sexta-feira, 8 de novembro de 2024

'O Retorno de Jedi', por Rodrigo Constantino

 

Donald Trump, eleito presidente dos Estados Unidos | Foto: Montagem Revista Oeste/Shutterstock


Estado e mais liberdade, que clamam pela volta do império das leis e do respeito à Constituição


A analogia com o clássico Star Wars é inevitável: primeiro, tivemos a Nova Esperança, em 2016, quando um magnata outsider venceu prometendo drenar o pântano em Washington; depois, tivemos O Império Contra-Ataca, já que certamente o establishment não largaria o osso facilmente; e agora temos então O Retorno de Jedi, com uma vitória acachapante de Donald Trump, apesar dos bilhões dos democratas e de uma imprensa totalmente militante e histérica.

Ele sofreu impeachment na Câmara por pretextos ridículos; ele foi indiciado por uma Justiça aparelhada pelos adversários; tentaram matá-lo duas vezes, mas ele sobreviveu milagrosamente; a imprensa o demonizou, comparando-o a Hitler; não obstante, Trump venceu e voltará à Casa Branca como o 47º presidente dos Estados Unidos. É preciso tirar as lições certas desse fenômeno.

Em primeiro lugar, sua adversária era muito fraca. Kamala Harris é uma espécie de Dilma americana, radical e cognitivamente limitada. Ela foi colocada lá pela elite democrata após o fiasco de Joe Biden no debate com Trump, expondo ao mundo sua senilidade que o partido tentou ocultar. Gerou uma empolgação inicial só porque o morto muito vivo saiu de cena, mas logo depois todos tiveram de lembrar quem ela era e por que ela saiu nas primárias logo no começo, antes mesmo de chegar a seu Estado, a Califórnia.

Kamala tentou, com a ajuda da mídia, criar uma personagem mais moderada, mas isso produziu apenas desconfiança com tantas guinadas abruptas em pautas sensíveis, como a imigração e a criminalidade. De “czar da fronteira” para aquela que queria até construir o muro de Trump, o público notou a marca registrada de sua campanha: a falsidade. Kamala chegou a “conversar” com um eleitor deixando a tela na câmera aparecer para derrubar a farsa. E o eleitor está saturado de político profissional moldado por marqueteiro arrogante e isolado da realidade. 

Esta, aliás, é a grande síntese da derrota democrata: o partido se descolou do mundo real, afastou-se do povo e de suas demandas concretas, como segurança, emprego e liberdade para transmitir seus valores morais e religiosos aos seus filhos, substituindo isso tudo por pautas insanas, como a agenda woke, a ideologia de gênero e o socialismo econômico. A campanha de Harris apostou pesado no aborto como tema central, atraindo algumas mulheres solteiras, mas perdendo feio para o homem médio trabalhador. Essa desconexão do partido com o povo ficou evidente nos números: Trump levou até no voto popular, com quase 5 milhões de votos a mais!

Na Flórida, houve uma guinada que consolidou o Estado como republicano e conservador. No condado de Miami-Dade, onde Hillary Clinton tinha vencido com 65% dos votos e Joe Biden com 55%, Kamala teve apenas 45% do total. A Flórida reelegeu a congressista Maria Elvira Salazar, que tem comprado a briga pela liberdade no Brasil contra o autoritarismo de Alexandre de Moraes, assim como o senador Rick Scott. Os temas de legalização de drogas e aborto perderam nos plebiscitos do Estado. Destino preferido dos imigrantes latino-americanos, a Flórida votou em peso em Trump e nas pautas conservadoras. Como unir isso ao discurso da imprensa de que Trump odeia imigrantes?

Chamar Trump de Hitler, pelo visto, não foi uma boa estratégia. Acusar metade do povo americano de ser racista ou lixo tampouco surtiu o efeito desejado. Na verdade, essa postura arrogante da elite explica boa parte do fenômeno do nacional-populismo de direita. É uma resposta a essa turma cheia de soberba que quer “empurrar a história” enquanto despreza o cidadão comum, visto como um Homer Simpson da vida.

A elite “progressista” deveria absorver com humildade essa derrota, que poderia servir para uma reflexão honesta sobre seus erros. Dificilmente, porém, isso vai acontecer, justamente pelo abismo criado entre esse pessoal e o povo. As celebridades de Hollywood vão continuar demonizando Trump, embora dificilmente deixem o país, como prometeram Robert De Niro, Lady Gaga e outros. Os professores marxistas vão seguir mentindo sobre a história e enaltecendo uma ideologia nefasta. Os globalistas vão continuar tramando uma forma de governar sem povo, de controlar tudo de cima para baixo, abrindo mão do Congresso e da soberania das nações.

O jogo é bruto e o embate está contratado. Mas a vitória de Trump enche de esperança aqueles que querem menos Estado e mais liberdade, que clamam pela volta do império das leis e do respeito à Constituição, e que abominam a loucura que tomou conta da gestão democrata. A vitória de Trump foi uma espécie de revolta dos normais. E há muito trabalho pela frente. A economia vai mal, com inflação alta e dívida em trajetória insustentável. A geopolítica está um caos, com guerras por todo lado. O mundo precisa, mais do que nunca, de alguém com o perfil de Trump. 

Impossível deixar de falar também de Elon Musk. Ele foi o grande vencedor nessa disputa. Mostrou-se mais poderoso do que George Soros, o especulador bilionário e principal doador da esquerda radical. Musk gastou mais de US$ 40 bilhões para libertar o passarinho azul do Twitter, e com uma plataforma livre fez toda a diferença. Mergulhou de cabeça e bolso na campanha republicana, e com isso atraiu mais gente, como Bill Ackman e o libertário Joe Rogan na reta final. Musk foi um herói sem capa, alguém que realmente lutou pelas liberdades ao perceber que elas estavam em grande perigo.

A radicalização dos democratas foi responsável por uma coalizão mais ampla no time de Trump. RFK Jr., com seu sobrenome Kennedy, declarou apoio a Trump para fazer a América saudável novamente. Tulsi Gabbard, militar que comandou o Diretório Nacional Democrata, decidiu apoiar Trump. Todas essas mudanças ocorreram justamente pela percepção de como os democratas perderam a mão e a conexão com o povo. O partido de Obama, Nancy Pelosi e Kamala Harris seria irreconhecível para JFK, um católico anticomunista defensor de menos impostos

A guerra está longe do fim, mas a vitória desta batalha foi crucial para os que amam as liberdades. A vida real não acaba no “The End” como os filmes, e o império globalista não vai simplesmente recolher os cacos, a viola e hibernar. A luta é contínua, eterna. Mas a América, o experimento mais livre da história, ainda respira. Seus pilares estão abalados, o esgarçamento do tecido social é um fato e a divisão é preocupante. Mas, como disse RFK Jr., precisamos amar nossos filhos mais do que nos odiamos.

Trump tem uma dura missão pela frente, além de resgatar a economia e a paz pelo mundo: unir o povo com o denominador comum que sempre atraiu republicanos e democratas moderados, que é o amor sincero pelo que a América representa. É preciso ser propositivo e otimista agora. Chega de tanta vitimização e de desprezo pelo legado americano. Vim morar na América por respeitar esse legado, e pela primeira vez votei como cidadão para preservá-lo. Que Trump e sua equipe consigam fazer a América grande e respeitada novamente!

 

 

Rodrigo Constantino, Revista Oeste