quinta-feira, 10 de agosto de 2017

Na era do Uber, aluguel de carros entra em decadência nos EUA

Bloomberg


NOVA YORK - No começo da era automotiva dos Estados Unidos, um homem de Nebraska chamado Joe Saunders teve uma ideia louca: ele alugaria seu Modelo T da Ford a vendedores.

Hoje, 101 anos depois, seus herdeiros simbólicos – Saunders vendeu a empresa a um homem de Chicago chamado Hertz – enfrentam uma pergunta existencial: será que o setor de aluguel de carros dos EUA conseguirá prosperar na era do Uber, da Lyft e, algum dia, dos veículos autônomos?

A resposta, por enquanto, não é boa. A Hertz Global Holdings acumula prejuízos e a Avis Budget Group acaba de reduzir sua projeção de lucros. Investidores já pagaram um preço alto. Os problemas com as frotas para aluguel são um dos motivos. Nos últimos anos, a Hertz comprou mais carros do que precisava e tem tido dificuldade de vendê-los a preços decentes.

Contudo, talvez o mais preocupante é que as empresas de aluguel de carros enfrentam o tipo de ameaça que derrubou a Blockbuster, que entrou em colapso diante da nova tecnologia de vídeo digital e da Netflix. Sempre existirá um mercado para os carros de aluguel, mas eles parecem antiquados para cada vez mais clientes corporativos e até mesmo para clientes ocasionais. Para que fazer fila e preencher formulários para pegar e devolver um carro se é possível recorrer a um aplicativo?

Os problemas do setor foram evidenciados mais uma vez na terça-feira, quando a Hertz informou seu terceiro trimestre consecutivo de prejuízos. A perda ajustada de US$ 0,63 por ação para o período terminado em junho foi pior do que a projeção mais baixa dos analistas em uma pesquisa da Bloomberg. No dia anterior, a Avis tinha reduzido sua projeção de resultados para o ano completo.

— O negócio do transporte está evoluindo — disse Neil Abrams, presidente da Abrams Consulting Group, que assessora o setor de aluguel de carros. — As empresas que não agem ficam para trás.


FROTA EXCESSIVA

Na verdade, talvez os problemas do setor tenham mais a ver com uma má gestão do que com Uber, Lyft ou outras empresas novas de mobilidade. A Hertz em particular acumulou uma frota excessiva, com carros demais para alugar. Para que esses veículos continuassem gerando receita, a empresa teve que baixar as tarifas do aluguel.

As empresas tiveram que diminuir as frotas no pior momento possível. Milhões de veículos estão no fim do período de aluguel iniciado nos anos em que o setor automotivo dos EUA estava em pleno crescimento.

Além das dificuldades para administrar seu principal negócio, a Hertz e a Avis também terão que enfrentar um futuro incerto. Atribulados viajantes a negócios precisam arrastar suas malas até um ônibus, ir a uma agência de aluguel, fazer fila, pegar o carro, inspecioná-lo e assinar os papéis para sair dirigindo, mas o transporte compartilhado possibilita que as pessoas simplesmente abram um aplicativo para que alguém vá buscá-las.