Em dezembro de 2024, ações brasileiras representaram 4,21% dos portfólios dos fundos exclusivos, segundo a ComDinheiroNelogica
A B3 é a maior bolsa de valores da América Latina | Foto: Divulgação/B3
O pessimismo em torno do cenário doméstico, o risco de dominância fiscal e a chegada de Donald Trump à presidência dos Estados Unidos minaram o apetite a risco dos investidores ‘super-ricos’.
Dados da plataforma ComDinheiro-Nelogica, obtidos pelo EInvestidor, mostram que, em dezembro de 2024, a posição em ações brasileiras representou apenas 4,21% do portfólio dos fundos exclusivos de investimentos. Esses produtos são destinados aos investidores de grandes fortunas. Esse percentual é o menor desde dezembro de 2015, quando as alocações em ativos de Bolsa representavam cerca de 4,78%.
Nos anos de 2019, 2020 e 2021, a exposição em ações foi mais alta, alcançando 10,1%, 9,12% e 7%, respectivamente. Esse período coincidiu com o “boom” das Ofertas Públicas de Ações (IPOs) na bolsa de valores e com a queda dos juros. Isso aumentou a atratividade desses investimentos. Em contrapartida, os investimentos em renda fixa passaram a ter maior importância nas carteiras desses investidores.
Em 2024, cerca de 52,98% do capital dos fundos exclusivos estava posicionado em títulos públicos. Há quase 10 anos, esse percentual era de 51,84%. Além disso, observou-se um aumento relevante do fluxo de capital para debêntures. Elas passaram de uma alocação nula para representar 4,69% entre 2015 e 2024.
As mudanças no portfólio dos investidores, segundo gestoras de grandes fortunas consultadas pelo E-Investidor, buscam proteger o patrimônio do estresse dos mercados. O risco fiscal no Brasil tem sido a principal causa desse movimento.
Elas passaram de uma alocação nula para representar 4,69% entre 2015 e 2024. As mudanças no portfólio dos investidores, segundo gestoras de grandes fortunas consultadas pelo E-Investidor, buscam proteger o patrimônio do estresse dos mercados. O risco fiscal no Brasil tem sido a principal causa desse movimento.
Esse cuidado é justificado. Em dezembro de 2024, o Ibovespa, principal índice da B3, encerrou o ano com uma queda de 10%, aos 120,7 mil pontos. O dólar disparou no último trimestre e superou pela primeira vez a marca de R$ 6. Esse aumento ocorreu depois da apresentação do pacote de corte de gastos elaborado pela equipe econômica do governo Lula. O pacote frustrou as expectativas do mercado.
Os títulos do Tesouro Direto renovaram suas máximas históricas. Os títulos prefixados encerraram o ano com prêmios superiores a 15%. Já os indexados ao IPCA+ apresentaram rentabilidades próximas a 8% de ganho real. Dado o foco desses investidores na preservação de patrimônio, não havia espaço em suas carteiras para assumir riscos em períodos de incerteza.
Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) elevou a Selic para 13,25%
Na última quarta-feira, 29, o Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) elevou a Selic para 13,25%, o maior patamar desde setembro de 2023. A decisão veio em linha com as expectativas do mercado, e novos ajustes estão previstos para as próximas reuniões. A autoridade monetária informou, em ata da reunião divulgada na terça-feira 4, que considera apropriado um novo aumento de 1 ponto percentual na taxa de juros em março.
Se essa análise for seguida, a Selic pode subir de 13,25% para 14,25%. O mercado enxerga a possibilidade de novas altas, como aponta a equipe econômica do BTG Pactual. Ela acredita que a taxa de juros chegue a 15,25% até o fim do ano.
Esse nível seria o mais alto desde 2006. A EQI Research, por sua vez, tem uma visão ainda mais pessimista e projeta que a Selic possa atingir 16,25%. A taxa seria mantida até o fim de 2025, com uma queda gradual apenas em 2026 e 2027. A justificativa para essa projeção elevada está no crescimento da inflação, que encerrou 2024 com uma alta de 4,83% e deve terminar 2025 com 5,51%, segundo as estimativas do Boletim Focus.
No fim de semana, Trump anunciou novas tarifas de importação para produtos vindos da China, Canadá e México, com alíquotas de 10% e 25%, respectivamente. Essa ordem executiva gerou retaliações dos países afetados.
A China anunciou, na terça-feira, uma tarifa de até 15% sobre produtos norte-americanos em resposta à política de Trump. O Canadá e o México conseguiram suspender o decreto por um mês, depois das conversas com o presidente dos EUA. Em troca, Trump exigiu maior controle das fronteiras para conter o tráfico de drogas. Além da tensão global com a guerra comercial, as novas tarifas de importação – se implementadas – podem pressionar a inflação norte-americana. Isso exigiria uma política monetária mais restritiva nos próximos meses, o que prejudicaria o mercado brasileiro.
Juros elevados nos Estados Unidos tendem a direcionar o fluxo de capital para os títulos soberanos norte-americanos, deixando os mercados emergentes, como o Brasil, com menos atratividade para investidores estrangeiros. 2024 também foi o primeiro ano em que as mudanças tributárias sobre os fundos exclusivos de investimento começaram a valer. Em 2023, o Congresso aprovou um projeto de lei que implementou o regime come-cotas. Esse regime passa a cobrar o imposto de renda (IR) sobre a rentabilidade dos fundos duas vezes ao ano.
Antes dessa
mudança, o IR era cobrado no momento do resgate dos recursos e de
forma regressiva. A tributação diminuía conforme o tempo de
aplicação.
Yasmin Alencar Revista Oeste