuco, chamando o opositor de assassino.
Mais tarde, em 1998, na disputa para governador de Pernambuco, Jarbas não teve qualquer cerimônia para tecer as piores acusações justamente a Miguel Arraes, que tentava a reeleição.
"Ladrão e incompetente" eram os adjetivos que ele usava contra Arraes, um homem público de biografia absolutamente irretocável. Naquela ocasião, fui vice de Arraes, exatamente para defender sua honra diante de tantas agressões.
Em 2010, em nova disputa pelo governo, ele chamou Eduardo Campos (1965-2014) de coronel e mau caráter. Na sua fúria, sobrou até para a ex-deputada federal Ana Arraes, mãe de Eduardo, que se apresentava para o cargo de ministra do Tribunal de Contas da União (TCU).
Cansado do estilo de Jarbas, o povo de Pernambuco o esvaziou eleitoralmente a ponto de ele não conseguir eleger o próprio filho vereador do Recife.
Jarbas, de fato, se desconectou da população. Representa um tempo que foi enterrado nas urnas. Para não ser empurrado de vez para fora da política, procurou Eduardo, suplicando uma sobrevida.
Do dia para a noite, passou a elogiar justamente aquele a quem sempre detratou. Fato que até hoje é motivo de ironia nos meios políticos de todo o país. Todos sabemos que Jarbas Vasconcelos foi ressuscitado, com muito custo, pelo propósito de Eduardo Campos de construir uma unidade política.
Lambeu as botas de Eduardo, como agora tenta fazer com o presidente Michel Temer, oferecendo apoio às reformas em troca de mais um fiapo de poder.
Porém, causa-nos espanto real ver Jarbas Vasconcelos colocando-se como paladino da ética. Como se jamais tivesse sido alvo de qualquer investigação.
Jarbas foi o principal acusado no primeiro escândalo envolvendo empreiteiras no Brasil, ainda na década de 1990.
Foi, também, citado na Lava Jato por supostos recebimentos de valores indevidos e teve o processo arquivado apenas por ter mais de 70 anos de idade. Jarbas, que entrou pela janela do serviço público, em 1992, como procurador da Assembleia Legislativa de Pernambuco, sem prestar concurso público.
Este é Jarbas Vasconcelos. Uma pessoa que destila amargor e ressentimentos.
Um político que ataca os outros sem jamais fazer qualquer autocrítica.
Um homem tomado pela soberba, imperador de uma casa vazia, que tenta segurar-se no comando de uma legenda para garantir mais alguns anos de cargos públicos. Um final melancólico para quem plantou ódio por toda uma vida.
FERNANDO BEZERRA COELHO, administrador de empresas, ex-deputado federal e ex-ministro da Integração Nacional (2011-2013, governo Dilma), é senador (PMDB-PE)
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