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Pacientes aguardam atendimento no pronto-socorro do hospital Santa Marcelina, na zona leste de SP |
JAIRO MARQUES - Folha de São Paulo
Três grandes e estratégicos hospitais que fazem atendimento gratuito à população de São Paulo vivem séria crise financeira e trabalham no limite de suas possibilidades.
Na Santa Casa (centro), na Santa Marcelina (zona leste) e no Hospital São Paulo (zona sul), o problema maior é que essas instituições chegaram a seus ápices de endividamento com credores, estão trabalhando com caixas negativos e, como consequência, com dificuldades de contrair novos empréstimos.
Dessa maneira, não há capacidade de investimento em melhorias nem mesmo dinheiro para que o funcionamento normal seja garantido.
O médico José Roberto Ferraro, diretor-geral do Hospital São Paulo, que atende cerca de 5.000 pessoas por dia, defende um "pacto nacional" em busca de recursos financeiros para "salvar a saúde pública do país".
A instituição acumula dívidas de R$ 90 milhões e está fechando, todos os meses, com um deficit de aproximadamente R$ 1,5 milhão. Há atraso no pagamento de fornecedores e faltam insumos em alguns setores.
Liderada pelos médicos residentes, parte dos funcionários da instituição está em greve há quase um mês.
"É urgente buscar uma solução para a saúde por meio de uma mobilização nacional, de um pacto", disse Ferraro à Folha. "Ou cria-se um fundo novo de recursos ou volta a CPMF [cobrança sobre operações financeiras]. Precisamos de uma fonte financeira estável para conseguir resistir", completou.
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RENEGOCIAÇÃO
Com a situação mais drástica a ser resolvida, a Santa Casa de São Paulo, maior complexo hospitalar filantrópico da América Latina, também tem com os bancos o seu problema mais nevrálgico.
Novo provedor da instituição, o médico José Luiz Setúbal colocou como meta de seu início de mandato buscar apoio político para conseguir mais prazo e mais espaço para renegociação das dívidas do hospital, que chegam a cerca de R$ 800 milhões.
Setúbal, acionista do banco Itaú e que assumiu a instituição há menos de um mês, avalia que, para conseguir manter as portas abertas, serão necessários ajustes no potencial de atendimento do hospital e em seu quadro de funcionários.
Fabrício Santana, administrador do hospital filantrópico Santa Marcelina,
referência da porção leste da cidade, com 300 mil atendimentos por ano apenas no pronto-socorro, diz que, todos os meses, fecha a conta com cerca de R$ 4 milhões de rombo.
"Não sei até quando iremos suportar e não há nenhuma perspectiva de melhoria dos repasses do SUS. O que recebemos dá conta de cerca de 40% das despesas que temos", afirma o gestor.
Dos 700 leitos da instituições, 87% são ocupados por pacientes do sistema público. Mas, de acordo com Santana, não será mais possível manter o percentual.
"Não conseguimos mais gerar recursos para manter o hospital com esse volume de pacientes SUS. A solução tem sido ampliar a participação dos planos de saúde. Não queremos parar de atender gratuitamente, mas estamos muito perto desse caminho", disse o administrador.
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Cartazes alertam pacientes sobre greve dos funcionários do Hospital São Paulo, na zona sul da cidade |
OUTRO LADO
Procurados pela reportagem, Ministério da Saúde e Secretaria da Saúde do Estado de São Paulo trocaram farpas sobre a situação dos três hospitais.
Em nota, o ministério relatou que "repasses federais para assistência hospitalar estão regulares".
Para o órgão, "há um investimento crescente na saúde pública por parte do governo federal, tendo São Paulo recebido incremento de 25% entre 2010 e 2014 para assistência hospitalar e ambulatorial.
O ministério informou que "o financiamento federal das unidades de saúde vai além da tabela SUS" e que, em 2014, dos R$ 14,8 bilhões repassados às instituições filantrópicas, 40% foram incentivo para além do valor de tabela.
"A discussão sobre o financiamento da Saúde por meio da tabela SUS está superada, e o reforço desse instrumento somente traz iniquidades no atendimento à saúde, pois incentiva um atendimento segmentado do paciente."
Já a Secretaria da Saúde informou que "repassa de forma voluntária recursos extras do tesouro estadual para os hospitais mencionados, e que não pertencem à pasta, com o objetivo de combater o subfinanciamento federal".
Segundo o órgão, o Hospital São Paulo, mesmo sendo federal, recebe R$ 56 milhões anuais dos cofres do Estado e o Santa Marcelina, R$ 43 milhões.
A pasta afirmou que a não atualização da tabela de procedimentos do ministério fez com que, somente em 2014, a União tenha deixado de mandar para São Paulo R$ 1,03 bilhão referentes ao extra-teto de internações, cirurgias e outros tratamentos de alta e média complexidades.
O caso da Santa Casa foi tratado pela secretaria estadual como "falhas graves de gestão" e que o governo de São Paulo repassou à entidade R$ 682 milhões desde 2011.
Os diretores ouvidos pela Folha informaram que os convênios complementares com a Secretaria da Saúde reforçam os caixas e amenizam a situação, mas estão defasados.
Eles também relataram à reportagem que há problemas de gestão a serem enfrentados tanto pelos próprios hospitais como pelo sistema de saúde.