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O Aeroporto Internacional de Nacala, obra da Odebrecht em Moçambique |
MARIANA CARNEIRO - Folha de São Paulo
De 2002 a 2016, o BNDES aprovou cerca de US$ 14 bilhões em financiamentos para obras de construtoras brasileiras no exterior, notadamente em Angola, Venezuela, Argentina e República Dominicana.
O suporte financeiro –necessário para empreender em países onde o risco é elevado e a escassez de crédito, severa– foi determinante para a expansão das empreiteiras lá fora.
Em 2012, a exportação de serviços bateu US$ 38 bilhões –só em engenharia, o país faturou US$ 8,9 bi.
A influência política cresceu com o avanço econômico. O país passou a se vender como potência, e os governantes (Lula e Dilma) adquiriram popularidade além das fronteiras.
O que deu errado? Excessivamente dependentes do preço das matérias-primas e acumulando erros de política econômica, alguns países quebraram antes de pagar o que devem, como Venezuela e Moçambique. Angola quer garantias de que as obras serão terminadas. Sobrou para o Tesouro Nacional o prejuízo pelo calote já consumado de Moçambique (R$ 1,5 bilhão). Outros estão na fila.
Embora a estratégia de financiar as exportações de serviços seja positiva, ainda não ficou claro por que o BNDES concentrou esforços em alguns países. Segundo pesquisa de Fernanda Lira Goes, do Ipea, dos 11 que receberam empreiteiras brasileiras, Angola e Venezuela responderam por mais da metade do crédito do BNDES liberado às construtoras.
A excessiva concentração não perturbou a análise técnica do banco? É certo que o BNDES segue comando do governo. Mas não houve avaliação crítica interna?
Ainda não veio à tona nenhum relatório de alerta feito à época. Nem do banco nem de representantes dos ministérios da Fazenda, Planejamento, Indústria e Itamaraty no Cofig (Comitê de Financiamento e Garantia das Exportações).
É hora de entender como tudo aconteceu, para criar freios e contrapesos e tornar essas escolhas mais claras no futuro. Trazer à luz os pareceres técnicos é um começo.