quinta-feira, 4 de maio de 2017

Esquema na Petrobras montado pela quadrilha Lula-Dilma usou até lei de repatriação para tentar limpar propina


Marina Oliveira e Juliana Arreguy - O Globo


CURITIBA - Um total de R$ 5 bilhões em 18 contratos da Petrobras foram fraudados no esquema de corrupção desvendado na 40ª fase da Operação Lava-Jato desta quinta-feira.

Um dos alvos da operação, Marcio de Almeida Ferreira, usou até a lei de repatriação de recursos para tentar trazer dinheiro sujo do exterior e limpá-lo. Ou seja, houve envolvido que além de receber propina até meados de 2016 — dois anos e meio depois de já iniciada a Lava-Jato —, também usou a lei brasileira para se beneficiar, de acordo com as autoridades. Não existe, no entanto, nenhum documento na investigação que conste que esse dinheiro tenha chegado ao Brasil.

As informações foram dadas por delegados da PF e procuradores do Ministério Público Federal (MPF), durante coletiva de imprensa realizada nesta quinta-feira em Curitiba. A operação cumpriu quatro mandados de prisão (duas preventivas e duas temporárias), cinco de condução coercitiva e ainda 16 de busca e apreensão nos estados do Rio, de São Paulo e de Minas Gerais. A operação foi batizada de "Asfixia".

Os presos foram: Marcio de Almeida Ferreira e Maurício de Oliveira Guedes, ex-gerentes da Petrobras, além de Marivaldo do Rozário Escalfoni e Paulo Roberto Gomes Fernandes, representantes da Petrobras. Todos devem chegar a Curitiba até a noite desta quinta-feira. 

Eles recebiam propina de pelo menos duas empresas, Akyzo e Liderroll, usadas por empreiteiras para repassar recursos indevidos a funcionários da Petrobras, em troca de contratos. As empreiteiras são basicamente as mesmas já alvo de operações na Lava-Jato, parte do cartel de empreiteiras.

— O que fica claro é que muito trabalho ainda precisa ser feito na Petrobras. Nada garante que não tenhamos hoje uma empresa limpa de toda a corrupção do seu passado — disse o procurador Carlos Fernando dos Santos Lima.

Os envolvidos cobravam 1% de propina sobre o valor dos contratos, a maioria dentro do Setor de Engenharia, comandado por Renato Duque e Pedro Barusco.

— É um novo núcleo que surge dentro da organização criminosa, um núcleo que atuou no setor de gás e energia, dentro do setor de engenharia — disse a delegada Renata da Silva.
O procurador Diogo Castor de Mattos salientou a “ousadia” mostrada nessa nova fase, já que os funcionários da Petrobras receberam valores até meados de 2016 e utilizaram a “lei de regularização cambial para a lavagem de dinheiro”.

— Um dos investigados subiu de patrimônio de R$ 7 milhões para R$ 56 milhões. Ele esquentou esse dinheiro que certamente era fruto de propina. Abrimos aí uma nova linha de investigação, que possa mostrar como essa lei de regularização cambial possa ter sido utilizada para trazer dinheiro do exterior. Em tese essas pessoas podem estar ficando com esses recursos de forma lícita, o que gera um risco para a sociedade — comentou o promotor, salientando que milhares de pessoas no Brasil aderiram à repatriação cambial.

Renata da Silva, delegada da PF que participou da operação, disse que o esquema de hoje foi desvendado a partir de depoimentos de Ricardo Pernambuco, da Carioca Engenharia, além de funcionários da Andrade Gutierrez, que colaboraram com as investigações.

O inquérito começou após dados coletados pela Receita Federal. A RF chegou a uma lista de empresas suspeitas de lavagem de dinheiro. Aí se chegou a Edson Krummenauer, ex-gerente da Petrobras, como beneficiário final do esquema. Ele não foi preso porque fez colaboração premiada com o MPF. Edson afirmou que tinha um saldo de R$ 15 milhões em propina a receber, o valor foi repassado ao longo do tempo e de diferentes maneiras, no exterior, em espécie, até pagamentos de contas de sua casa, com o objetivo de não levantar suspeita. Ele abriu uma terceira empresa para receber da Akyzo.

— Praticamente toda movimentação da Akyzo era criminosa. (...) Não houve pudores para usar as duas empresas para passar propina — disse Renata.

Todos os funcionários-alvo da operação de hoje tinham na Petrobras uma posição para agilizar procedimentos.

— Temos indícios de que o esquema teria começado em 2003 e se estendido até recentemente. Até 2016 Edson recebeu propina deste saldo devedor — disse a delegada, citando 15 contratos em que foram detectadas irregularidades; somados, chegam a R$ 5 bilhões.

Os investigados, segundo a Força-Tarefa, foram presos para que as investigações sejam aprofundadas.

— Dada a sofisticação do esquema, pode haver outros envolvidos (...). Vimos hoje um retorno de onde começamos na Lava-Jato, de funcionários da Petrobras envolvidos em corrupção — disse Diogo Castor de Mattos.